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12 de dezembro de 2022
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O profissional e o Estado - Pacto de Itaici, de 4 de maro de 1979 1u4z1s
Por Ageu Heringer Lisboa
Esta nota foi preparada a convite da comisso frente do projeto Legado & Louvor.

O contexto histrico imediato que condicionou o encontro refletia profundas desigualdades socioeconmicas no continente, reflexo do acirrado conflito geopoltico da Guerra Fria, alimentado e contaminado por ideologias que ensanguentavam o mundo. Sobravam ditaduras de todo tipo e processos de descolonizao. Mundo que vivia xtases de otimismo com avanos cientficos, conquistas espaciais e avanos tecno-eletrnicos, ao mesmo tempo que acumulou artefatos atmicos e convivia com o fantasma de ameaas de guerra nuclear.
Tem-se destaques para valores e sentidos da vida em sociedade, sentido cristo do trabalho, misso da igreja. Um excelente texto de referncia para estudiosos da dinmica social com suas engrenagens tcnicas, produtivas, econmicas entrelaadas. E muitas perguntas.
Quem so os beneficirios e quem so os perdedores da batalha econmica e dos processos e estruturas econmicas e financeiras? Como so tratados os recursos naturais finitos? Sendo os humanos dotados de poderosos recursos dispositivos culturais para intervir no ambiente, quais valores devem guiar nossa apropriao destes recursos?
O texto a seguir aborda de maneira sucinta o mandato cultural dado por Deus aos humanos no Jardim. Esta nota antropolgica orienta a motivao, o valor, o sentido, a direo do trabalho humano de modo muito distinto da viso utilitarista, pag ou neopag, materialista, egosta e no sustentvel que tem predominado especialmente desde a era industrial.
O trabalho humano pode ser redimido e servir para a realizao de valores dignificantes da nossa humanitude, em fraternidade, realizando o ideal bblico de justia e paz.
Valorizou-se sobretudo a dimenso relacional homem e mulher, em igual dignidade ontolgica, bem como o estatuto das famlias e seu papel delicado e insubstituvel na constituio de personalidades saudveis. A famlia como lugar de resilincia cultural, psquica e espiritual, como nos lembra a famlia de Abrao chamada para abenoar as demais famlias da terra!
Outro tpico abordado foi sobre o lugar dos profissionais aqui refletindo mais as carreiras acadmicas dos componentes do encontro. Como integrantes do Corpo de Cristo, chamados a contribuir para sua integridade, ensino, sustento, discipulado, ampliao de horizontes culturais. Dons e capacitao a servio do Reino de Cristo. Servos dos servos do Senhor. E com testemunho de integridade, competncia e criatividade na sociedade. Cristo como Senhor da cincia e do trabalho.
O documento conclui tratando da questo da convivncia com o Estado. Faz uma incurso sobre a criao, o mundo com uma estrutura harmoniosa de poder, harmonia que foi quebrada na queda gerando as distores e morte ao longo da histria. Os ensinos profticos, a presena e ensino de Jesus trazem de volta o sonho humano de uma Terra-sem-Males, com seu Reino distinto dos reinos e ideologias deste mundo. No por fora, nem por violncia, mas pelo seu Esprito. Assim, h lugar para uma participao poltica consciente e saudvel exercida por cristos guiados por valores do Reino de Cristo.
O profissional e o Estado1
Nossa herana espiritual e cultural, nossa vinculao a movimentos com um sentido de vocao histrica fornece-nos uma plataforma geral para compartilhar com sentido crtico o panorama poltico da Amrica Latina, e analisar as funes do Estado em relao aos problemas que afligem as naes que representamos. Vemos que a realidade sociopoltica latino-americana est caracterizada pela dependncia econmica, cientfica, cultural e religiosa das potncias estrangeiras, e que, neste contexto, o Estado se v amide obrigado a colaborar com grupos de interesse alheios ao seu prprio pas. A isto se agrega a tradicional corrupo istrativa que afligem nossos governos, muitos dos quais so, hoje, ditaduras militares, defensores dos diferentes interesses econmicos. Esta anlise faz-nos tomar conscincia da necessidade de, como profissionais cristos, buscarmos critrios que nos ajudem a definir nossa posio poltica nos diferentes pases que representamos.
