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De homens novos e pases srios 1f4b1r

Quando pensamos na possibilidade de melhorar o mundo, tudo depende de nossa viso do homem. Comecemos pelo homem sem Cristo: de que ele capaz? Aqui, duas doutrinas bblicas precisam ser mantidas em equilbrio: a depravao total e a graa comum.

A primeira no significa que todas as pessoas no-convertidas agem sempre de uma forma depravada, mas que o pecado afeta todas as reas da vida humana. Refere-se extenso do pecado, e no sua profundidade. A graa comum, por sua vez, no a graa salvadora que atinge aqueles que esto em Cristo, mas a graa de Deus humanidade em geral, pela qual o homem continua sendo capaz de buscar a beleza, a verdade e o bem. Pensemos na relao entre a depravao total e a graa comum, distinguindo-a de duas concepes falsas. Imaginemos a vida do homem sem Cristo em todas as suas dimenses como um copo cheio de gua. A primeira ideia falsa : o homem est em estado de completa depravao moral, e dele no se pode esperar nada de bom, a no ser que se converta a Cristo. E a segunda ideia falsa : o homem foi afetado pelo pecado em apenas algumas reas de sua vida; outras permaneceram intocadas. Esta a viso do homem subjacente a todas as utopias, baseadas ou na educao do indivduo ou na transformao das estruturas.

Finalmente, chegamos viso bblica, correta. Todas as reas da vida do homem saem do copo afetadas tanto pela depravao total como pela graa comum; as propores de cada elemento variam de acordo com a natureza da ao.

Nenhuma realizao humana est isenta dos efeitos do pecado; mesmo as aes mais altrustas tm um lado sombrio. Mas a graa comum de Deus tambm est presente em todos os espaos da vida, fundamentando um otimismo bblico realista. Isso, sem levar em conta os efeitos da converso a Cristo.

Transforme o homem e ele transformar a sociedade?
A relao entre mudana estrutural e mudana individual sempre foi muito discutida. A sociedade se transforma pela transformao dos indivduos ou pela transformao das estruturas? Na realidade, trata-se de uma pista falsa. O ser humano no existe fora das estruturas sociais (as experincias medievais em que as crianas foram mantidas totalmente sem contato humano levaram morte precoce das cobaias), e as estruturas no existem sem os indivduos que delas fazem parte. A relao entre comportamento individual e estruturas funciona nos dois sentidos. At o marxismo, tido como exemplo clssico de proposta social que pe toda a nfase na mudana estrutural, fala de um homem novo que surgir no socialismo. A existncia desse homem novo (no um ou dois, mas como fenmeno de massas) precondio para a construo do comunismo, ou seja, a sociedade sem classes. Em outras palavras, para a ltima mudana estrutural da histria, necessria uma mudana no homem. Como produzir esse homem novo foi a preocupao central de todas as experincias marxistas j realizadas. Em alguns momentos os cristos, percebendo isso, chegaram a sugerir que talvez o cristianismo tivesse uma receita interessante.

Mas, nesse caso, j estamos falando de homens novos cristos e no de convertidos ou nascidos de novo. No se trata da mesma coisa! A converso apenas o incio de uma transformao progressiva rumo renovao da imagem de Deus em ns. Embora o Esprito Santo possa nos falar diretamente, ele costuma usar meios como a Bblia, livros, mensagens, o conselho e incentivo de irmos na f, e assim por diante. Logo, muita coisa depende do tipo de ensino que recebemos. Quando as implicaes sociais do evangelho no so ensinadas, dificilmente os convertidos, por mais numerosos que sejam, transformaro a sociedade. Isso inclui o caso dos avivamentos. Lembro-me de um seminrio em um congresso evanglico no qual o dirigente disse que a desgraa do Brasil era no ter tido avivamentos evanglicos como a Alemanha, a Inglaterra e os Estados Unidos tiveram. Em seguida, arrasou com o Brasil, usando at a famosa frase atribuda (erroneamente) a De Gaulle: Este no um pas srio. Mas tudo depende da qualidade do ensino que acompanha e sucede o reavivamento; afinal, a regio conhecida como o cinturo bblico dos Estados Unidos tambm a regio do pior racismo. Alm do mais, h pases que nunca tiveram reavivamentos cristos mas que ningum acusaria de no serem pases srios, como o Japo, por exemplo.

