Opinio 3pp3w
20 de junho de 2017
- Visualizaes: 23262
comente!
- +A
- -A
-
compartilhar
Heresias, hereges e radicais 366771
PorLyndon de Arajo Santos
Nenhum movimento promotor de grandes e profundas transformaes histricas aconteceu sem antecedentes de longa durao. Assim foi com as reformas do sculo 16. As suas to conturbadas dcadas iniciais resultaram de processos que se remontam ao sculo 12, na Europa ocidental. Diversos movimentos sociais e religiosos tomaram corpo naquele intervalo de 400 anos. Eles tiveram natureza popular, carismtica, apocalptica, missionria, teolgica e, claro, de protesto poltico-social. Houve uma srie de questionamentos hierarquia eclesistica e prpria estrutura da sociedade feudal, por meio de construes teolgicas consideradas heresias, do ponto de vista do poder religioso que assim as definiu.
Por um lado, eles surgiram desde os estratos baixos e mdios da populao excluda e marginalizada economicamente, condicionada pelo imaginrio medieval e pelas necessidades de sobrevivncia material. As populaes mais simples praticavam uma religiosidade sincrtica algo entre a f crist e as antigas crenas, com rituais herdados de suas tradies pags que manipulavam ervas, razes, chs, remdios, alucingenos e poes, aplicados aos enfermos e crianas, por exemplo, junto a rezas, oraes e frmulas mgicas. Por outro lado, eclodiram dentro da prpria estrutura da Igreja erigida ao patamar de instituio religiosa dominante , em aliana com a nobreza ou a aristocracia. A Inquisio e as cruzadas, as perseguies s mulheres, aos judeus, aos pagos, aos muulmanos e aos grupos tnicos minoritrios (caso dos ciganos), foram aes legitimadas pelo discurso teolgico oficial, representado pela teologia escolstica. No entanto, organizaes e foras internas eram desejosas de renovao espiritual.
Houve uma radicalizao da prtica crist a partir, sobretudo, da leitura dos Evangelhos, na busca de imitar o estilo de vida de Jesus e dos apstolos
Podemos, aqui, citar a maior parte destas chamadas heresias, nos sculos 12 e 13, bem como seus protagonistas. Gente como Pedro de Bruys e monge Henrique de Lausanne; Hugo Speroni; Eudo de Stella; Arnaldo de Brscia; Joaquim de Fiore; os ctaros ou albigenses; Pedro Valdo e os valdenses; os beguinos e Gerardo Segarelli, com os pseudoapstolos ou apstolos de Cristo. Este conjunto pode ser considerado precursor da Reforma seiscentista, devido s suas nfases teolgicas e eclesisticas, bem como ao teor do protesto social que carregava. Tais movimentos foram reprimidos, perseguidos ou cooptados pela Igreja Catlica, utilizando o brao secular do Estado e a prpria populao por meio de aes de violncia. Por criticarem o poder, a corrupo e a riqueza da Igreja buscando um retorno simplicidade e pobreza da vida de Jesus como exemplo a ser demonstrado ao povo , esses grupos tambm aram a ser chamados de ordens mendicantes.
Ao e reao
Houve uma radicalizao da prtica crist a partir, sobretudo, da leitura dos Evangelhos, na busca de imitar o estilo de vida de Jesus e dos apstolos, dentro de um ideal de penitncia alimentado pela expectativa de um supostamente iminente fim do mundo. Este foi o exemplo do rico comerciante Pedro Valdo ou Valdez de Lyons (1140-1220), que ficou profundamente abalado com a leitura das Escrituras Sagradas por volta de 1173, como menciona Nachman Falbel em seu livro Heresias medievais, lanado pela Editora Perspectiva. Ele traduziu o Evangelho para o provenal, renunciou aos seus bens e os distribuiu aos pobres. Homens e mulheres aram a segui-lo, andando de dois a dois em pobreza apostlica e pregando a penitncia. O movimento de espalhou, recebendo a adeso em grande parte dos chamados Humilhados da Lombardia, grupo que se associou aos valdenses.
