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Violncia contra a mulher: lanando olhares sobre a experincia das mulheres negras 4f3f4b
Por Valdenice Jos Raimundo
*Verso ampliada do artigo "Violncia, a experincia das mulheres negras", publicado naedio 376da revistaUltimato.
Este artigo tem como objetivo apresentar algumas reflexes sobre as diferentes facetas da violncia que tm perversamente impactado a vida das mulheres negras brasileiras. Privilegiaremos nessas ponderaes a violncia contra as mulheres negras, por entender que existem especificidades que precisam ser consideradas quando se fala sobre a experincia dessas mulheres. Estamos falando de um povo muito importante, mas que tem sido historicamente silenciado pela sociedade brasileira. Conduta essa, assumida tambm por muitas igrejas.

Trazer tona a experincia de opresso vivenciada pelas mulheres negras , inevitavelmente, falar sobre o racismo e o silncio de muitas igrejas sobre essa questo. vlido salientar que, quando as igrejas no falam sobre racismo, quando no entendem que responsabilidade delas denunci-lo, elas contribuem para a manuteno. Entendemos que o racismo uma face da violncia e, dada a sua condio de ser estrutural, produz outras violncias que so apropriadas e aprofundadas pela lgica capitalista. Para Guimares (2006), racismo a "disseminao no cotidiano de prticas que diminuem as oportunidades dos negros de competirem em condies de igualdade em quase todos os mbitos da vida social".1 Para Munanga e Gomes (2006), "na forma individual, o racismo se manifesta por meio de atos discriminatrios cometidos por indivduos".2
As prticas racistas e a violncia, no podem ser entendidas separadamente, pois articulam-se e materializam-se na vivncia concreta dessas mulheres. So assustadores os nmeros da violncia domstica e do feminicdio contra as mulheres negras. Os dados mostram que elas so as principais vtimas de abusos, como os indicados no Dossi sobre violncia e racismo: assdio e abuso na infncia, violncia sexual, trfico e explorao, violncia por parceiro ntimo, entre outras.3Essas informaes so evidenciadas a partir do Mapa da Violncia4, divulgado pela Faculdade Latino-Americana de Cincias Sociais (Flacso), de 2003 a 2013 a morte de mulheres brancas por violncia diminuiu 10%, mas a morte de mulheres negras aumentou 54% em todo o Pas. A chance de uma pessoa preta e parda, entre 15 e 29 anos, ser assassinado no Brasil de 147%.
A populao negra, e em particular, a mulher negra, esto entre os mais pobres. Isto se deve organizao socioeconmica e espacial do Brasil, que com sua base racista relegou-os a lugares de profunda pobreza. A pobreza no Brasil feminina e negra e isso precisa ser contestado.
Na contramo das determinaes engendradas pelo racismo, as mulheres negras lutam cotidianamente pela sua existncia e do seu povo, assim tornam-se politizadas e reclamam ao sistema respeito e dignidade. Entendemos que, sendo a igreja espao da prtica da justia, precisa comprometer-se com aqueles e aquelas que tm suas vidas subalternizadas e precisam lutar todo dia. Concordamos com Carneiro (2003) que o esforo dessas mulheres negras do ado e do presente (especialmente as primeiras) ecoam de tal forma a ultraarem as barreiras da excluso.5 Mas no tem que ser uma luta solitria. Aliados e aliadas so imprescindveis para a igualdade racial e social.
Para isso, faz-se necessrio que as igrejas possam analisar com que lentes (sociolgica e teolgica) esto olhando para a realidade da maioria da populao brasileira. A populao negra representa 51,8% da populao brasileira, sendo as mulheres negras 50,2 milhes. Entendemos que no podemos responsabilizar esse contingente populacional pela sua condio de empobrecimento, bem como no podemos realizar uma leitura bblica que os marginalize.
Precisamos atentar para dois pontos: a) para a realizao de uma leitura crtica das realidades socioeconmica, poltica e cultural do Brasil; preciso considerar o processo desigual e racista da formao social do Brasil. b) urgente indagar o porqu dos lderes eclesisticos no denunciarem, em seus sermes, o racismo, enquanto uma prtica que agride o projeto de Deus para a humanidade. Acreditamos que essas ausncias e negligncias tm historicamente contribudo para a reproduo de prticas racistas no interior das igrejas, bem como no tem permitido aes eficazes de combate.
Diante do exposto, acreditamos que no podemos fechar os nossos olhos, pois a realidade de opresso e desigualdade, aqui brevemente apresentada, no dialoga com o projeto libertrio de Deus. O povo negro, desde que foi raptado no continente africano, resiste para existir. A igreja precisa ser um espao de fortalecimento da luta do povo negro. Como disse James Cone em entrevista concedida a Ronilso Pacheco: Precisamos ver Deus atravs da luta do povo negro por justia e liberdade.6
Este pequeno artigo, certamente, no teve a pretenso de querer dar conta, nesse curto espao, da complexidade da temtica aqui proposta. Contudo, temos clareza de que enquanto igreja, precisamos nos posicionar a favor dos oprimidos e da luta por libertao. Se voc for neutro em situaes de injustia, voc ter escolhido ficar do lado do opressor. Desmond Tutu
1. GUIMARAES, A. S. Preconceito racial: modos, temas e tempos. So Paulo: Cortez, 2008.
2. MUNANGA, K. GOMES, N. L. O negro no Brasil de hoje. So Paulo: Global, 2006.
4. Atlas da Violncia 2015. Ipea/FBSP, 2015.
Valdenice Jos Raimundo doutora em servio social, professora da Universidade Catlica de Pernambuco, integrante da Pastoral Negra e facilitadora da Escola de F e Poltica Pastor Martin Luther King, da Igreja Batista em Coqueiral, Recife, PE. assessora do Coletivo Vozes Marias para as questes de gnero e raa.
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