Cremos que na prpria Criao Deus deixou impressa uma ordem natural das coisas, dando a cada uma a funo exercida pela vontade de Deus. Antes da queda do homem encontram-se na Criao os elementos constitutivos do Estado: territrio (o jardim do den), populao (simbolizada por Ado e Eva), autoridade (exercida diretamente por Deus), decretos (o mandato cultural expresso pelo senhorio de Deus sobre o homem) e normas que definem os alcances e os limites da liberdade (referente s rvores do jardim em geral ao bem e ao mal - em particular). Ainda que o Estado, como tal, no tenha razo de ser nesta situao de perfeita harmonia entre o homem e o Criador, entre o homem e seu prximo, entre o homem e a natureza, mesmo assim existe uma estrutura de autoridade inerente Criao elaborada por Deus.
Cremos que, com a Queda, introduziu-se no mundo uma dissociao entre os propsitos de Deus e o uso do poder, dando lugar ao surgimento do Estado. Desde ento, o pecado est presente nas estruturas de poder e consequentemente, os governantes usam sua autoridade no para castigar o mal e promover o bem, mas para favorecer o mal e reprimir o bem. No mundo moderno, o Estado torna-se em um deus a quem o povo serve sem crtica; em nome do sistema, quebra-se a lei moral de Deus e se fomenta a injustia.
Afirmamos que embora a Bblia no contenha um programa poltico para o Estado, oferece critrios para julgar sua atuao e definir os seus propsitos e obrigaes. Desde uma perspectiva bblica, o princpio fundamental para o exerccio do poder o temor a Deus, a base para a estrutura social o amor e para a estrutura econmica, a justia, na qual se exige a proteo dos menos privilegiados. O Estado uma expresso da providncia de Deus para toda a humanidade. Suas atribuies so limitadas: no deve ocupar o espao correspondente a grupos menores ou afetar o indivduo nos seus direitos humanos, nem usar a fora para obter benefcios e privilgios para os governantes. Suas funes so: fazer leis justas e implementar o seu cumprimento; estabelecer formas de organizao poltica, econmica e social que fomentem a justia e a liberdade; estar propenso solidariedade e fraternidade entre os que so governados; amparar os desprovidos e marginalizados.
O estudo da situao histrica em que Jesus viveu comprova que o Senhor repeliu vrias opes polticas (as representadas pelos fariseus, saduceus e herodianos, zelotes e essnios) e adotou a sua prpria poltica, baseada em um novo conceito de poder: Se algum quer ser o primeiro, ser o ltimo, e servo de todos (Mc 9.35). Pensamos que nos compete, como profissionais cristos na Amrica Latina, pr em prtica a poltica de Jesus no exerccio de nossa vocao no contexto da Igreja e da sociedade em que Deus nos tem colocado como testemunhas do seu reino. Afirmamos, tambm, que h lugar para uma participao na poltica internacional, por parte dos profissionais com vocao e com conscincia dos limites da poltica.
Concluso
Nosso encontro d-nos uma nova condio do que Deus espera de ns nesta conjuntura histrica. Confessamos que, com grande frequncia, desde o ado, temos nos deixado arrastar por nossas prprias ambies egostas e fechado os olhos ante a necessidade do nosso prximo. Confessamos que temos deixado nos condicionar pela sociedade que nos cerca, porque temos aceito seus valores sem coloc-los sob o juzo da Palavra de Deus, e, com isso, tornamo-nos cmplices da explorao irresponsvel da natureza, simbolizada pelo problema ecolgico. Confessamos que nem sempre temos dado prioridade ao Reino de Deus e a sua justia, e, amide, temo-nos negado a levar a cruz. Hoje renovamos o nosso compromisso com Jesus Cristo, a quem reconhecemos como o Senhor do Universo e da nossa vida, e nos propomos a exercer nossa vocao para o bem do prximo e a glria de Deus, dependendo para isto do poder do Esprito Santo. Glria a Deus na Igreja e em Cristo Jesus, por todos os sculos e para sempre! Amm.
Nota
1. Este documento foi produzido pelo grupo da ABU (Aliana Bblica Universitria), na cidade de Itaici, nos dias 24 de fevereiro a 4 de maro de 1979.
Ageu Heringer Lisboa, psiclogo clnico de adultos e famlia; mestre em cincias da religio; membro fundador do Corpo de Psiclogos e Psiquiatras Cristos (PC) e da Associao Brasileira de Assessoramento e Pastoral da Famlia (EIRENE).

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