O papa Lcio III, no Snodo de Verona de 1184, os excomungou, depois de tentativas frustradas de os proibirem de pregar e limitarem seu raio de ao. Os valdenses e seus agregados tornaram-se andarilhos, pregando na clandestinidade e auxiliando os adeptos em suas necessidades pastorais. Cumpriam um trplice voto de pobreza, castidade e obedincia aos superiores, e traduziram as Escrituras para lnguas vulgares. Quanto s doutrinas da Igreja da poca como a do purgatrio, a orao pelos mortos e as missas de sufrgio, bem como o culto aos santos e as indulgncias , eles as negavam solenemente. Apenas o batismo, a eucaristia a e penitncia eram observados como sacramentos. Seus ramos francs e italiano se espalharam pela Europa, no sem perseguies pela Inquisio. Como resultado, muitos de seus expoentes acabaram nas fogueiras.
Nos sculos 13 a 15, a Igreja Catlica promoveu, de dentro dos seus quadros, renovaes no pensamento teolgico e na espiritualidade. Foi a poca em que floresceram o escolasticismo e surgiram as catedrais e os mosteiros, bem como as universidades. Ao mesmo tempo, novas ordens religiosas, como os dominicanos e os franciscanos, ganharam espao. No entanto, ela mesma desenvolveu mecanismos de controle social e de acumulao de riquezas que se tornaram, no transcorrer do tempo, opressores aos mais pobres e simples. Ademais, o clero alimentava prticas como o nepotismo, a simonia e o trfico de influncia na escolha e nomeao de papas e de cardeais. Durante determinado perodo, a Igreja chegou a conviver com trs papados nos conflitos polticos urdidos entre os conclios, o poder pontifical e os interesses dos reinos com tendncias nacionalistas e de formao dos estados.
Aquele foi um tempo de mudanas profundas. O ideal de uma cristandade era construdo ao custo das alianas com a nobreza e com a nova classe emergente: a burguesia mercantil. Catstrofes de grandes propores, como a peste negra que assolou a Europa no sculo 14, matando um tero de sua populao, abalaram a crena popular na eficcia da mediao da Igreja. J o Renascimento, que promoveu um espetacular florescimento cultural e cientfico, trouxe outros paradigmas da racionalidade poltica, filosfica e intelectual, deslocando a fonte da verdade da instituio religiosa e da sua tradio para a razo e a cincia. Era o chamado empirismo. Assim, as condies para o aprofundamento da crise religiosa e social estavam dadas no alvorecer do sculo 15, quando surgiram movimentos mais radicais de renovao e de questionamento da vida corrupta, dos costumes, das doutrinas e da hierarquia da Igreja. Uma destas vozes foi a de John Wycliff, que viveu na Inglaterra durante a poca do cativeiro babilnico do papado, como o define Justo Gonzalez em sua obra La era de los sueos frustrados. Acadmico, erudito, polemista e ligado universidade de Oxford, Wycliff (1328-1384) defendia o senhorio de Cristo, relativizando os poderes civil e eclesistico. Dessa forma, questionava os limites das aes do estado e da Igreja.
Sua crtica atingia os privilgios, a cobrana de impostos e a autoridade do papa, a quem chegou a comparar ao anticristo. A argumentao lgica partia das Escrituras, as quais deveriam ser traduzidas aos idiomas vernculos e serem colocadas como autoridade sobre o papa e a tradio. A verdadeira Igreja era o conjunto dos predestinados e constitua-se em um corpo invisvel. Declarado herege por defender outra teologia referente eucaristia, prxima de Lutero, Wycliff teve suas ideias continuadas pelo movimento lolardo, tambm surgiu dentro de Oxford. To ou mais radicais que o estudioso ingls, seus adeptos pregavam contra a distino entre clero e laicato, os cargos pblicos dos ministros, o celibato, o culto s imagens, as peregrinaes, as oraes pelos mortos e a transubstanciao.
