Apoie com um cafezinho
Ol&aacute visitante!
Entrar Cadastre-se

Esqueci minha senha 14113k

  • sacola de compras

    sacola de compras 142f1e

    Sua sacola de compras est vazia.
Seja bem-vindo Visitante!
  • sacola de compras

    sacola de compras 142f1e

    Sua sacola de compras est vazia.

Opinio 3pp3w

Lutero e o seu mundo k66y

Por Lyndon Arajo dos Santos

Em 31 de outubro de 1517, um inquieto monge agostiniano, formado em direito e professor universitrio, afixou 95 teses teolgicas nas portas do castelo da cidade de Wittemberg. Esse pequeno gesto de Martinho Lutero se tornou o estopim de um conjunto de mudanas e de transformaes de ordem religiosa, poltica, cultural e econmica. O cristianismo enquanto expresso histrica, mas no exclusiva do Reino de Deus, e a cristandade enquanto projeto de dominao poltica, cultural e religiosa, no mais seriam os mesmos. E isto at aos nossos dias, ados 500 anos.

Conquanto Lutero tenha sido um personagem central no calor dos acontecimentos, o evento da Reforma Protestante no sculo XVI resultou de um conjunto de movimentos anteriores, vindos de dentro e de fora da Igreja europeia. Pois outros cristianismos haviam no mundo de ento, para alm da sua configurao europeia, como o bizantino, por exemplo. Sob a ameaa muulmana depois do fracasso das cruzadas, a f crist submetida lgica da conquista defrontou-se com sua prpria contradio ao nomear os inimigos e fundamentar-se na prtica do amor.

Podemos recuar at ao sculo XII para apontar o surgimento de movimentos que foram precursores da Reforma. Diversos movimentos sociais e religiosos tomaram corpo no intervalo de 400 anos. Eles tiveram natureza popular, carismtica, apocalptica, missionria, teolgica e, claro, de protesto poltico-social. Houve uma srie de questionamentos hierarquia eclesistica e prpria estrutura da sociedade feudal, por meio de construes teolgicas consideradas heresias, do ponto de vista do poder religioso que assim as definiu.

Na confluncia das dcadas finais do sculo XV e iniciais do XVI, a cristandade medieval cindiu gerando uma diversidade de aes e de reaes, com desdobramentos at aos nossos dias. E o cristianismo se reformou e se reinventou como protestante, assim como o catolicismo se refez numa Contra-Reforma.

Gestava-se naquele contexto a modernidade pelo renascimento cultural, pelas descobertas invasoras das amricas, das fricas e das ndias, e pelo surgimento do sistema-mundo capitalista mercantil. O pensamento operava o deslocamento do teocentrismo escolstico para o humanismo moderno. As fontes da verdade deixariam de ser exclusivas da tradio e da teologia oficial, antes a razo e a experincia se tornariam as outras bases para a construo da verdade. Com isto, a questo da autoridade era diretamente afetada.

A presso da ameaa invasora militar dos turcos otomanos ao leste europeu forava uma Europa provinciana e acuada buscar terras e mercado para comerciantes e nascentes monarquias ainda no to absolutas. A imprensa e as novas tecnologias de navegao contriburam para tal expanso. Interessada neste avano civilizatrio e comercial, a Igreja reproduzia seu poder aliada s fraes da nobreza europeia, estabelecendo com as monarquias emergentes tratados e acordos polticos. Sendo portadora do carisma religioso e proprietria de grandes extenses de terras, cobrava impostos para a sustentao e a ostentao da burocracia eclesistica e da hierarquia.

Ao mesmo tempo, a romana Igreja Catlica vivia permanentes embates internos e desgastes externos. O conciliarismo defendia a autoridade dos conclios acima do papa e da cria. O papado submetido a disputas por parte de grupos e de famlias ricas italianas contrapunha-se ao desejo de renovao, pureza e simplicidade vindo das bases. A venda de cargos eclesisticos, a simonia, e o nepotismo eram prticas escandalosamente naturalizadas. Esse contexto produziu golpes em meio corrupo reinante e a eleio concomitante de papas ilegtimos e sem popularidade, ancorados somente na fora do poder da cria isolada dos interesses do povo.

