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Lendo a Bblia como um texto literrio e Deus como personagem no livro de Rute 5d6p4d

Por Carlos Caldas
A Bblia, ao longo dos sculos, tem sido consumida e recebida, grosso modo, de duas maneiras, a saber, a devocional e a doutrinria. A leitura devocional a feita quase sempre individualmente, com propsito de alimentar a f e a piedade. A leitura doutrinria a feita por especialistas, que a partir do texto bblico constroem sistemas teolgicos que sero adotados por suas comunidades eclesisticas como sendo o padro correto ortodoxo de interpretao do texto sagrado. No que diz respeito ao mtodo exegtico propriamente de leitura bblica acadmica, cientfica, por assim dizer, dois mtodos (pelo menos no Ocidente) tm sido predominantes: o histrico-gramatical e o histrico-crtico. Este breve texto no tem como objetivo explicar caractersticas destas duas abordagens e diferenas entre uma e outra. Todavia, uma nica observao a respeito ser feita, uma que provavelmente desagradar a defensores tanto de um como do outro: os dois mtodos so diacrnicos, isto , preocupam-se em reconstruir a histria da composio do texto bblico. Esta tentativa muitas vezes altamente hipottica, trabalha com pressupostos que dificilmente podero ser comprovados. O histrico-gramatical tem a tendncia, conscientemente ou no, de confirmar a tradio antiga, enquanto o histrico-crtico no se sente obrigado a fazer o mesmo. Isso faz com que certos defensores do histrico-gramatical acusem os partidrios do histrico-crtico de serem liberais que querem destruir a f, e os adeptos do histrico-crtico por sua vez lanam sobre os defensores do histrico-gramatical a acusao de fazer uma exegese ingnua. Talvez estejam certos no que veem de problemtico um no outro, mas errados ao no itir as prprias falhas da metodologia exegtica que adotam. H que se lembrar tambm que nenhum mtodo exegtico sagrado e infalvel, e ao mesmo tempo todos tm elementos slidos e pontos frgeis.
Uma alternativa relativamente recente a estas duas propostas a de leitura literria do texto bblico. Esta uma leitura sincrnica, que trabalha com o texto como ele est, sem se preocupar com a histria da formao do texto. Assim, a preocupao da leitura do texto bblico na perspectiva da anlise narrativa no est em saber como o texto teria sido escrito e qual teria sido o longo caminho desde suas origens mais remotas, muitas vezes na tradio oral, mas saber o que o texto diz. Parece bvio, mas com muita frequncia, o bvio esquecido. A leitura literria do texto bblico poder eventualmente lanar mo de um ou outro elemento dos mencionados mtodos exegticos, mas no se prender a nenhum dos dois. E tem a grande vantagem de poder ser utilizada com proveito em comunidades de f como auxiliar na leitura devocional, pois no exige conhecimento das lnguas originais. Uma limitao do mtodo histrico-crtico e igualmente do histrico-gramatical que so ambos elitizados, impossveis de serem praticados por quem no tem conhecimento do hebraico e do grego bblicos.
Por essas e outras de algum tempo para c tenho me interessado pela leitura literria do texto bblico na perspectiva de uma anlise narrativa1. Na primeira quinzena de janeiro, aproveitando as frias escolares, revisitei o livro de Rute a partir da mencionada perspectiva. Gostaria de compartilhar sobre apenas um aspecto desta anlise aplicada a este pequeno, mas to belo livro, que para mim tem um significado sentimental especial, pois Rute era o nome da minha me, de mui abenoada memria... Literariamente falando Rute uma novela, pois apresenta uma histria curta, com poucos personagens e um enredo relativamente simples. E um dos elementos da anlise literria tem a ver exatamente com um estudo dos personagens apresentados na narrativa. No vou entrar neste texto na explicao dos vrios tipos de personagem reconhecidos pela crtica literria, como protagonista ou figurante, pois para isso precisaria de um espao bem maior que o normalmente reservado para esta coluna. Em Rute h meno a 15 personagens, quais sejam:
  • Elimeleque;
  • Noemi;
  • Malom e Quiliom (os filhos do casal);
  • Orfa (uma das noras do casal);
  • Rute (a outra nora, que dar ttulo narrativa);
