Natal: mosquitos, camelos, vinho e cerveja 376c2w

De acordo com Jesus, os fariseus de seu tempo eram guias cegos que coavam o mosquito, mas engoliam o camelo (Mt 23.24). Ao fazer essa declarao Jesus estava repetindo o que acabara de afirmar sobre o cuidado deles com as coisas menores, enquanto se esqueciam das mais importantes. Davam o dzimo da menta, do endro e do cominho, verdadeiras pragas em qualquer horta, mas ignoravam a justia, a misericrdia e a fidelidade, desse modo coando um mosquito enquanto engoliam o camelo.

Precisamos conferir as prioridades e valores em nossas escolhas e posies. No ser difcil ficar com um p no farisasmo. Ou com os dois ps.

Lembro-me de um irmo de outras terras que nos visitou no Brasil. Era dezembro e ele ficou muito chocado por ver que enfeitamos nossos ambientes com rvores de Natal. Para ele, esse smbolo com origens pags no deveria ser adotado entre ns. Sua adoo definiu ele, sem concesses era pecaminosa. Para ele no se tratava de uma questo de gosto ou preferncia. O homem ficou ofendido com essa sombra de paganismo entre os crentes brasileiros. Algum tempo depois, tive o privilgio de encontrar esse irmo em seu prprio pas e de participar de um jantar oferecido por ele. Grande anfitrio, assim que terminou de orar agradecendo a refeio, ele nos informou que seria servido vinho, mas os que preferissem poderiam pedir cerveja. Alguns disseram fervorosamente amm. Outros concordariam que bebidas alcolicas no so para o crente uma questo de preferncia, em qualquer dosagem que seja. Isso no coisa para cristos, insistem. pecado. Esses assim escandalizados ficaro ofendidos com o mundanismo dos beberres e alguns deles s deixaro de lamentar essa falta grave quando estiverem no domingo tarde assistindo pela televiso um jogo de futebol de seu time, numa flagrante quebra do Dia do Senhor. Exatamente. Temos entre ns tambm os que se lembram do carter sagrado desse dia e ficaro ofendidos com essa violao, insistindo ento que ela no configura apenas um jeito diferente de ser crente. pecado mesmo.

A lista de ofensas e de reaes a elas poderia continuar, mas que ningum suponha estar eu a zombar dessas e de outras sensibilidades. Comentando a agem sobre os fortes e os fracos da Igreja de Roma, Hendriksen menciona o que os dois grupos os fortes e os fracos tinham em comum: os membros de cada grupo devem ser considerados como crentes genunos (Rm 14.1-4, 6, 10, 13), cada grupo criticava o outro (14.3-4, 13), mas cada grupo ter de prestar ao Senhor contas de si mesmo (14.11). evidente que minha citao dessa agem far os chamados fracos em qualquer dos pontos mencionados saltar e afirmar que estamos falando de problemas diferentes. Tipicamente, a escolha de cada um na opinio dessa mesma pessoa a escolha que todos deveriam fazer.

Se iremos, porm, ser fiis Escritura, teremos de recordar que Jesus no descartou a minuciosa contabilidade dos fariseus. O que ele fez foi restabelecer a ordem das prioridades. Os fariseus davam o dzimo de tudo, mas no se empolgavam com os preceitos mais importantes da Lei: a justia, a misericrdia e a f. Da o veredito inclusivo do Mestre: deveis, porm, fazer estas coisas, sem omitir aquelas (Mt 23.23).

Sculos antes desse episdio, colocado diante de Deus em julgamento por sua rebeldia (Mq 6.1-2) o povo de Jud sugeriu que o prprio cumprimento das prticas cerimoniais parecia no estar satisfazendo as exigncias divinas. Da sua pergunta provocativa e insolente: Com que me apresentarei ao Senhor e me inclinarei ante o Deus excelso">Mais que luzes e adereos