Precisamos de novos lderes: Resposta ao clamor do sculo 21 5c5o3e

Parte da liderana saber quando seguir. preciso saber quando dar agem

Por Tim Tucker

Muito se fala, escreve e ensina sobre liderana, mas a carncia de excelncia na liderana evidente. Se buscamos uma gerao de lderes como Cristo em nossas igrejas e na sociedade, precisamos abandonar a perspectiva secular de liderana e resgatar o modelo apresentado por Jesus. Nossa prioridade sermos embaixadores de Cristo (2Co 5.20) num mundo que est clamando: precisamos de novos lderes!

Se nosso desejo desconstruir os paradigmas de liderana do sculo 21 e reconstruir uma perspectiva de liderana centrada nas prioridades bblicas em cada igreja e setor, necessrio que ocorram cinco mudanas de paradigma.¹

Seguidores em primeiro lugar
Para sermos lderes como Cristo, nossa identidade principal no a de lder, mas de seguidor. Grandes lderes cristos so grandes seguidores.

Depois de lavar os ps dos seus discpulos, Jesus nos ensina: Eu lhes dei o exemplo, para que vocs faam como lhes fiz (Jo 13.15). Suas palavras no significam que, literalmente, devemos encher baldes de gua para lavar os ps dos nossos companheiros de trabalho! Jesus d o exemplo de humildade ao lavar os ps encardidos de seus discpulos perplexos.² Em outra ocasio, Jesus fala sobre a natureza antagnica de um lder do reino:
"Jesus os chamou e disse: Vocs sabem que os governantes das naes as dominam, e as pessoas importantes exercem poder sobre elas. No ser assim entre vocs. Pelo contrrio, quem quiser tornar-se importante entre vocs dever ser servo, e quem quiser ser o primeiro dever ser escravo; como o Filho do homem, que no veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos (Mt 20.25-28).

Aqui, Jesus est desconstruindo o estilo de liderana contemporneo e revelando, atravs do seu prprio exemplo, um modelo contracultural. Como escreveu o pastor e telogo alemo Dietrich Bonhoeffer: O chamado ao discipulado no revela outro contedo que no seja o prprio Jesus Cristo, a ligao, a comunho com ele. Porm, a existncia do discpulo no consiste na venerao entusistica de um bom Mestre, mas sim na obedincia ao Filho de Deus.³

Proponho que nos concentremos mais em sermos excelentes seguidores, e no em sermos lderes. Nossa eficcia como lderes ser diretamente proporcional ao fato de sermos seguidores do lder-mestre, Jesus Cristo, guiados pelo Esprito.⁴

Podemos ver a personificao desse princpio no apstolo Paulo, que exortou a igreja de Corinto dizendo: Tornem-se meus imitadores, como eu o sou de Cristo (1Co 11.1). inquestionvel que Paulo tenha sido o maior lder cristo de todos os tempos porque foi o mais notvel seguidor [de Cristo] da histria crist. Como conclui Afrika Mhlophe: Um lder cristo eficaz algum que imita publicamente a vida de Jesus.⁵

Carter vem antes de carisma, competncia e credenciais
Bono, o principal vocalista do U2, entende sobre sucesso. Sua banda vendeu 175 milhes de discos em todo o mundo ao longo de cinco dcadas. Em sua autobiografia, Surrender, Bono adverte: O sucesso deve vir acompanhado de um alerta de sade para os workaholics e para os que os cercam.⁶ O perigo do sucesso que ele pode corromper o carter e levar a concesses que colocam em risco nosso testemunho como seguidores de Cristo.⁷

A quantidade de lderes sem carter cresce de forma desenfreada no mundo de hoje, tanto fora como dentro da igreja. Um mundo cada vez mais conectado, associado crescente popularidade do entretenimento estilo reality-show, tem promovido uma cultura de culto celebridade. Lamentavelmente, essa cultura em que lderes conquistam seguidores atravs do seu perfil pblico, sem responder por suas vidas privadas, infiltrou-se na igreja.⁸

Eu creio que o carter continua sendo a principal prioridade para os lderes:
Carter vem antes de carisma: o carisma pode conquistar seguidores, mas, sem carter, as pessoas podem ser prejudicadas por lderes que buscam suas prprias ambies egostas.

Carter vem antes de competncia: os lderes devem procurar crescer em mltiplas reas de competncia; mas a competncia sem carter pode levar ao orgulho, a mais destrutiva influncia sobre um lder.

