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Opinio 3pp3w

No – um drama psicolgico 2ob2h

Finalmente consegui assistir No, de Darren Aronofsky. Finalmente pude entender porque tanta polmica quanto ao filme, porque tanta gente o detestou e porque muitos pases muulmanos proibiram sua exibio. J me perguntaram a respeito, ento, tentarei comentar.

J peo desculpas a quem porventura ler este meu texto e ainda no viu o filme, porque ser impossvel no fazer spoiler. J tinha lido muitas crticas contundentes ao filme. Ento fui ao cinema predisposto a no me deixar influenciar por tais crticas. Acho que consegui. Darren Aronosfsky dirigiu o muito bom O Lutador, de 2008, com Mickey Rourke (no vi dele o aclamado Cisne Negro, muito elogiado pela crtica). Li alhures que Aronofsky nasceu judeu, mas se tornou ateu. Isto explica muita coisa do filme.

A bronca da maioria dos crentes evanglicos e dos muulmanos com o filme se deve ao fato de esperarem uma adaptao literal e fidelssima do relato do dilvio no texto bblico, no caso dos evanglicos, e a verso do mesmo no Coro, no caso dos islmicos. Aronofsky no faz nada disto.

Interessante que, ao ver o filme, eu suspeitei que o diretor se inspirou em fontes judaicas extrabblicas. Ele deve ter se inspirado em algum midraxe. Tem uma cena l pelas tantas, quando a famlia de No j est na arca, em que o patriarca conta a histria da criao. A impresso que se tem ao ver as imagens que am ao som da voz de Russell Crowe que o diretor se inspirou no Zohar O Livro do Esplendor ou em algum texto cabalstico medieval1. No Zohar, a criao descrita em termos impressionantemente semelhantes ao que a fsica quntica do sculo XX descreveria como o Big Bang. Isto est claro na narrativa de Aronofsky pela nfase que d luz primeva, luz dos seres celestiais, a escolha que o primeiro casal teve que fazer quanto a seguir ou no a luz. O Criador de Aronofsky faz lembrar o Ein Sof cabalstico, um princpio de luz e vida, mas no um ser pessoal propriamente. Isto fica clarssimo quando depois do dilvio no h a belssima cena do texto bblico que apresenta a aliana do Senhor com No, cujo smbolo o arco-ris. Claro que no concordo com a concepo de Deus de Aronofsky. Talvez ele seja agnstico, mas no ateu de carteirinha.

E por falar em seres celestiais, obrigatrio falar sobre o aspecto do filme que mais tem gerado polmica: os Watchers, ou Vigilantes. A traduo brasileira os apresentou como anjos cados. Ora, para os evanglicos brasileiros, anjos cados so demnios. Mas no filme de Aronofsky os anjos cados no so demnios. So anjos castigados por terem ajudado os homens. Aqueles monstrengos desajeitados, verdadeiros Transformers de pedra eram, na verdade, luz presa em exoesqueletos de pedra. De onde o Aronofsky tirou isto? De algum midrashe? Gostaria de saber. A questo a a interpretao dos gigantes nefilim do complicadssimo texto de Gnesis 6. Este texto difcil demais por no ter paralelo com qualquer outro. Uma leitura simples do texto bblico ir entender a agem como falando de anjos cados, que neste caso no seriam anjos castigados como no filme de Aronofsky, mas anjos malvados mesmo, que tiveram filhos com mulheres humanas, gerando assim um tertium quid, um terceiro gnero, nem plenamente humano nem plenamente anglico. Mas isto seria mitologia grega, algo estranho ao todo da tradio bblica. Entender o texto como falando de duas linhagens, a de Caim e a de Seth, a meu ver um tanto forado (esta interpretao foi sugerida j no tempo da Patrstica, talvez para evitar os problemas e constrangimentos que uma leitura literal do texto provoca). Sou obrigado a concordar com o falecido biblista germnico-espanhol Luis Alonso Schkel que dizia que simplesmente no sabemos o que este texto quer dizer.

Aronofsky acerta nos aspectos psicolgicos do seu filme. O enlouquecimento de No , obcecado por cumprir sua misso a qualquer custo, angustiado por no entender o que de fato o Criador quer dele, confundindo sua opinio com a opinio do Criador nos faz parar para pensar. Pois isto algo que acontece com muita frequncia. Confundir a vontade prpria com a vontade de Deus extremamente comum entre religiosos. A obsesso de No contrasta fortemente com a lucidez de Ila, sua filha adotiva, j no fim do filme, que dialogando com seu pai adotivo e sogro d uma pista para entender a lio teolgica do filme. O discurso antropocntrico de Tubalcaim (interpretado magnificamente bem por Ray Winstone) faz lembrar o Sat de John Milton. E por falar no inimigo, com perdo do trocadilho infame, que diabo aquele negcio da pele de cobra que resplandecia e que gerao aps gerao era guardada como um talism ou sei l o que? De onde o Aronofsky tirou aquilo?

A cena do porre de No depois do dilvio ficou muito pobre a meu ver. Poderia ter sido melhor desenvolvida e explorada.

Aronofsky exagerou sim na licena artstica, e muito. Tal como comentado acima, tenho minhas suspeitas de onde ele se inspirou, quais foram ou quais teriam sido suas fontes. O que est claro que este o conto do dilvio no segundo qualquer midrashe, nem segundo a Bblia, mas segundo Aronofsky. Todavia, penso que talvez algumas de suas liberdades no estejam to equivocadas assim como muitos pensaram. Seu No vegetariano e com preocupaes ecolgicas , no mnimo, interessante. Mas no gostei de seu relato, ao mesmo tempo, criacionista e evolucionista. Ah, talvez Aronofsky seja evolucionista-testa.

Enfim, o filme tem acertos e erros. No gostei de alguns aspectos do mesmo, gostei de outros. Acho que mais gostei que no gostei. Muito melhor que um pssimo sobre o dilvio no qual o Jon Voight faz o papel de No. Este to ruim que no aguentei ver at o final. O filme de Aronofsky no ferramenta evangelstica, e isto decerto decepcionou muita gente. No um filme complexo. Entendi o filme como um drama psicolgico, talvez uma tentativa de acerto de contas de Aronofsky com o Criador ou com ele mesmo.

Nota:
1. A cabala judaica no tem nada de exotrica ou ocultista ou de feitiaria ou coisa semelhante. A cabala uma tentativa de msticos judeus medievais de entender o ser de Deus e como se deu a criao do cosmos.

Carlos Caldas doutor em Cincias da Religio pela Universidade Metodista de So Paulo (2000). Um dos loci de sua investigao acadmica a relao entre a teologia e as artes.

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