Apoie com um cafezinho
Ol&aacute visitante!
Entrar Cadastre-se

Esqueci minha senha 14113k

  • sacola de compras

    sacola de compras 142f1e

    Sua sacola de compras est vazia.
Seja bem-vindo Visitante!
  • sacola de compras

    sacola de compras 142f1e

    Sua sacola de compras est vazia.

Opinio 3pp3w

Impureza sexual tem cura? (parte 2) 4h1t3c

Guilherme de Carvalho

O meu corpo sou eu, ou no sou eu, afinal de contas?

Os espritas e alguns irmos neopentecostais dizem que somos espritos que habitam em corpos -- mas isso no pode ser verdade. Afinal, Deus disse a Ado: Tu s p. Ento o corpo tambm sou eu. Estranhamente, no entanto, o apstolo Paulo, que no era esprita nem neopentecostal, dizia que o seu corpo era a sua casa.

Ora, se eu sou meu corpo, mas tambm posso trat-lo como a minha casa, ento h algum tipo de complexidade em mim; talvez, haja uma dualidade. Sou capaz de no apenas ter um eu, mas saber que tenho um eu, e at mesmo dialogar comigo mesmo. E mais: posso me relacionar com o meu corpo (que tambm sou eu) a ponto de trat-lo como eu e ele ao mesmo tempo, como Paulo faz em Romanos captulo 7, dizendo coisas como em mim, isto , na minha carne, no habita bem nenhum, e logo depois que o querer o bem est em mim.

Bem, acredito que essa dualidade tem tudo a ver com a questo da impureza sexual. No artigo anterior falei sobre a necessidade do amor ao prximo para lidar com a impureza sexual; agora vou tocar em outro ponto -- o amor do homem por seu prprio corpo. Porm, no quero tratar do assunto do ponto de vista tipicamente psquico, ligado questo da autoestima; que, de algum modo, sinto que a nossa viso sobre a relao entre a personalidade e o corpo tem um impacto estruturante em nossa tica sexual. Certo, parece uma afirmao trivial. Mas minha experincia me diz que a trivialidade anestesia o nosso senso crtico.

emos ento sem demora discusso do assunto: como essa relao entre mim e o meu corpo?

Dentro e fora
Vamos assumir que de um jeito ou de outro meu esprito e meu corpo sejam o mesmo eu, a alma vivente, feita de p da terra e esprito de vida. Como poderamos representar tal coisa? Talvez possamos dizer que somos como um tecido dobrado. Pela dobra o tecido se encontra consigo mesmo, uma ponta com a outra; e assim, dobrados, podemos olhar nossas faces no espelho, e esse fato curioso acontece: o olho atenta para a face, e v a alma nela; e a alma olha pelos olhos, e sabe que aquela face sua.

Difcil? Talvez seja melhor usar uma feliz expresso de Paulo: o homem interior e o homem exterior. Essa , sem dvida, uma boa imagem da coisa toda. Tenho um dentro e um fora; uma superfcie e uma profundidade. Na profundidade est o meu centro -- o corao; e na superfcie, torna-se patente o que o corao . Sim, Paulo no inventou isso; a ideia muito mais antiga: Sobre tudo o que se deve guardar, guarda o corao, porque dele procedem as fontes da vida (Pv 4.23). Na antropologia bblica, o homem tem um centro; um self no qual tudo o que ele est concentrado. Poderamos dizer que o corpo o corao patente, e o corao o corpo latente.

Vou estender um bocadinho a metfora e apontar algo que, creio, ela implica: que h uma espcie de distncia natural entre eu e eu; mais precisamente, entre a minha autoconscincia, e o meu corpo. A distncia entre o interior e o exterior faz com que haja um atraso entre os dois. s vezes o interior de um jeito, e o exterior de outro. A mudana de um no implica uma resposta imediata do outro. E podemos at colocar um contra o outro, pasmem!

Ora, os exemplos disso no faltam. O hipcrita de um jeito por dentro, e de outro por fora. O homem v o exterior, mas o Senhor v o corao (1Sm 16.7). Tem gente feia por dentro e bonita por fora, feia por fora e bonita por dentro. No fao o bem que prefiro, mas o mal que no quero esse fao, disse o velho rabi. J me imaginei tocando piano de um jeito, mas constatei no ltimo domingo que minhas mos no me obedecem. Quero chorar, mas dou um sorriso para despistar. E, se a minha casa se desfizer, h outra para mim, reservada nos cus (2Co 5.1).