A peste negra que assolou um tero da populao na Europa colocou em cheque a eficcia desta instituio em salvar o mundo da doena e dos demnios. Paradoxalmente, do centro e das margens desta Igreja em crise vinham presses desde as ordens religiosas com seus poderosos mosteiros e pregadores e das universidades com seus professores (Franciscanos e Dominicanos) e de movimentos msticos medievais.

Estas foras conjunturais geravam uma angstia religiosa e social que clamava por mudana. O sentido da salvao estava cativo ao escape do mundo provisrio de sofrimentos e subordinado mediao da Igreja pelo sacerdcio e pelos sacramentos. A morte era a realidade sempre presente e prxima, ao lado da fome, da misria e da pobreza impostas maioria da populao. O medo apocalptico do fim do mundo iminente era o sentimento coletivo compartilhado e o cu seria como uma terra de comida e de fartura, a Cocanha to sonhada!

Havia a necessidade de uma nova teologia e de uma nova ordem que libertassem as pessoas do trgico, do medo e do controle, reinventando o indivduo como sujeito de si mesmo diante de Deus e do mundo. Estas aspiraes vinham ao encontro tambm da nova classe burguesa emergente e desejosa de controle poltico e de compensao religiosa aos seus anseios de enriquecimento. Os prncipes alemes almejavam as terras da Igreja e pressionavam por uma outra ordem poltica para uma Alemanha fragmentada.

A crise espiritual de Lutero era pessoal e de sua poca. A indignao contra a cobrana das indulgncias de Tetzel fazia parte de sua personalidade e expressava um sentimento generalizado. A volta a uma simplicidade de vida crist era um clamor de sculos. A espiritualidade ansiava por libertar-se da exteriorizao dos rituais para uma experincia interna e subjetiva que trouxesse significado e sentido ao piedoso. Uma nova (mas antiga) fonte de autoridade, as Escrituras, era reclamada ante a fora da tradio. As 95 teses respondiam a estas e a outras questes.

Nota: Este texto foi escrito a partir da participao do autor em Dilogos na Web 500 Anos Reforma Protestante, uma iniciativa da Aliana Evanglica. Publicado graas parceria entre Aliana Evanglica, Ultimato e Basileia. Os dilogos completos esto disponveis em vdeo, aqui.

Leia mais
Reformalatria: 4 perigos a evitar para no idolatrar a Reforma Protestante
F fraca tambm f
Perguntas da Reforma para calvinistas e arminianos
Vozes femininas na Reforma
Protestantismo: o que restou da Reforma?

Imagem: Por Ferdinand Wilhelm Pauwels - flickr, Domnio pblico.
Lyndon de Arajo Santos historiador, professor universitrio e pastor da Igreja Evanglica Congregacional em So Lus, MA. Faz parte da Fraternidade Teolgica Latino-americana - Setor Brasil (FTL-Br).
  • Textos publicados: 35 [ver]

QUE BOM QUE VOC CHEGOU AT AQUI. 223i1k

Ultimato quer falar com voc.

A cada dia, mais de dez mil usurios navegam pelo Portal Ultimato. Leem e compartilham gratuitamente dezenas de blogs e hotsites, alm do acervo digital da revista Ultimato, centenas de estudos bblicos, devocionais dirias de autores como John Stott, Eugene Peterson, C. S. Lewis, entre outros, alm de artigos, notcias e servios que so atualizados diariamente nas diferentes plataformas e redes sociais.

PARA CONTINUAR, precisamos do seu apoio. Compartilhe conosco um cafezinho.


Leia mais em Opinio 2l1v6s

Opinio do leitor 1t5dh

Para comentar necessrio estar logado no site. Clique aqui para fazer o ou o seu cadastro.
Ainda no h comentrios sobre este texto. Seja o primeiro a comentar!
Escreva um artigo em resposta

Ainda no h artigos publicados na seo "Palavra do leitor" em resposta a este texto.