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04 de junho de 2021
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Triste constatao, aviso e lamento 13295h

PorAgeu Heringer Lisboa¹

Colhe-se hoje, em grande parte do Ocidente, o niilismo semeado por filsofos e telogos da morte de Deus. Pretendendo libertar a humanidade do tirano csmico, matando o Grande Pai, acabaram acertando os pobres humanos. No havendo Deus, no existir no humano a dignidade e a glria da imago Dei. Seremos to somente fruto do acaso impessoal onde molculas se chocam ou se aglutinam. O efeito disto? Descartando-se Deus, descarta-se facilmente os humanos. No to fcil hoje a defesa do abortamento pelo simples desejo da mulher? O negacionismo do homem e da mulher como seres-de-relao-com-Deus aprofunda o mal-estar na civilizao ocidental.

Nessa cultura ps-crist, ps-moderna, ps-tudo, perde-se a sensatez, a esperana e a fecundidade. A afluncia material possibilita um epicurismo neoliberal estilo Las Vegas e BBB. At no campo religioso esse vrus se instalou. Viaja-se e muda-se de trabalho e residncia facilmente. Milhes de jovens e adultos residem s num casulo conectado ao mundo pela internet. Temor a compromissos e responsabilidades da conjugalidade e da pater-maternidade? Quantos vivem exausto a troca de parceiros/as? Orgulham-se de suas identidades fludas e relacionamentos flcidos. Sintoma de estranhamento de si e do outro. Ou imaturidade psicossexual e afetiva somada simples rebeldia contra o sistema patriarcal opressivo?

No Oriente, no Ocidente, no norte e sul do planeta, famlias tradicionais (constitudas a partir da conjugao do homem com a mulher) sobrevivem a milnios, com seus problemas, desafios, disfuncionalidades e benefcios. Cumprem indispensvel papel no recebimento, acolhimento e formao dos novos humanos, ligando-os cultura. Neste contexto no h como negar a contnua desvantagem das mulheres na relao de gneros, desde a Queda. O pecado gerou o machismo e o patriarcalismo que se naturalizaram em todas as culturas. Mas necessrio lembrar a orientao original, no den, da parceria conjugal fecundante do macho com a fmea, feitos imagem do Criador.

Elizabeth Roudinesco em A Famlia em Desordem (2002) relaciona as formas do poder poltico s formas do poder nas famlias. Se reis absolutistas impem seu desejo aos sditos, nas famlias o pater familiae atua com direito de vida e morte sobre a mulher e a prole. J em sistemas democrticos o poder do homem um pouco limitado e tende, lentamente, a ser compartilhado.

Hoje, tericos queer sobre questes de gnero propem a subverso de identidades (Butler). Vo muito alm da justa crtica contra a subjugao e violncia contra a mulher na histria. Promovem uma ciso do feminino/masculino. Uma questo tornada poltica e que alimenta debates acalorados dentro e fora de grupos feministas de distintos matizes. Lsbicas lideram a sigla LGBTTQI. O macho outrora poderoso se encontra encurralado.

Demograficamente, o pai ausente em grande nmero de casas correlaciona-se com crescente nmero de famlias monoparentais e visvel feminizao do universo familiar. Mulher sobrecarregada, menor renda, crianas crescendo sem referncias paternas e desprotegidas. Um alto nmero de divrcios, casamentos tardios e reduo do nmero de filhos j impactam as expectativas de vida de muitos pases. No caso europeu, surge o temor e ressentimento contra etnias mais prolferas que ganham espaos.

Lembrando Roudinesco, os sempre excludos da conjugalidade constituidora de famlias, homossexuais e transexuais conquistam, no Ocidente, direitos legais ao casamento e adoo de filhos. Em meio a contestaes de monta quanto preciso diagnstica que autoriza cirurgias de redesignao do sexo, elas se tornam rotineiras. Novas subjetividades e sujeitos sociais esto em construo trazendo o desafio de acomodao no campo jurdico e no conjunto das instituies sociais como escolas e igrejas. Constituies familiares distintas do modelo hegemnico heterossexual se multiplicam. Famlias heterossexuais podero ser, em breve, minoritrias em algumas localidades e igrejas europeias.

Constata-se uma acelerao no ritmo de mudanas nas culturas de todo o mundo dada a interconexo pela web. Isso as expem a novidades e demandas antes impensveis. Instituies religiosas no esto blindadas, mas igualmente impactadas e desafiadas. Neste contexto, cristos esto convocados a pensar e operar com categorias bblicas, do Reino de Cristo, reafirmando o evangelho eterno e suas prescries sobre a vida familiar. Estejamos atentos ao rogo do apstolo Paulo para que no nos deixemos ser moldados pelo esprito deste sculo (Rm 12.1, 2).

Nota
1.Ressonncia ao texto Tendncia esterilidade, de Enzo Bianchi.

Ageu Heringer Lisboa, psiclogo clnico de adultos e famlia; mestre em cincias da religio; membro fundador do Corpo de Psiclogos e Psiquiatras Cristos (PC) e da Associao Brasileira de Assessoramento e Pastoral da Famlia (EIRENE).

>> Conhea o livro Sexo: Espiritualidade, Instinto e Cultura, de Ageu Heringer Lisboa

A cultura e os novos desafios dos evanglicos

+Casamento e Famlia +tica e Comportamento +Poltica e Sociedade

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