O "Apocalipse" de Savonarola
Outro pregador que merece destaque no perodo conhecido como a pr-Reforma foi o dominicano Jernimo Savonarola, que ganhou visibilidade na Florena dos Mdicis. Inflamado nas pregaes e de grande erudio bblica, ele conquistou reconhecimento e fama quando fez conferncias e sermes sobre o livro de Apocalipse no convento dominicano de So Marcos. Savonarola uniu s suas profecias os ataques contra a corrupo da Igreja e a denncia opresso que a elite florentina exercia sobre a populao, sobretudo atravs da cobrana de impostos.
O movimento que mudou os rumos da Igreja foi precedido pela opo que geraes de cristos e crists fizeram pela prtica de vida simples, radical e questionadora do poder das hierarquias eclesisticas
Eleito prior de So Marcos, Savonarola tomou uma atitude ousada: vendeu todas as propriedades do convento, doando o dinheiro aos pobres e levando a vida dos frades a uma simplicidade exemplar. Suas profecias se cumpriram com os acontecimentos que envolveram a cidade de Florena e a invaso da Frana, pelo rei Carlos VIII. Savonarola foi ainda um hbil negociador. Com a crise dos Mdicis e a ocupao sa, ele intermediou acordos que o colocaram como um lder poltico na cidade. Ao propor reformas que ajudariam aos menos favorecidos, o dominicano atingiu os interesses de boa parte da aristocracia e chocou-se com o luxo e a ostentao renascentistas. Suas pregaes inflamadas exaltavam os ouvintes e a cidade que o tinha como um profeta operador de milagres. Jernimo Savonarola sofreu forte oposio do papa Alexandro VI, que no aceitava suas crticas cpula da Igreja. Alm disso, havia fortes interesses polticos que tentavam afast-lo da liderana na cidade italiana. A runa econmica, as presses externas e a perda do apoio da aristocracia e da burguesia fizeram com que seu prestgio decasse. Capturado em So Marcos, foi condenado pelo papa como herege e promovedor de cismas. Barbaramente torturado, Savonarola foi enforcado e queimado pelo novo Conselho de Florena.
Falar na Reforma Protestante agora, quando se celebram os 500 anos do movimento, prestar tributo a pessoas, acontecimentos e movimentos de longa durao, sem os quais, provavelmente, ela no aconteceria da maneira como a conhecemos hoje. Lembremo-nos ainda de outros precursores, como Guilherme de Ockham (1285-1349) e Erasmo de Roterd (1466-1536), bem como msticos medievais como Mestre Eckhart (1260-1328), Juan de Ruysbroeck (1293-1381), Gerardo de Groot (1340-1384), Thomas Kempis (1380-1471) e os Irmos da Vida Comum. Com estas testemunhas e mrtires, aprendemos que o movimento que mudou os rumos da Igreja foi precedido pela opo que geraes de cristos e crists fizeram pela prtica de vida simples, radical e questionadora das alianas entre as hierarquias eclesisticas e os poderes opressores da histria.
Nenhum movimento promotor de grandes e profundas transformaes histricas aconteceu sem antecedentes de longa durao. Assim foi com as reformas do sculo 16. As suas to conturbadas dcadas iniciais resultaram de processos que se remontam ao sculo 12, na Europa ocidental. Diversos movimentos sociais e religiosos tomaram corpo naquele intervalo de 400 anos. Eles tiveram natureza popular, carismtica, apocalptica, missionria, teolgica e, claro, de protesto poltico-social. Houve uma srie de questionamentos hierarquia eclesistica e prpria estrutura da sociedade feudal, por meio de construes teolgicas consideradas heresias, do ponto de vista do poder religioso que assim as definiu.
Por um lado, eles surgiram desde os estratos baixos e mdios da populao excluda e marginalizada economicamente, condicionada pelo imaginrio medieval e pelas necessidades de sobrevivncia material. As populaes mais simples praticavam uma religiosidade sincrtica algo entre a f crist e as antigas crenas, com rituais herdados de suas tradies pags que manipulavam ervas, razes, chs, remdios, alucingenos e poes, aplicados aos enfermos e crianas, por exemplo, junto a rezas, oraes e frmulas mgicas. Por outro lado, eclodiram dentro da prpria estrutura da Igreja erigida ao patamar de instituio religiosa dominante , em aliana com a nobreza ou a aristocracia. A Inquisio e as cruzadas, as perseguies s mulheres, aos judeus, aos pagos, aos muulmanos e aos grupos tnicos minoritrios (caso dos ciganos), foram aes legitimadas pelo discurso teolgico oficial, representado pela teologia escolstica. No entanto, organizaes e foras internas eram desejosas de renovao espiritual.
