Opinio 3pp3w
08 de julho de 2013
- Visualizaes: 4423
comente!
- +A
- -A
-
compartilhar
O prximo, o distante e o ignorado g392y
Somente Lucas conservou para ns esta parbola no seu Evangelho. Jesus, por sua vez, devolve a pergunta para que o letrado religioso pesquise a lei codificada, sua especialidade. Ele encontrar a resposta no amor. O religioso culto, citando de memria as Escrituras (Dt 6.5 e Lv 19.18), faz uma sntese do contedo dos 613 preceitos religiosos (cerca de 430 negativos: no fars) sobre como amar a Deus e ao prximo sob a lei deuteronmica, encontrada tambm no Thalmud e no Midrash (da palavra derash, procurar).
Comportamentos de conduta so conhecidos como halakah, um conjunto de preceitos gerais. Jesus, porm, responde de acordo com a Torah, o pentateuco os cinco primeiros livros, conforme a verso grega Septuaginta , como foi perguntado. Jesus aprova a resposta da tradio bblico-teolgica rabnica.
O letrado interroga novamente, porque no Levtico o prximo o israelita ascendente histrico do judeu , e no Deuteronmio, este ttulo est reservado unicamente para pessoas do meio cultural e religioso judaico. Jesus, em vez de discutir e entrar em desafios sem sadas, procura no semear novas teorias e interpretaes perante a lei antiga, e sua prtica. Prope uma parbola como exemplo vivo de quem o prximo, e constri um midrash, ou um sermo exemplar sobre os significados do amor.
Quando dizemos que a descrio do samaritano esplndida, nesta parbola de Jesus com referncias a posses materiais do samaritano bem-posto: azeite, vinho, cavalgadura, dinheiro para ajudar um pobre infortunado que encontra ferido e abandonado no caminho , nos aproximamos de questes bsicas. Bem-postos economicamente, religiosos, desprendimento, solidariedade da parte de quem prope esforo pessoal no socorro dos enfraquecidos, sob sistemas polticos e econmicos egostas e injustos, e disponibilidade para assistir despojados e violentados da sociedade humana em todos os tempos e lugares. O samaritano comivo e solidrio um homem rico. Um homem cheio de amor pelo prximo, seja ele quem for.
A histria humana caracterizada por uma interminvel sucesso de negaes do amor ao prximo, diz Bernhard Haring. Os resultados da intolerncia so feridas abertas, excluso e marginalizao, gerando o abandono e morte social dos mais pobres, feridos em sua dignidade (dignitatis = direitos fundamentais). S o amor transforma a justia codificada, que privilegia quem j privilegiado, em justia igualitria, comiva, situacional, concreta. Especialmente quando nos deparamos com emergncias e prioridades. Notadamente quando a vida humana est em perigo de morte.
O amor transforma a justia em verdade tica inquestionvel, porque a deciso tomada sob sua influncia , originalmente, gratuidade e a compaixo pelo fraco. Justia sem amor necessariamente injustia, porque o amor no remove, mas simplesmente estabelece a justia, disse Paul Tillich. A justia sem amor ignora a solidariedade, misericrdia ou compaixo.
O prximo jorra da mesma fonte, resultado da terra; filho da sociedade humana, e se relaciona com o mundo da mesma maneira que eu. o prximo, imagem e ddiva de Deus, ao mesmo tempo. Todos os valores relacionais ideais constituem ponto de partida anterior justia codificada. Dizem respeito vida de todos. O prximo nos comunica: sou um corpo concreto, e tu me conheces na materialidade compartilhada da vida. Cremos que a concretude da vida um fato que no deve ser esquecido, para que no caiamos em abstraes e redues do corpo do prximo. Diria Rubem Alves: o prximo, corporificado, vale mais que todas as verdades que anunciam sua pequenez; o corpo aguarda a conscincia de que somos iguais. O corpo mais sbio do que a cabea, o crebro.
Emmanuel Lvinas, pensador judeu moderno, diz: Deus vem ao meu pensamento quando vejo o outro, o prximo. Na face do outro est o rosto transcendente de Deus (cf. Mt 25.38). Tambm judeu, Martin Buber dizia: O outro (o prximo) no um isto, mas um tu. Tenho comentado sobre a relao Eu/Tu, equao amorosa criada por Buber, lembrando: Eu sou tu quando me olhas, e Tu sou eu quando te olho.
