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24 de maio de 2013
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Corrupo: aspectos sociais, bblicos e teolgicos 4r4g67

Existe, verdade, essa cultura do jeitinho, da malandragem como parte da maneira de ser brasileiro, quase que uma exaltao dessa habilidade da nossa gente de encontrar formas criativas para resolver problemas. A corrupo, como ela se manifesta em nosso pas, entra tambm por meio dessa validao cultural e quase que institucionaliza a sua prtica.
Com o desenvolvimento econmico do pas, a indignao contra a corrupo, de alguma forma, se dilui. Alexandro Salas, diretor para as Amricas da Transparncia Internacional, diz o seguinte:
"Quando um pas comea a ter uma economia mais slida, mais fcil ver um cidado comum perdoando atos corruptos, porque ele no faz um vnculo direto de como a corrupo o afeta. Se agora ele tem um bom trabalho, um carro e se o ministro rouba, ele fica irritado, claro, mas acha que isso no o atinge diretamente."
No ranking de Percepo da Corrupo da ONG em 2012, o Brasil ocupou a 69 posio, entre 176 pases. J no que lista o grau de proprinas pagas, o pas ficou no 14 lugar - foram 28 pases analisados.
O Promotor de Justia, Jairo da Cruz Moreira, aponta os dez atos de corrupo mais presente no dia-a-dia do cidado comum:
- No dar nota fiscal;
- No declarar Imposto de Renda;
- Tentar subornar o guarda para evitar multas;
- Falsificar carteirinha de estudante;
- Dar/aceitar troco errado;
- Roubar de TV a cabo;
- Furar fila;
- Comprar produtos falsificados;
- No trabalho, bater ponto pelo colega;
- Falsificar s.
"Aceitar essas pequenas corrupes legitima aceitar grandes corrupes", afirma o promotor. "Seguindo esse raciocnio, seria algo como um menino que hoje no v problema em colar na prova ser mais propenso a, mais para frente, subornar um guarda sem achar que isso corrupo."
Em seu livro Dando um Jeito no Jeitinho, Loureno Stelio Rega apresenta o que ele chama de ciclo vicioso da corrupo que se inicia no descaso das autoridades que leva o povo a sentir-se no direito de transgredir a norma e, por conseguinte, dar um jeito, pagando suborno para no ser punido. O pagamento de suborno a uma autoridade pblica reestimula a corrupo, gerando impunidade e fechando, assim, o crculo.
O antroplogo Roberto DaMatta defende que essa prtica sistmica uma forte razo pela qual o brasileiro complacente com a corrupo na poltica, por exemplo. Nas palavras dele, uma sociedade de rabo preso no pode ser uma sociedade de protesto.
O ex-secretrio geral das Naes Unidas (ONU), Kofi Annan, certa vez disse:
A corrupo uma praga insidiosa que tem um largo espectro de efeitos corrosivos nas sociedades. Ela sabota a democracia e o texto da lei, leva a violaes dos direitos humanos, distorce os mercados, corri a qualidade de vida e facilita o crime organizado, terrorismo e outras ameaas ao florescimento da segurana da humanidade. A corrupo fere o pobre desproporcionalmente atravs dos desvios de fundos que deveriam ir para o desenvolvimento, compromete a habilidade do governo em prover servios bsicos, alimenta a desigualdade e a injustia, alm de desencorajar a ajuda e o investimento externo. Corrupo o elemento chave no mau desempenho das economias e o principal obstculo ao desenvolvimento e ao combate pobreza.
Chico Buarque homenageia o malandro s avessas, aquele que tem famlia, que trabalha, que deixou a criminalidade. Penso que essa poesia retrata bem a mudana na maneira de enxergar a questo da corrupo no contexto brasileiro, apontando que h algo problemtico com essa tica do jeitinho.
Homenagem ao Malandro (Chico Buarque)
Eu fui fazer um samba em homenagem
nata da malandragem, que conheo de outros carnavais.
Eu fui Lapa e perdi a viagem,
que aquela tal malandragem no existe mais.
Agora j no normal, o que d de malandro
regular profissional, malandro com o aparato de malandro oficial,
malandro candidato a malandro federal,
malandro com retrato na coluna social;
malandro com contrato, com gravata e capital, que nunca se d mal.
Mas o malandro para valer, no espalha,
aposentou a navalha, tem mulher e filho e tralha e tal.
