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25 de julho de 2022
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A parbola do porco-espinho 61q1l

Por Rubem Amorese

Por razes que somente os sbios e antigos conhecem, a floresta desenvolveu um tipo peculiar de animal: o porco-espinho. Conta-se que originalmente ele no era assim, mas seus ancestrais haviam sido amaldioados com uma sina terrvel, como punio por um gravssimo erro cometido; e todos os seus descendentes aram a ter esse problema: a presena de espinhos, no corpo todo. O pior que esse problema contaminou todos os animais, de modo que, mesmo tendo sua individualidade, cada animal ou a ter um corao de porco-espinho.

ados muitos anos, encontramos o porco-espinho Jos vivendo na floresta. Jos sentia-se solitrio e triste. Sua solido advinha do fato de que no lhe eram possveis os abraos, porque produziam dor; a dor das espetadas. Ao abraar algum, ele no somente feria, como tambm era ferido. Ento, ele evitava e era evitado pelos outros. Os abraos no eram muito populares na floresta.

Mas preciso itir que essa condio tambm tinha sua utilidade; servia para afastar presenas indesejveis. Sim, Jos espetava (nem sempre com gentileza) quem se aproximasse demais. Havia at aqueles abnegados que se dispunham ao sacrifcio de abra-lo. Mas Jos nem sempre estava disposto ao sacrifcio. Nesse caso, espetava mais que o necessrio, de modo a desincentivar as tentativas de invaso do seu espao.

Quando voc est espetando algum para afast-lo, nem sempre est pensando na sua prpria solido. Normalmente, est evitando um desconforto imediato; est pensando apenas no seu bem-estar momentneo. Mas, com o tempo, comea a anelar pela proximidade, ou reclamar da solido, sem saber o que fazer. Em muitos casos, a situao se transforma num paradoxo, porque, ao tempo em que sonha com o abrao, voc espeta quem se aproxima.

Que terrvel condio! Ser porco-espinho e viver no meio de tantos bichos espinhosos. Quem poderia nos livrar dessa praga? Haveria algum que pudesse desfazer esse feitio que se espalhou por toda a floresta?

Certo dia, Jos ouviu falar de um animal diferente, na floresta. Ele no era um predador como o tigre-espinho, nem um paquiderme-espinho, que fala outra lngua e vive distante, cuidando de suas coisas. Era um animal pequeno dcil e gente-boa. Diziam que ele tinha uma l em volta do corpo que amenizava um pouco as espetadas dos espinhos, no caso de um abrao. E mais: mesmo que fosse ferido, ele no feria de volta; porque ele no havia sido contaminado. Era da paz e do abrao. Gostava de estar junto.

Animado, nosso Jos procurou por ele, esperanoso de t-lo como amigo; e assim, no sofreria mais de tristeza e solido. Logo descobriu que se tratava de uma famlia inteira de ovelhas-espinho. Esse, em especial, se chamava Cordeiro.

No sabendo onde ele morava, saiu pela floresta gritando: Cordeir! Seu Cordeiro!.

Voc no vai acreditar: o Cordeiro ouviu! Melhor, saiu ao encontro de Jos. Foi um encontro emocionante. Um dia eu conto essa parte. Mas dali surgiu uma linda amizade. Um relacionamento to profundo e prazeroso que a solido do Jos quase desapareceu. Sim, quase, porque ele ainda no tinha aprendido tudo o que o Cordeiro poderia lhe ensinar sobre como lidar com sua sina.

Com o desenvolvimento da intimidade, nosso amiguinho foi aprendendo sobre como evitar espetar os outros. Foi aprendendo sobre como sofrer de bom grado as espetadas provenientes dos afetos, das amizades, das proximidades. Foi aprendendo a conviver com seus semelhantes, do modo como convivia com o Cordeiro. Embora as coisas no tivessem mudado substancialmente (refiro-me aos espinhos), j era menos doloroso aquele abrao recebido (ou dado). De fato, ele havia aprendido a ar com resignao sua condio; e tambm que os abraos se tornavam menos dolorosos quando eram buscados e aceitos com um corao disposto. Doa menos.

Mas foi a essa altura que a notcia mais importante lhe foi dada pelo amigo Cordeiro. que este tinha poderes. Sim, poderes insuspeitos, at ento, de transformar um porco-espinho em... adivinha! Em porco-espinho-cordeiro! Que coisa! Como assim?

Verdade! Aprendeu sobre um longo processo de transformao. medida em que sua amizade com o Cordeiro se fortalecesse e aprofundasse, sua natureza iria sendo impregnada pela do Cordeiro, e os espinhos iriam, pouco a pouco, se transformando em espinhos-sem-ponta. Jos j havia notado que algo estava acontecendo com ele. Que as espetadas sofridas j no doam tanto; e que seus irmos j no reclamavam tanto das suas.

A notcia mais incrvel, entretanto, no era essa. Era que o Cordeiro podia transformar qualquer porco-espinho em seu irmo! Mesmo que ainda no tivesse perdido todas as pontas. E que, no final do processo, ele seria transformado, de uma vez por todas, num belo porco-espinho-cordeiro. To parecido com o Cordeiro que seria visto como seu irmo mais novo. E cada animal da floresta poderia, tambm, ter seus espinhos transformados, de modo a no mais espetar nem ser espetado.

J pensou? Nunca mais espetar nem ser espetado? J pensou quantos encontros e abraos? Nossa, isso ia ser o cu!

Nesse momento, o nosso amigo se deu conta de que isso seria o fim da maldio. S permaneceria espinhoso quem no quisesse amizade com o Cordeiro.

Ento, Jos correu para os seus parentes e lhes contou tudo o que lhe tinha acontecido. E muitos pediram para ser apresentados ao Cordeiro. E creram nele.

SAUDADES DA IGREJA COMO BOM E AGRADVEL QUANDO O POVO DE DEUS SE JUNTA | REVISTA ULTIMATO

Est claro para todos que a pandemia alterou muitos aspectos da sociedade. O impacto dessas mudanas chega s igrejas, denominaes e organizaes paraeclesisticas de diferentes maneiras. Retornar s reunies presenciais ser um desafio! Exigir esforo e nimo para vencer as dificuldades internas (dentro de ns) e as externas. Para muitas lideranas pastorais o contexto desanimador. H pastores emocionalmente esgotados. Liderar neste contexto complexo de mudana uma prova cheia de obstculos.

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Rubem Amorese

Rubem Amorese presbtero emrito na Igreja Presbiteriana do Planalto, em Braslia. Foi professor na Faculdade Teolgica Batista por vinte anos e consultor legislativo no Senado Federal. autor de, entre outros, Fbrica de Missionriose Ponto Final.Acompanhe seu blog pessoal: ultimato.com.br/sites/amorese.

Textos publicados: 38 [ver]
Site: http://www.amorese.com.br

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