A converso no leva automaticamente s atitudes e aes corretas em favor das transformaes sociais. Mas o mais grave que, quando um evanglico brasileiro, tendo recebido um ensino srio nessa rea, tenta agir de acordo, corre risco de ser marginalizado e at disciplinado por sua igreja. Samuel Escobar afirma:
No ado, nos disseram para no nos preocupar em mudar a sociedade porque precisamos mesmo de mudar os homens. Homens novos mudaro a sociedade. Mas quando os homens novos comeam a se interessar em mudar a sociedade, so avisados para no se preocuparem, que o mundo sempre foi mau, que esperamos novos cus e nova terra...1

Os que assim pensam, longe de serem defensores da tarefa evangelstica da igreja, como imaginam, esto criando impedimentos tanto para a evangelizao como para a contribuio crist transformao da sociedade. Como disse o grande reavivalista Finney, impedem-se os reavivamentos quando pastores e igrejas assumem posies erradas sobre qualquer questo de direitos humanos.

Finney, com a escola que fundou, deu grandes contribuies para causas como o feminismo, o movimento pela paz e a doutrina da desobedincia civil. Mas seus comentrios sobre essas questes foram cortados das edies posteriores de suas obras!2
Faramos bem em retroceder uns 3 mil anos para aprendermos com o exemplo de um dos primeiros homens novos transformados pelo encontro com o Deus de Israel. Moiss sabia que os homens novos tm que agir sobre as estruturas, porque as estruturas no se reduzem soma das caractersticas dos indivduos. Nas suas leis, incluiu no s exortaes generosidade individual, mas mecanismos legais (Lei do Jubileu, Lei do Ano Sabtico etc.) para impedir que a estrutura social justa cedesse, insensivelmente ao longo dos sculos, a estruturas de desigualdade e opresso. Geraes depois, os profetas tiveram que avisar a muitos convertidos (mas no homens novos) que as suas oraes causavam nuseas a Deus enquanto eles fossem coniventes com as estruturas inquas que a negligncia em relao s leis de Moiss havia criado.

Logo, a questo no se a converso leva transformao social, mas se a converso leva a homens novos! Resumindo, de uma forma talvez chocante, precisamos de homens novos, no de homens nascidos de novo!

A ltima palavra de um escritor moderno que no era profeta nem cristo. Mas quem sabe, pela graa comum, ele possa se tornar veculo de uma palavra proftica do Senhor. Segundo o filsofo existencialista francs Albert Camus:
O mundo espera dos cristos que elevem as suas vozes to alta e to claramente, e formulem o seu protesto de tal forma que nem mesmo a pessoa mais simples fique em dvida quanto ao que esto dizendo. E mais: o mundo espera dos cristos que rejeitem todas as abstraes vagas e se coloquem firmemente diante do rosto sangrento da histria.3

Notas
1. Citado em QUEBEDEAUX, Richard. The Young Evangelicals. Nova
York: Harper & Row, 1974. p. 55.
2. COOK, Guillermo. The Expectation of the Poor. Maryknoll: Orbis,
1985. p. 212.
3. Citado em QUEBEDEAUX, Richard. Op. cit. p. 118.

Nota: Captulo 17 do livro Religio e Poltica, Sim; Igreja e Estado, No, publicado pela Editora Ultimato.

Leia tambm
Cristianismo e Poltica
A Igreja, o Pas e Mundo
Cristos e poltica: uma relao imprescindvel
Teologia Poltica
Autor de "Religio e Poltica, sim; Igreja e Estado, no" e "Nem Monge, Nem Executivo - Jesus: um modelo de espiritualidade invertida", ambos pela Editora Ultimato; e "Neemias, Um Profissional a Servio do Reino" e "Quem Perde, Ganha", pela ABU Editora, Paul Freston, ingls naturalizado brasileiro, doutor em sociologia pela UNICAMP. professor do programa de ps-graduao em cincias sociais na Universidade Federal de So Carlos e, desde 2003, professor catedrtico de sociologia no Calvin College, nos Estados Unidos. colunista da revista Ultimato.
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