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18 de abril de 2013
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A enganosa paz da ortodoxia 6823c

ei por isso em uma recente visita ao castelo onde Lutero e Zwinglio se desentenderam sobre a ceia do Senhor. Na verdade, justia seja feita, parece que eles caminharam bem at certo ponto. Discutindo sobre quinze pontos de doutrina diferentes, construram consenso e acordo em quatorze. Mas foi no ltimo ponto, acerca do significado da presena real de Cristo nos elementos da ceia, que uma forte, spera e crucial diferena os fez caminhar em direes opostas. Hoje fcil caricaturar uma e outra posio, ainda mais por estarmos longe do tempo e dos contextos em que eles viviam. Tambm fato que construir entendimento sempre mais difcil quando no sei colocar-me no lugar do outro e entender porque sua posio lhe parece to fundamental em sua concepo de f.
Na tal visita perguntei a meu amigo alemo (lder ativo em uma posio estratgica de um ministrio que cruza as barreiras denominacionais) como vivem hoje os crentes na Alemanha luz daquela controvrsia do ado. Para minha surpresa, ele me disse que para muitos ela no era to importante assim. Disse tambm que lderes de igrejas consideradas luteranas no tm problemas em encorajar seus membros a servir em igrejas identificadas como reformadas, e vice-versa. Que isso frequente quando se mudam para uma cidade ou regio onde as igrejas da outra tradio so mais comuns. Claro, esse um contexto particular e nico, mas tambm desafiador, porque me recorda que em meu prprio contexto latino-americano muitas vezes diferenas doutrinrias menos importantes (claro, estou consciente que para muitos seria indevido cham-las de menos importantes) nos levam a desmedidas divergncias, faces e hostilidades.
Penso em possveis estratgias para que, pelo menos, nos entendamos mais. Talvez a maneira como abracemos a tal ortodoxia esteja um pouco desfocada. Lembro-me do que disse o saudoso Dr. Martyn Lloyd-Jones (o ex-mdico da realeza britnica que decidiu dedicar sua vida por completo pregao do evangelho). Ele poderia ser criticado por outras coisas, menos pelo seu zelo com a boa ortodoxia. Mas Lloyd-Jones tambm reconheceu seus limites: corremos o perigo de confiar na prpria f, ao invs de confiar em Cristo; de confiar na crena, ao invs de sermos verdadeiramente regenerados. Essa uma terrvel possibilidade1.
Muito desafiadora essa ideia de que minha f no deva supor que sua base segura seja uma correta construo mental. Ainda escutando o doutor: nada mais perigoso do que depender somente de uma crena correta, de um esprito fervoroso, e ento supor que, enquanto estivermos crendo nas coisas certas e formos zelosos, aguados e ativos acerca delas, necessariamente isso significar que somos crentes2. Ao depositar toda nossa confiana na doutrina correta, parece que estamos mais susceptveis ao que Lutero chamou de o mais secreto dos vcios, o orgulho3. Para ele, mesmo uma boa obra, por mais digna e honrosa que seja, nos leva ao orgulho se no confiamos somente na graa. Para ele, mesmo a confisso de nosso orgulho poderia nos enganar, quando nos orgulhamos por acusarmo-nos de orgulhosos. Engraado, no? Mas verdadeiro. E me leva a pensar que igual lgica se aplica ao orgulho da ortodoxia, essa que normalmente associo com o meu prprio grupo. Se me vanglorio de meu credo, em que exatamente estou confiando?
Haveria alguma esperana no fim do tnel, ou aps finais melanclicos de reunies cruciais nos castelos de nossa histria? Encontrei alguma, escutando h uns anos o testemunho de um irmo chins, Patrick Fung, ao falar dos incontveis cristos que morreram por causa de sua f, sem conclios para discutir sua f, sem ficar famosos, sem que algum tenha contado suas histrias. Sem nome, sem rosto, mas fiis at o fim. Sobre eles, em seu testemunho, esse irmo que autor do pequeno, mas bem interessante livro Live to be forgotten (Viva para ser esquecido), afirmou: Alguns dos obreiros mais importantes no Reino, de cara ao sculo 21, creio eu, sero as pessoas sem nome. Elas fazem a Cristo visvel, no a elas mesmas.
Penso que as palavras do irmo Fung nos oferecem um critrio simples, mas importante: se nossas discusses, formulaes e doutrinas fazem com que Cristo se torne mais visvel ou no. No viverei para fazer visvel a minha prpria ortodoxia, nessa paz enganosa e perigosa. Viverei, se a graa me permitir, para que Cristo seja o nico visvel. Ou como nos foi recomendado nas especiais prescries do mdico pregador, buscarei aprender que mais vale confiar em Cristo do que em minha prpria f.
Notas:
1. Martyn Lloyd-Jones, Estudos no Sermo do Monte, (So Jos dos Campos: Editora Fiel, 1984), 539.
2. Ibid., 540.
3. Paul Althaus, A Teologia de Martinho Lutero, (Canoas: Ed. ULBRA, 2008), 165.
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casado com Ruth e pai de Ana Jlia e Carolina. Integra o corpo pastoral da Igreja Metodista Livre da Sade, em So Paulo (SP), serve globalmente como secretrio adjunto para o engajamento com as Escrituras na IFES (International Fellowship of Evangelical Students) e tambm apoia a equipe da IFES Amrica Latina.
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