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Quem tem ouvidos para ouvir, oua 496z5b

Por Gabriele Greggersen

A parbola um gnero literrio que se encontra entre os textos orais narrativos. Trata-se de uma narrativa que tem um sentido moral, mas que assume uma funo inversa que normalmente atribumos s histrias narradas, que a de ar algum ensinamento que se deve entender quase que obrigatoriamente. No caso das fbulas, por exemplo, a moral da histria j vem pronta para consumo no final da histria. J a parbola faz o contrrio: ela serve para ocultar: Por essa razo eu lhes falo por parbolas: Porque vendo, eles no vem e, ouvindo, no ouvem nem entendem (Mateus 13.13).

Note a relao de causa e efeito: Jesus no a causa do ensino por parbolas, mas a nossa cegueira e surdez, ou seja, a dureza da nossa percepo e, consequentemente, do nosso corao. Mas porque dar ao que tem e tirar do que no tem, como se diz no versculo imediatamente anterior? (A quem tem ser dado, e este ter em grande quantidade. De quem no tem, at o que tem lhe ser tirado.- Mateus 13.12). Por que isso? Jesus no era um grande mestre? E o mestre no revela ao invs de ocultar?

Para entendermos o pulo do gato do uso de parbolas, temos que entender a frmula que Jesus usava no final das suas narrativas: Quem tem ouvidos para ouvir, oua. Tudo gira em torno da nossa habilidade pessoal de ouvir e ver, mas principalmente, de ouvir. A questo toda saber se temos os ouvidos certos. Jesus no ensinava usando essa metodologia, porque Ele quis que fosse assim, ou tinha e inteno de ocultar alguma coisa, mas para se colocar no nosso nvel e nos desafiar, dentro do nosso limite.

Assim, a parbola cumpre duas funes: Primeiro, ela serve para comunicar numa linguagem simples e econtextualizada, como quem distingue o que dar de comer a uma criana pelo desenvolvimento de seus dentes. Dificilmente uma pessoa em s conscincia vai ter a ideia de oferecer um churrasco a um beb de colo. Primeiro que ele no vai poder mastig-lo e, segundo, que ele no vai conseguir apreciar esse tipo de comida em sua tenra idade, preferindo a papinha que, por sua vez, seria sem graa para um indivduo adulto.

como lemos nos provrbios: tudo tem seu tempo. E isso muito pessoal: cada pessoa tem um ritmo particular e o momento certo do insight. Ela pode no entender a parbola naquele instante, mas anos mais tarde, e depois de ter ado por vrias experincias, pode se lembrar dela e entend-la.

Eu por exemplo, no compreendi muito bem o sentido de O Leo, a Feiticeira e o Guarda-roupa quando vi o desenho animado na infncia, mas me encantei e sempre me emocionava com a histria E, anos mais tarde, ela viria a se tornar a porta aberta a qual ningum pode fechar (Ap. 3.8) da minha vida. Ento, contar parbolas era, sim, um tipo de teste a que Jesus submetia os seus interlocutores, mas cuja inteno no era armar um tribunal de jri, mas adequar-se em seu dilogo, coisa que ele, que era um grande comunicador, fazia o tempo todo. Ajustar a linguagem ao seu pblico era uma das coisas que Jesus mais fazia. E como o seu pblico sempre foi heterogneo, ele optou por usar a linguagem universal e simples das parbolas para se comunicar com o povo todo, os que tinham e os que no tinham ouvidos.

Em segundo lugar, as parbolas tm um sentido altamente educativo e pedaggico. Elas ocultam para revelar. Explico: elas tm o efeito que grandes psicanalistas como Freud e Bruno Bettelheim atriburam aos sonhos e aos contos de fada, que o de permitir que a pessoa se aproxime mais de seus problemas, e consiga lidar com eles, atravs do afastamento.

Ou seja, o sonho, a parbola e o conto de fadas (ou mito) tm a capacidade de causar um impacto inicial na pessoa pelo estranhamento do absurdo, de situaes inesperadas ou inusitadas e, no caso dos conto de fada e mitos, personagens fantsticos. Mas esse estranhamento, que permite quase que uma ascenso da alma da pessoa para longe da realidade imediata do aqui e agora, magicamente faz com que ela se enxergue como se fosse outra pessoa ao lado dela mesma e e a olhar para si mesma como que de fora. como o que ocorre na experincia daqueles que aram pela quase-morte, de sada do corpo. O fato que, enquanto se est no corpo, tudo se apresenta de forma misturada e mesclada e nada parece fazer sentido e tudo parece assustar, de modo que a pessoa reaja e e a se fechar para a situao (e consequentemente tambm para a sua soluo). J quando ela se v transportada para uma histria encantadora, como os contos de fada dizem as pesquisas de Bettelheim com crianas com deficincia mental , elas se tornam capazes de encarar o seu problema e achar solues para os personagens das histrias com os quais se identificaram e assim, para si mesmas.

No entanto os adultos vivem desconfiados de histrias que envolvam fadas, gnomos e feiticeiras porque acham, equivocadamente, que as crianas no so capazes de perceb-los como invenes do inconsciente coletivo.

Fico me perguntando qual teria sido a reao desses pais e educadores diante das parbolas de Jesus em sua poca. Certamente tambm as condenariam por serem fantasiosas demais e por envolverem a grande vil: a imaginao.

Sem entrar nesse assunto que venho investigando por toda a minha vida acadmica, basta dizer que a imaginao um rgo humano como a razo, e que no boa nem m em si mesma e, como tudo da vida, pode ser usada para ambas finalidades. E que se voc pai, me, educador e educadora no ensinarem aos seus filhos e alunos a us-la para o bem, no pela sua represso, mas pelo uso consciente e natural dela, certamente eles vo us-la para o mal.

A parbola um recurso maravilhoso, inventado pelo mestre dos mestres para usar a imaginao para o bem e se valer de todo o seu poder para a formao tica da pessoa humana.

Quem tem ouvidos para ouvir, oua.

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Para quem gosta de histrias

Imagem: Kroly Ferenczy, Sermon of de Mountain (1896)
ɠmestre e doutora em educao (USP) e doutora em estudos da traduo (UFSC). autora de O Senhor dos Anis: da fantasia tica e tradutora de Um Ano com C.S. Lewis e Deus em Questo. Costuma se identificar como missionria no mundo acadmico. criadora e editora do site www.cslewis.com.br
  • Textos publicados: 68 [ver]

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