Carter vem antes de credenciais: qualificaes e ttulos podem significar credibilidade, mas permanecem em segundo plano em relao ao carter do lder, que deve ser prioritariamente como o de Cristo, que depende de Deus, e no de suas credenciais.⁹
Gosto da forma como Yaw Perbi e Sam Ngugi expem o que isso significa na prtica: Chegou a hora de ser total e inquestionavelmente fidedigno, responsvel, confivel e honesto com o tempo, os recursos e as responsabilidades. A integridade transformar os nossos ministrios, as nossas sociedades e acelerar o evangelho entre as naes.¹⁰

Perseverana sim, plataforma no
Francis Chan, recentemente, abriu uma conferncia dizendo: Este um lugar muito perigoso para se estar [] verdade, eu me refiro ao palco. Ele afirma que pisar no palco sempre como tomar um pouco de veneno.¹¹

Ele tem razo! Nada pode colocar o carter em maior perigo do que a adulao de fs. No importa se num palco diante de milhares de pessoas ou numa plataforma de mdia social onde podemos influenciar milhes. Pode ser txico, viciante e perigoso. Se nos concentrarmos na plataforma, pouco provvel que perseveremos como lderes cristos. Como lder cristo, o desafio reconhecer que Jesus a atrao principal, e no voc.¹²

Os lderes centrados em Cristo no devem concentrar-se na popularidade e na aclamao do mundo, mas na perseverana fiel em todos os momentos da vida. Jesus exemplo dessa fidelidade quando, no jardim do Getsmani, pediu a Deus que removesse o fardo da cruz, mas ainda teve f para dizer: No seja feita a minha vontade, mas a tua (Lc 22.42). A submisso a Deus essencial para nos tornarmos lderes fiis e perseverantes. Jesus olhou alm da dor e do sofrimento, concentrando-se no prmio: nossa salvao e restaurao a Deus.¹³

Plataformas vm e vo, a popularidade aumenta e diminui, mas a obra do Senhor permanece.¹⁴ O desafio : seremos perseverantes e fiis quando ningum estiver olhando? Poderemos afirmar como Paulo: Combati o bom combate, terminei a corrida, guardei a f (2Tm 4.7)?

Interdependncia sim, independncia no
Durante um safari numa reserva de caa nos arredores de Nairobi, meus amigos quenianos avistaram um bfalo solitrio e me alertaram do perigo. Mais tarde, li que os bfalos solitrios tm mais probabilidade de atacar os caadores do que recuar, pois no contam com a segurana do rebanho.

O lder solitrio que luta sozinho por sua causa um mito. Na realidade, um lder solitrio um lder perigoso. A independncia no uma virtude a ser cobiada. Os lderes que so como Cristo devem ser responsveis, transparentes e interdependentes. Se liderarmos do alto de uma torre de marfim, seremos um risco para ns mesmos, para aqueles que lideramos e para o prprio evangelho.

Parte integrante da liderana como a de Cristo o reconhecimento de que tambm precisamos seguir outros. Devemos nutrir, de forma intencional, a disposio de renunciar a uma posio de liderana em favor de algum que seja mais adequado para liderar numa situao especfica. A liderana crist no deve estar vinculada a hierarquias ou ttulos. Trata-se, sim, de ter um corao humilde. Paulo simplesmente escreve: Sujeitem-se uns aos outros, por temor a Cristo (Ef 5.21).

O livro Upside Down, de Stacy Rinehart, me ajudou muito. Ele escreve:
Praticamos a submisso mtua e somos rpidos em nos submeter uns aos outros [] Cada pessoa tem uma funo e, quando essa funo necessria, essa pessoa se torna nosso lder [] Neste sentido, cada crente pode ser um lder na rea do seu dom particular. Por outro lado, todo crente e lder tambm um seguidor.¹⁵



Outro autor afirma simplesmente: Parte da liderana saber quando seguir. Voc precisa saber quando dar agem.¹⁶

Os outros, no eu mesmo
Nick Vujicic escreve: Uma parte considervel do nosso mundo consiste em buscar conforto em vez de oferec-lo. Ficamos facilmente to envolvidos na busca da nossa prpria felicidade que nos esquecemos de um dos principais mandamentos de Deus: a verdadeira felicidade vem de servir ao Senhor e a seus filhos.¹⁷

Em resumo, a liderana como a de Cristo no tem voc como foco!¹⁸ O grande evangelista Luis Palau coloca desta forma: A medida do nosso servio [aos outros] a medida da nossa grandeza aos olhos de Deus. 19

Essa a chave! No servimos aos outros para sermos vistos como grandes. Servimos porque seguimos o maior Servo de todos. Ou seja, isso adorao. O ministrio no uma tarefa, um programa ou uma produo. um ato de adorao da parte de pessoas que reconhecem que a grande misericrdia de Deus as redimiu para um relacionamento com ele, para uma vida sacrificial e para o servio aos outros.²⁰

A ambio egosta ope-se liderana como a de Cristo. Devemos nos esforar para agradar nosso Mestre servindo aos outros de modo sacrificial. Creio que esse seja o caminho para uma liderana frutfera, que ser abenoada por Deus e render a ele toda a glria.