Muitos agnsticos, e at mesmo ateus, deparam-se com a parbola evanglica sobre a solidariedade amorosa apontada em Lucas (10.25-37), e reconhecem que no h futuro para a dignidade humana num mundo tomado pela impiedade, seno pela compaixo e solidariedade. Para os cristos, o evangelho oferece a oportunidade de compartilhar a experincia de Deus com o mundo do prximo, atravs da solidariedade, reconhecendo-o como o nosso Tu. Esta oportunidade, por si mesma, reflete o amor e a experincia de Deus. Num s momento.
A fora potente do amor energiza e d capacidade de lutar, de proteger, socorrer, vestir, alimentar e curar o prximo. Diz a cano de Carlinhos Lyra: Sabe voc o que o amor? No sabe? Eu sei./ Sabe gostar? Qual sabe nada, sabe, no./ Voc sabe o que uma flor? No sabe, eu sei. / Voc j chorou de dor? Pois eu chorei. / J chorei de mal de amor, j chorei de compaixo./ Quanto a voc meu camarada, qual o qu, no sabe no./ Voc no tem alegria, nunca fez uma cano, / Por isso a minha poesia voc no rouba no.
Agostinho, na antiguidade, confessava: O meu amor o meu peso; onde quer que eu v, ele me conduz e me faz inclinar. Esse peso citado por Jesus: Vinde a mim, todos os que esto cansados e sobrecarregados, e eu aliviarei vocs. Tomem sobre vocs a minha carga e aprendam, porque sou manso e humilde de corao; e acharo descanso. Porque o meu peso (amor) suave, e o meu fardo leve (Mt 11.28-30). Uma metfora magnfica da compaixo, da ternura, da solidariedade que nos une ao que sofre, na experincia de Deus em Jesus.
Leia mais
A motivao para a misso (Ren Padilla)
Evangelizao e responsabilidade social / Viva a simplicidade
Guia Pilares alimentao saudvel
pastor emrito da Igreja Presbiteriana Unida do Brasil e autor de livros como Pedagogia da Ganncia" (2013) e "O Drago que Habita em Ns (2010).
- Textos publicados: 94 [ver]
08 de julho de 2013
- Visualizaes: 4423
comente!
- +A
- -A
-
compartilhar
QUE BOM QUE VOC CHEGOU AT AQUI. 223i1k
Ultimato quer falar com voc.
A cada dia, mais de dez mil usurios navegam pelo Portal Ultimato. Leem e compartilham gratuitamente dezenas de blogs e hotsites, alm do acervo digital da revista Ultimato, centenas de estudos bblicos, devocionais dirias de autores como John Stott, Eugene Peterson, C. S. Lewis, entre outros, alm de artigos, notcias e servios que so atualizados diariamente nas diferentes plataformas e redes sociais.
PARA CONTINUAR, precisamos do seu apoio. Compartilhe conosco um cafezinho.

Leia mais em Opinio 2l1v6s

Opinio do leitor 1t5dh
Para comentar necessrio estar logado no site. Clique aqui para fazer o ou o seu cadastro.
Ainda no h comentrios sobre este texto. Seja o primeiro a comentar!
Escreva um artigo em resposta
Para escrever uma resposta necessrio estar cadastrado no site. Clique aqui para fazer o ou seu cadastro.
Ainda no h artigos publicados na seo "Palavra do leitor" em resposta a este texto.
Assuntos em ltimas 6ik57
- 500AnosReforma
- Aconteceu Comigo
- Aconteceu h...
- Agenda50anos
- Arte e Cultura
- Biografia e Histria
- Casamento e Famlia
- Cincia
- Devocionrio
- Espiritualidade
- Estudo Bblico
- Evangelizao e Misses
- tica e Comportamento
- Igreja e Liderana
- Igreja em ao
- Institucional
- Juventude
- Legado e Louvor
- Meio Ambiente
- Poltica e Sociedade
- Reportagem
- Resenha
- Sessenta +
- Srie Cincia e F Crist
- Teologia e Doutrina
- Testemunho
- Vida Crist
Revista Ultimato 5z423b
+ lidos 1s1q68
- A bno de ter avs e de ser avs
- Francisco, Samuel Escobar memria e honra
- Adolescncia: No preciso uma segunda temporada
- F, transformao social e incluso vida e obra de Jos de Souza Marques
- Os Jardins do den e a Sombra de Abel: uma jornada pela aposentadoria
- Abel e Zacarias: encontrando misso na aposentadoria avanada
- Paul Tournier e a Bblia
- Ser ou no ser me: eis a questo
- Filme Jesus traduzido para a 2.200 lngua, o Bouna
- Samuel Escobar: Sejam meus imitadores - fotografias de uma biografia