  • toda a cidade (1.19) de Belm, quando mencionado o retorno de Noemi, agora viva, e sua nora estrangeira, tambm viva, para a cidade;
  • Boaz (que ter um papel importantssimo na virada da narrativa);
  • O capataz de Boaz (2,5-7), que, quando perguntado, dar ao seu patro um testemunho positivo a respeito da mulher estrangeira;
  • O parente no nomeado de Noemi, que aparece como um fator complicador na narrativa (4.1);
  • Os dez ancios de Belm, tambm no nomeados (4.2-9, 11-12) que servem de testemunhas para a legalizao da compra das terras do falecido marido de Noemi e do posterior casamento de Rute e Boaz;
  • O povo (4.11-12) que tambm testemunha a cena;
  • O filho de Boaz e Rute, que ser chamado Obede, nome que significa servo (4.13, 17 at hoje no consegui entender porque neste texto quem d nome ao recm nascido no sua me, nem seu pai, nem sua av, mas as vizinhas. Elas se intrometem na vida alheia, mas a intromisso delas aceita);
  • Um grupo no numerado nem nomeado de mulheres (4.14-15) que faz uma profecia bonita a respeito do recm nascido;
  • As j mencionadas vizinhas (4.17; talvez tenham sido as mesmas mulheres do v. 14);
  • Deus em toda e qualquer narrativa bblica, Deus sempre personagem central. Uma afirmao assim pode soar estranha para muitos, mas no h como negar este fato.
Tal como indicado no ttulo deste texto, o que se pretende explorar, ainda que em sntese, como a narrativa de Rute apresenta Deus como personagem. A primeira coisa que chama a ateno neste sentido que Deus nunca fala em Rute. Isto algo incomum, pois nas narrativas bblicas Deus sempre fala, seja manifestando-se por meio de sonhos ou vises (Gn 15; 1 Sm 3) ou simplesmente falando (Gn 12.1 ss). Mas no o que se v em Rute. Do primeiro ao quarto e ltimo captulo Deus no fala nem uma vez. Ele mencionado por Noemi logo no primeiro captulo (v. 20-21), em uma fala carregada de amargura, em tom depressivo. Antes, em 1.6 h uma referncia uma ao do Senhor, no caso, a afirmao que a seca terminara em Belm, e isto foi entendido como ao divina. O mesmo entendimento aparece em 4.13: a gravidez de Rute compreendida como ao do Senhor. Deus ainda mencionado em frmulas de saudao e/ou de bno (1.8-9; 2.4, 20; 3.10; 4.14) e uma nica vez em uma forma de imprecao (1.17). Mas, no custa repetir, Deus mesmo no fala nem uma vez. Todavia, sua ao est presente. O olhar da f permite perceber a ao de Deus em detalhes pequeninos e simples do dia a da vida: na amizade fraterna, na solidariedade, na lealdade, na honestidade ( notvel no texto ver como Boaz age de maneira absolutamente correta e honesta, em nenhum momento tentando enganar seu parente annimo para obter o que quer), no que aparentemente s o acaso, enfim, em situaes nas quais se percebe a atuao silenciosa, mas poderosa e providencial do Senhor da histria. Em Rute, Deus no intervm de maneira exuberante, espetacular e estrondosa como se l na narrativa do xodo. Mas ele est l. O Deus apresentado em Rute no menos presente e menos ativo que o Deus apresentado no xodo.
Ler a Bblia na perspectiva da anlise narrativa um desafio que exige ateno, muita ateno. Uma leitura apressada e descuidada no permitir ver as sutilezas das quais o texto bblico est repleto. Mas algo que se aprende na prtica. No ano que se inicia, que tal aceitar o desafio de ler a Bblia como um texto literrio? Mas que o desafio seja aceito no como mero exerccio intelectual, mas como dinmica de fortalecimento na f e na esperana, para alimentar a vivncia do amor.
NOTA
1. Quem quiser saber a mais sobre como ler a Bblia enquanto texto literrio poder consultar, entre outros:
ALTER, Robert. KERMODE, Frank (Orgs.). Guia literrio da Bblia. So Paulo: Editora da UNESP, 1997.
ALTER, Robert. A arte da narrativa bblica. So Paulo: Companhia das Letras, 2007.
MARGUERAT, Daniel. BOURQUIN, Yvan. Para ler as narrativas bblicas. Iniciao anlise narrativa. So Paulo: Loyola, 2009.
VITRIO, Jaldemir. Anlise narrativa da Bblia. Primeiros os de um mtodo. So Paulo: Paulinas, 2016.

professor do Programa de Ps-Graduao em Cincias da Religio da PUC Minas, onde coordena o GPRA Grupo de Pesquisa Religio e Arte.
  • Textos publicados: 86 [ver]

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