Houve uma radicalizao da prtica crist a partir, sobretudo, da leitura dos Evangelhos, na busca de imitar o estilo de vida de Jesus e dos apstolos
Podemos, aqui, citar a maior parte destas chamadas heresias, nos sculos 12 e 13, bem como seus protagonistas. Gente como Pedro de Bruys e monge Henrique de Lausanne; Hugo Speroni; Eudo de Stella; Arnaldo de Brscia; Joaquim de Fiore; os ctaros ou albigenses; Pedro Valdo e os valdenses; os beguinos e Gerardo Segarelli, com os pseudoapstolos ou apstolos de Cristo. Este conjunto pode ser considerado precursor da Reforma seiscentista, devido s suas nfases teolgicas e eclesisticas, bem como ao teor do protesto social que carregava. Tais movimentos foram reprimidos, perseguidos ou cooptados pela Igreja Catlica, utilizando o brao secular do Estado e a prpria populao por meio de aes de violncia. Por criticarem o poder, a corrupo e a riqueza da Igreja buscando um retorno simplicidade e pobreza da vida de Jesus como exemplo a ser demonstrado ao povo , esses grupos tambm aram a ser chamados de ordens mendicantes.
Ao e reao
Houve uma radicalizao da prtica crist a partir, sobretudo, da leitura dos Evangelhos, na busca de imitar o estilo de vida de Jesus e dos apstolos, dentro de um ideal de penitncia alimentado pela expectativa de um supostamente iminente fim do mundo. Este foi o exemplo do rico comerciante Pedro Valdo ou Valdez de Lyons (1140-1220), que ficou profundamente abalado com a leitura das Escrituras Sagradas por volta de 1173, como menciona Nachman Falbel em seu livro Heresias medievais, lanado pela Editora Perspectiva. Ele traduziu o Evangelho para o provenal, renunciou aos seus bens e os distribuiu aos pobres. Homens e mulheres aram a segui-lo, andando de dois a dois em pobreza apostlica e pregando a penitncia. O movimento de espalhou, recebendo a adeso em grande parte dos chamados Humilhados da Lombardia, grupo que se associou aos valdenses.
O papa Lcio III, no Snodo de Verona de 1184, os excomungou, depois de tentativas frustradas de os proibirem de pregar e limitarem seu raio de ao. Os valdenses e seus agregados tornaram-se andarilhos, pregando na clandestinidade e auxiliando os adeptos em suas necessidades pastorais. Cumpriam um trplice voto de pobreza, castidade e obedincia aos superiores, e traduziram as Escrituras para lnguas vulgares. Quanto s doutrinas da Igreja da poca como a do purgatrio, a orao pelos mortos e as missas de sufrgio, bem como o culto aos santos e as indulgncias , eles as negavam solenemente. Apenas o batismo, a eucaristia a e penitncia eram observados como sacramentos. Seus ramos francs e italiano se espalharam pela Europa, no sem perseguies pela Inquisio. Como resultado, muitos de seus expoentes acabaram nas fogueiras.
Nos sculos 13 a 15, a Igreja Catlica promoveu, de dentro dos seus quadros, renovaes no pensamento teolgico e na espiritualidade. Foi a poca em que floresceram o escolasticismo e surgiram as catedrais e os mosteiros, bem como as universidades. Ao mesmo tempo, novas ordens religiosas, como os dominicanos e os franciscanos, ganharam espao. No entanto, ela mesma desenvolveu mecanismos de controle social e de acumulao de riquezas que se tornaram, no transcorrer do tempo, opressores aos mais pobres e simples. Ademais, o clero alimentava prticas como o nepotismo, a simonia e o trfico de influncia na escolha e nomeao de papas e de cardeais. Durante determinado perodo, a Igreja chegou a conviver com trs papados nos conflitos polticos urdidos entre os conclios, o poder pontifical e os interesses dos reinos com tendncias nacionalistas e de formao dos estados.