Em princpio, esse atraso bom. Ele faz com que, de certo modo, possamos ser e no ser ao mesmo tempo. algo como a diferena de potencial ou tenso entre dos fios eltricos; justamente essa diferena faz surgir a corrente eltrica. A tenso entre o homem interior e o homem exterior faz a gente ter dinmica. Precisamos nos tornar conscientes do que somos e exercitar a vontade para harmonizar o dentro e o fora. Desse modo, a consistncia deixa de ser algo dado, para ser objeto de conquista. Ser preciso escolher ser consistente -- escolher ser uma pessoa integrada.

Dentro sem fora e fora sem dentro?
E aqui, como sempre, temos que falar do pecado. Por causa da queda do homem e de seu afastamento de Deus criou-se, mais do que um descomo, uma ruptura entre o dentro e o fora. A ponto de o p voltar para a terra, e o esprito voltar para Deus, que o deu. Cada homem, por causa do pecado, vive morrendo; vive o processo de ser lentamente rasgado, at que a corrente eltrica cesse dentro de si. E a caracterstica dessa ruptura final a perda do corpo, a sua superfcie. Isso o que significa a morte: no h mais imagem; no h mais uma face com msculos para mostrar o sorriso da alma.

Claramente, se nos damos conta dessa distncia, compreenderemos que a morte o que se mostra no alargamento dessa distncia. mortal tudo aquilo que me impede de ser consistente, de manter a conexo entre o interno e o externo. Todo conceito, deciso ou processo que produz a inconsistncia mortal; tudo o que promove a independncia da alma em relao ao corpo, ou do corpo em relao alma, mortal.

Mortal a filosofia de Descartes. Pois ele estabeleceu a razo como critrio absoluto da verdade, e por isso duvidou de tudo o que no pudesse demonstrar racionalmente. Por isso duvidou at da existncia do seu corpo, a res extensa, e identificou o seu ego com o pensamento, a res cogitans: Penso, logo existo. Da pra frente, demonstrar como a alma racional se relaciona com o corpo virou um problemo. O pensamento ocidental permaneceu oscilando entre dois extremos: diminuir o corpo material (idealismo), ou negar a existncia da alma (empirismo Humeano), dissolvendo-a no corpo.

A ltima opo anda bem popular hoje em dia. Mortal o pensamento de Daniel Dennett, que considera a liberdade uma iluso criada pelo crebro, o qual no aria de uma mquina bioqumica. Mortal o pensamento do grande Claude Levi-Strauss, que aguardava ansiosamente pela aniquilao definitiva das ideias de eu, self ou alma, a partir de uma espcie de materialismo racionalista. Deve ter sido uma decepo para ele descobrir-se tendo um eu sem corpo -- o que a sua condio atual desde o fim de outubro.
primeira | anterior | Pgina: 1/3 | prxima | ltima
telogo, mestre em Cincias da Religio e diretor de LAbri Fellowship Brasil. Pastor da Igreja Esperana em Belo Horizonte e presidente da Associao Kuyper para Estudos Transdisciplinares, tambm organizador e autor de Cosmoviso Crist e Transformao e membro fundador da Associao Brasileira Cristos na Cincia (ABC2).
  • Textos publicados: 37 [ver]

QUE BOM QUE VOC CHEGOU AT AQUI. 223i1k

Ultimato quer falar com voc.

A cada dia, mais de dez mil usurios navegam pelo Portal Ultimato. Leem e compartilham gratuitamente dezenas de blogs e hotsites, alm do acervo digital da revista Ultimato, centenas de estudos bblicos, devocionais dirias de autores como John Stott, Eugene Peterson, C. S. Lewis, entre outros, alm de artigos, notcias e servios que so atualizados diariamente nas diferentes plataformas e redes sociais.

PARA CONTINUAR, precisamos do seu apoio. Compartilhe conosco um cafezinho.


Leia mais em Opinio 2l1v6s

Opinio do leitor 1t5dh

Para comentar necessrio estar logado no site. Clique aqui para fazer o ou o seu cadastro.
Escreva um artigo em resposta

Ainda no h artigos publicados na seo "Palavra do leitor" em resposta a este texto.