Sola Msica 4o3d

Por Fernando S. Breder(inspirado em Keyla Esperidon)

Na comemorao dos 500 anos da Reforma Protestante, fomos relembrados a todo momento dos grandes pilares deste movimento, conhecidos como os 5 "Solas". E como Reforma Protestante e Msica andam de mos dadas, pretendemos refletir sobre estes cinco princpios fundamentais da Reforma, associados msica e adorao.

Sola Scriptura (Somente a Escritura): O que cantamos precisa estar embasado biblicamente.

Solus Christus (Somente Cristo): O que cantamos precisa ser Cristocntrico. Cristo o motivo do que fazemos e no a msica em si. Esta funcional: tem uma finalidade litrgica na vida do cristo e nos cultos.

Sola Fide (Somente a F): O que cantamos precisa refletir a nossa vida de f. Lembramos que o principal requisito para agradar a Deus a f, pela qual somos salvos. No a msica que nos salva ou que mais agrada a Deus e sim, uma vida de f e pureza.

Sola Gratia (Somente a Graa): O que cantamos e os nossos dons musicais so graas do Senhor. Precisamos demonstrar nossa humildade e lembrar que no somos melhores por estarmos na frente de uma igreja, tocando ou cantando.

Soli Deo Gloria (Glria somente a Deus): O que cantamos precisa ter como finalidade principal a glorificao de Deus. S Ele merece toda honra e todo louvor.

Tendo visto estes cinco pontos, propomos algumas perguntas: O que estamos cantando? Para quem estamos cantando? O que nos motiva a cantar ou tocar? Qual a qualidade de nossa msica, aps 500 anos de Reforma? Temos tido uma vida piedosa e humilde, que reflete aquilo que cantamos ou tocamos? Temos glorificado a Deus com a nossa msica e principalmente com nossa vida?

Conforme est escrito no livro HCC - Notas Histricas, compilado por Edith B. Mulholland, Martinho Lutero defendia que j que todos tinham o a Deus, todos deviam louv-lo atravs da msica. Ele, ento, introduziu o conceito de canto congregacional. Lutero empregou muitos hinos e salmos existentes, adaptou msica das missas para que expressasse a f bblica. Aproveitou melodias do folclore do seu povo com requisito que fossem apropriadas para cultuar a Deus e que no tivessem associados com letras lascivas. Ele disse: "No deixarei para o diabo as melhores melodias". Alm disso, cuidou para que as msicas fossem cantadas no vernculo, na lngua original do povo, entregando assim a verdade bem no corao do povo comum. Interessante observao ele fez a respeito do uso de letras para o canto: "Desejo que expresses 'da moda e da Corte' sejam evitadas e que as palavras possam todas ser muito simples e comuns para que o povo comum possa compreender a mensagem, entretanto manejadas com arte e pureza". O que pensaria Lutero se escutasse hoje, o nosso "fragoso alcantil" ou as "vagas procelosas", ou quem sabe um cntico que s possui uma nica palavra, como "Jesus"? Lutero havia dado mais do que nenhum outro jamais dera ao seu povo - a lngua, a Bblia e a hinologia.

E o que estamos fazendo com este legado que recebemos? Creio que precisamos rever alguns conceitos e buscar sabedoria e exemplo nestes grandes reformadores e outras pessoas que fizeram a diferena no mundo musical, tornando suas canes eternizadas pelo tempo.

Porm, Sola Musica no suficiente para Deus. Devemos ador-lo, e isto muito mais do que a msica na igreja. Seria um erro pensar que a adorao se resume msica, harmonia e vozes afinadas. A adorao um estilo de vida, que nos leva a enxergar as necessidades de nossos irmos, sofrermos por e com eles, ter compaixo pelos perdidos, alcanando-os, e vivendo de modo digno da Escritura, seja na sociedade ou dentro de nossos templos.

Citando as palavras do hino "Senhor, que o nosso templo?", presente no Hinrio para o Culto Cristo: "Que valem nossas vozes se falta a humildade? Que valem as palavras, discursos, orao... credos, simbolismo, os salmos, os louvores, ofertas e sermo, se existe entre os teus filhos um to profundo abismo que priva as nossas almas de terna comunho?".

Portanto, adorar a Deus vai muito alm do que uma simples msica, por mais rebuscada e artstica que seja. Apropriarmo-nos do latim, Sola Musica, na igreja no o suficiente, e sim, Sola Adorao, que pode e deve ser feita tambm por meio da msica!

Fernando S. Breder, msico e Regente Coral pela UFRJ