Aquele foi um tempo de mudanas profundas. O ideal de uma cristandade era construdo ao custo das alianas com a nobreza e com a nova classe emergente: a burguesia mercantil. Catstrofes de grandes propores, como a peste negra que assolou a Europa no sculo 14, matando um tero de sua populao, abalaram a crena popular na eficcia da mediao da Igreja. J o Renascimento, que promoveu um espetacular florescimento cultural e cientfico, trouxe outros paradigmas da racionalidade poltica, filosfica e intelectual, deslocando a fonte da verdade da instituio religiosa e da sua tradio para a razo e a cincia. Era o chamado empirismo. Assim, as condies para o aprofundamento da crise religiosa e social estavam dadas no alvorecer do sculo 15, quando surgiram movimentos mais radicais de renovao e de questionamento da vida corrupta, dos costumes, das doutrinas e da hierarquia da Igreja. Uma destas vozes foi a de John Wycliff, que viveu na Inglaterra durante a poca do cativeiro babilnico do papado, como o define Justo Gonzalez em sua obra La era de los sueos frustrados. Acadmico, erudito, polemista e ligado universidade de Oxford, Wycliff (1328-1384) defendia o senhorio de Cristo, relativizando os poderes civil e eclesistico. Dessa forma, questionava os limites das aes do estado e da Igreja.
Sua crtica atingia os privilgios, a cobrana de impostos e a autoridade do papa, a quem chegou a comparar ao anticristo. A argumentao lgica partia das Escrituras, as quais deveriam ser traduzidas aos idiomas vernculos e serem colocadas como autoridade sobre o papa e a tradio. A verdadeira Igreja era o conjunto dos predestinados e constitua-se em um corpo invisvel. Declarado herege por defender outra teologia referente eucaristia, prxima de Lutero, Wycliff teve suas ideias continuadas pelo movimento lolardo, tambm surgiu dentro de Oxford. To ou mais radicais que o estudioso ingls, seus adeptos pregavam contra a distino entre clero e laicato, os cargos pblicos dos ministros, o celibato, o culto s imagens, as peregrinaes, as oraes pelos mortos e a transubstanciao.
O "Apocalipse" de Savonarola
Outro pregador que merece destaque no perodo conhecido como a pr-Reforma foi o dominicano Jernimo Savonarola, que ganhou visibilidade na Florena dos Mdicis. Inflamado nas pregaes e de grande erudio bblica, ele conquistou reconhecimento e fama quando fez conferncias e sermes sobre o livro de Apocalipse no convento dominicano de So Marcos. Savonarola uniu s suas profecias os ataques contra a corrupo da Igreja e a denncia opresso que a elite florentina exercia sobre a populao, sobretudo atravs da cobrana de impostos.
O movimento que mudou os rumos da Igreja foi precedido pela opo que geraes de cristos e crists fizeram pela prtica de vida simples, radical e questionadora do poder das hierarquias eclesisticas
Eleito prior de So Marcos, Savonarola tomou uma atitude ousada: vendeu todas as propriedades do convento, doando o dinheiro aos pobres e levando a vida dos frades a uma simplicidade exemplar. Suas profecias se cumpriram com os acontecimentos que envolveram a cidade de Florena e a invaso da Frana, pelo rei Carlos VIII. Savonarola foi ainda um hbil negociador. Com a crise dos Mdicis e a ocupao sa, ele intermediou acordos que o colocaram como um lder poltico na cidade. Ao propor reformas que ajudariam aos menos favorecidos, o dominicano atingiu os interesses de boa parte da aristocracia e chocou-se com o luxo e a ostentao renascentistas. Suas pregaes inflamadas exaltavam os ouvintes e a cidade que o tinha como um profeta operador de milagres. Jernimo Savonarola sofreu forte oposio do papa Alexandro VI, que no aceitava suas crticas cpula da Igreja. Alm disso, havia fortes interesses polticos que tentavam afast-lo da liderana na cidade italiana. A runa econmica, as presses externas e a perda do apoio da aristocracia e da burguesia fizeram com que seu prestgio decasse. Capturado em So Marcos, foi condenado pelo papa como herege e promovedor de cismas. Barbaramente torturado, Savonarola foi enforcado e queimado pelo novo Conselho de Florena.
