Sou cristo, tenho dvidas. E da? 4b434l

Os onze discpulos foram para a Galileia, para o monte que Jesus lhes indicara. Quando o viram, o adoraram; mas alguns duvidaram. Ento, Jesus aproximou-se deles e disse: 'Foi-me dada toda a autoridade nos cus e na terra. Portanto, vo e faam discpulos de todas as naes, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Esprito Santo, ensinando-os a obedecer a tudo o que eu lhes ordenei. E eu estarei sempre com vocs, at o fim dos tempos.'¹

Nessa agem, Mateus conta-nos que os onze discpulos foram a um lugar designado na Galileia para aquele que seria seu ltimo encontro com Jesus antes de Sua Ascenso. Depois do que acontecera em Jerusalm no dia da crucificao, no domingo de Pscoa e nas diversas ocasies em que o Cristo ressurreto lhes aparecera, as mentes dos apstolos estavam em tumulto. E agora eles deviam seguir a um chamado do Mestre para a Galileia. Chegando ao local indicado, eles O adoraram, "mas alguns duvidaram²".

Eles tinham ido Galileia; dvida no havia sido um impedimento. Surpreendentemente, naquele monte livrar-se de dvidas no tinha prioridade. Jesus no censurou os discpulos, mas tampouco tomou tempo para explicar-lhes o que quer que fosse. No se importou com a atualizao dos discpulos em termos de compreenso teolgica do que estava acontecendo. Nem considerou doutrinao. Ele os havia convocado para dar-lhes instrues. O que Jesus lhes disse ali no monte no os iluminou. Pelo contrrio, deve ter aumentado sua confuso momentnea. Mas, uma vez praticadas em obedincia e f, aquelas instrues revolucionaram as vidas dos discpulos, definiram seus ministrios, e mudaram o mundo. Do livro de Atos sabemos que Jesus no os abandonou com uma lista de instrues: equipou seus discpulos adequadamente. E no devido tempo o tempo de Deus o Evangelho foi propagado, o Reino cresceu, dvidas (ou sua importncia) evanesceram.

Talvez sejamos atormentados por dvidas. Surpreendentemente, e na contramo da nossa inclinao natural, ausncia de dvidas no parece ser uma prioridade no Reino de Deus. Duvidar faz parte da normalidade. G.K. Chesterton formulou do seu jeito bem humorado: Materialistas e loucos no tm dvidas.³ Que cristos tm dvidas foi a experincia de Arthur Schawlow (Prmio Nobel de Fsica, 1981): somos afortunados em termos a Bblia, e especialmente o Novo Testamento, que nos fala de Deus em termos humanos muito veis, embora tambm nos deixe algumas coisas difceis de entender.⁴ O telogo Samuel Rothenberg sugeriu que um crente sincero composto de muitas perguntas,⁵" e Paulo de Tarso enfatiza que ns agora sabemos muito pouco... e at a pregao mais inspirada ainda muito imperfeita.⁶

Por outro lado, obedincia e f so prioridades, e luz da nossa confiana no Senhor a dvida ir ajudar-nos a ouvir melhor. Quando processada corretamente, a dvida leva humildade com expectativa, pois a ltima tentativa da razo reconhecer que h uma infinidade de coisas que a ultraam. Revelar-se- fraca se no chegar a perceb-lo.⁷ (Blaise Pascal)

Assim como os discpulos estiveram no local que lhes fora designado por Jesus, tambm espera-se de ns que estejamos nos lugares designados por Ele. Ali adoraremos, apesar de eventuais dvidas. Ele tem reservado para ns instrues com potencial de mudar nossas vidas e revolucionar / (re)definir / (re)centrar o que fazemos. E, como vem acontecendo desde o primeiro sculo, o prprio Senhor nos garante Sua presena e nos equipa com o que precisamos. E as dvidas (ou sua importncia) evanescero.

Notas
(1) Mateus 28:16-20 (NVI).
(2) O sentido de duvidar aqui vacilar (mentalmente) em opinio; no se trata da incredulidade ctica de Tom (Joo 20).
(3) G.K. Chesterton Ortodoxia, Mundo Cristo, 2008.
(4) A. Schawlow - One must ask why and not just how, In: H. Margenau & R.A. Varghese - Cosmos, bios, theos. Open Court, 1992.
(5) S. Rothenberg Christsein heute und morgen. Christliche Verlagsanstalt Konstanz, 1981.
(6) 1. Corntios 13:9 (O Livro).
(7) Pascal, Os pensadores. Editora Abril Cultural, 1973.

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