Dizem as ms lnguas que ele at trabalha,
Mora l longe chacoalha, no trem da central.
De que corrupo ns estamos falando?
A Bblia trata do tema da corrupo da raa humana e do plano redentor de Deus, do Gnesis ao Apocalipse; a corrupo lato sensu (o pecado, de uma forma geral), que se desdobra em corrupes strito sensu (manifestaes especficas da rebelio humana). Nosso foco na corrupo como ferramenta de opresso econmica, afronta ao pobre; a negao do o do outro aos direitos bsicos pela malversao de dinheiro pblico, pagamentos de propinas, superfaturamentos, etc
Bryan R. Evans, da ONG Tearfund, em sua livro O custo da corrupo, circunscreve o entendimento de corrupo fraude, apropriao indbita e suborno que podem ocorrer atravs do abuso de poder, formao de cartel ou negcios escusos/nebulosos. Alm disso, ele categoriza a corrupo em trs tipos: a incidental, a sistemtica e a sistmica. O fato que corrupo andar sempre de mos dadas com a pobreza e, por esse motivo, ela uma questo de ordem moral e de direitos humanos.
Vejamos alguns efeitos prticos da corrupo: o alto custo do o aos servios de sade e educao; padres de sade e segurana pblicas precrias, riscos ambientais, violao dos direitos humanos, precariedade do o justia. Alm das mulheres e das crianas, os portadores de deficincia, pessoas com vrus HIV, idosos e os refugiados esto entre os que mais sofrem as consequncias da corrupo.
O que a Bblia tem a dizer sobre o assunto?
Ao refletirmos nas Escrituras, o que se espera que seja a prxis da igreja de Cristo? E criou Deus o homem Sua imagem: imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou (Gn 1.27). E viu Deus tudo quanto tinha feito, e eis que era muito bom; e foi a tarde e a manh, o dia sexto (Gn 1.31).
A desobedincia da criatura humana abre as portas para toda a cultura de violncia e morte que vai descaracterizar a imagem de Deus no homem. A terra, porm, estava corrompida diante de Deus, e cheia de violncia. Viu Deus a terra, e eis que estava corrompida; porque toda a carne havia corrompido o seu caminho sobre a terra (Gn 6.11-12).
A corrupo, como a conhecemos, talvez a violncia em sua forma mais cruel. No possvel dissociarmos a ideia de corrupo daquilo que entendemos como violncia contra a dignidade humana, seja pela promoo da precarizao dos servios pblicos, pela facilitao do crime ou pelo incentivo ao aumento da misria.
A corrupo aflige a terra desde a Queda. No surpresa, portanto, que muitos a vejam como algo normal, inevitvel; um mal necessrio na conduo dos negcios e a forma como o rico e o poderoso levam sempre vantagem sobre o pobre e o fraco. Porm as Escrituras deixam claro que a corrupo uma injustia e, mais do que isso, elas requerem um posicionamento contra a corrupo.
O relato de corrupo, propina ou suborno mais conhecido da histria est na Bblia. Foram as 30 moedas de prata dadas pelos sacerdotes judeus a Judas Iscariotes para que ele os levassem at o Jardim do Getsemani, onde Jesus e os discpulos avam a noite. L Judas mostrou a eles atravs do beijo da traio quem era Jesus. Judas era ganancioso e o dinheiro significava para ele, muito mais do que lealdade ou amor. Ele foi motivado por ganncia e ganho pessoal. Quando ele se deu conta do mal feito e das consequncias da sua traio, jogou as moedas no ptio do templo e cometeu suicdio (Mt 26 e 27; Mc 14; Lc 22).
Corrupo em forma de propina ou suborno condenada ao longo de toda a Escritura Sagrada. Samuel foi o primeiro dos profetas do Antigo Testamento e um grande lder em Israel. Porm, mais tarde em sua vida, em sua casa, ele acusou os seus filhos de no andarem em seus caminhos. Foram avarentos, aceitaram subornos, torceram a lei (1 Sm 8.3). A distoro da justia uma das piores consequncias do suborno porque permite que o rico explore o pobre. Na despedida que Samuel fez junto ao seu povo na coroao do rei Saul, ele perguntou: diga-me de quem recebi suborno e com ele encobri meus olhos, e eu vo-lo restituirei">Vitria sobre a corrupo
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