Falar na Reforma Protestante agora, quando se celebram os 500 anos do movimento, prestar tributo a pessoas, acontecimentos e movimentos de longa durao, sem os quais, provavelmente, ela no aconteceria da maneira como a conhecemos hoje. Lembremo-nos ainda de outros precursores, como Guilherme de Ockham (1285-1349) e Erasmo de Roterd (1466-1536), bem como msticos medievais como Mestre Eckhart (1260-1328), Juan de Ruysbroeck (1293-1381), Gerardo de Groot (1340-1384), Thomas Kempis (1380-1471) e os Irmos da Vida Comum. Com estas testemunhas e mrtires, aprendemos que o movimento que mudou os rumos da Igreja foi precedido pela opo que geraes de cristos e crists fizeram pela prtica de vida simples, radical e questionadora das alianas entre as hierarquias eclesisticas e os poderes opressores da histria.
Lyndon de Arajo Santos historiador, professor universitrio e pastor da Igreja Evanglica Congregacional em So Lus, MA. Faz parte da Fraternidade Teolgica Latino-americana - Setor Brasil (FTL-Br).
- Textos publicados: 35 [ver]
20 de junho de 2017
- Visualizaes: 23262
comente!
- +A
- -A
-
compartilhar
QUE BOM QUE VOC CHEGOU AT AQUI. 223i1k
Ultimato quer falar com voc.
A cada dia, mais de dez mil usurios navegam pelo Portal Ultimato. Leem e compartilham gratuitamente dezenas de blogs e hotsites, alm do acervo digital da revista Ultimato, centenas de estudos bblicos, devocionais dirias de autores como John Stott, Eugene Peterson, C. S. Lewis, entre outros, alm de artigos, notcias e servios que so atualizados diariamente nas diferentes plataformas e redes sociais.
PARA CONTINUAR, precisamos do seu apoio. Compartilhe conosco um cafezinho.

Leia mais em Opinio 2l1v6s

Opinio do leitor 1t5dh
Para comentar necessrio estar logado no site. Clique aqui para fazer o ou o seu cadastro.
Ainda no h comentrios sobre este texto. Seja o primeiro a comentar!
Escreva um artigo em resposta
Para escrever uma resposta necessrio estar cadastrado no site. Clique aqui para fazer o ou seu cadastro.
Ainda no h artigos publicados na seo "Palavra do leitor" em resposta a este texto.
Assuntos em ltimas 6ik57
- 500AnosReforma
- Aconteceu Comigo
- Aconteceu h...
- Agenda50anos
- Arte e Cultura
- Biografia e Histria
- Casamento e Famlia
- Cincia
- Devocionrio
- Espiritualidade
- Estudo Bblico
- Evangelizao e Misses
- tica e Comportamento
- Igreja e Liderana
- Igreja em ao
- Institucional
- Juventude
- Legado e Louvor
- Meio Ambiente
- Poltica e Sociedade
- Reportagem
- Resenha
- Sessenta +
- Srie Cincia e F Crist
- Teologia e Doutrina
- Testemunho
- Vida Crist
Revista Ultimato 5z423b
+ lidos 1s1q68
- A bno de ter avs e de ser avs
- Francisco, Samuel Escobar memria e honra
- Adolescncia: No preciso uma segunda temporada
- Os Jardins do den e a Sombra de Abel: uma jornada pela aposentadoria
- F, transformao social e incluso vida e obra de Jos de Souza Marques
- Abel e Zacarias: encontrando misso na aposentadoria avanada
- Paul Tournier e a Bblia
- Ser ou no ser me: eis a questo
- Filme Jesus traduzido para a 2.200 lngua, o Bouna
- A nova edio da revista Ultimato chegou