Em resumo, os lderes como Cristo devem esforar-se para serem seguidores de Jesus que procuram desenvolver um carter temente a Deus, perseverar apesar da oposio do mundo, buscar a interdependncia com crentes que pensam da mesma forma e defender as necessidades dos outros acima das suas prprias. Espero que voc procure ambiciosamente ser esse tipo de lder e ore para que esse tipo de lder surja em cada igreja e setor.

Notas
1. Muitas dessas lies aprendi servindo no The Message Trust, no despertamento de lderes transformacionais que no esto sob os holofotes pblicos, mas que servem a Cristo sem chamar ateno, veja www.messageglobal.org.
2. Cf. Fl 2.3-8.
3. Dietrich Bonhoeffer, The Cost of Discipleship (Londres, United Kingdom: SCM Press, 1959), 66.
4. Gosto da forma como Dallas Willard confirma a singularidade de Jesus: Ele no apenas legal, brilhante. o homem mais inteligente que j existiu. Hoje supervisiona o curso de toda a histria mundial (Ap 1.5) enquanto simultaneamente prepara o restante do universo para o nosso futuro papel nele (Jo 14.2). Ele sempre tem as melhores informaes sobre tudo e certamente tambm sobre todos os aspectos da vida humana. Dallas Willard, The Divine Conspiracy (Nova York, NY: Harper Collins,2009), 110.
5. Afrika Mhlophe, A ion for Position (Cidade do Cabo, frica do Sul: Struik Christian Media, 2018), 216.
6. Bono, Surrender (Nova York City, NY: Knopf, 2022), 4.
7. Veja em Filipenses 2.5-11 o poema clssico de Paulo exaltando as virtudes da humildade de Cristo. Observe tambm Romanos 5.3-5 e Hebreus 12.4-11 que mostram claramente que o carter cristo formado no enfrentamento de duras dificuldades.
8. de John Wooden a conhecida frase: Preocupe-se mais com seu carter do que com sua reputao, porque seu carter o que voc realmente , enquanto sua reputao apenas o que os outros pensam que voc . Citado em Brian D Biro, Beyond Success (Nova York City, NY: Berkley Publishing Group, 1977), xviii.
9. Outras consideraes sobre as marcas do carter cristo: https://www.biblicalleadership.com/resources/9-marks-of-the-character-of-a-servant-leader/
10. Yaw Perbi & Sam Ngugi, Africa to the Rest (Maitland, FL: Xulon Press, 2022), 91.
11. The Power of a Quiet Life | Francis Chan (youtube.com).
12. Afrika Mhlophe, A ion for Position (Cidade do Cabo, frica do Sul: Struik Christian Media, 2018), 216 e veja Colossenses 3.17.
13. Veja Hebreus 12.2. Porque ele jamais perdeu o alvo de vista aquele fim jubiloso com Deus. Ele foi capaz de vencer tudo pelo caminho: a cruz, a vergonha, tudo mesmo. (Bblia A Mensagem).
14. Jesus conhecia a natureza inconstante das multides, compare Joo 12.1213 e Joo 19.15.
15. Stacy T. Rinehart, Upside Down (Carol Stream, IL: Navpress, 1998) 93, 106.
16. Em George Barna, Master Leaders (Carol Stream, IL: Tyndale House Publishers, 2009), 88.
17. Nick Vujicic, Unstoppable (Colorado Springs, CO: WaterBrook Press, 2012), 208.
18. Adaptao da frase do bestseller de Rick Warren The Purpose Driven Life (Grand Rapids, MI: Zondervan, 2002).
19. Luis Palau e Paul J. Pastor, A Life on Fire (Grand Rapids, MI: Zondervan, 2019), 111.
20. Rinehart 1998:118.

• Tim Tucker diretor de desenvolvimento da frica na The Message Trust e escritor. Tucker tem doutorado em Teologia Prtica pela North-West University e o desenvolvimento de lderes uma de suas paixes. Casado com Christina com quem tem quatro filhos, vive na Cidade do Cabo, frica do Sul.

Artigo publicado no site Movimento Lausanne. Reproduzido com permisso.

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