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08 de maro de 2018
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Da academia teologia, a mulher vive entre o preconceito e a desvalorizao 314e65
Por Gabriele Greggersen
Devo ter sido uma das mulheres mais jovens a conseguirem um doutorado na USP, no final dos anos 90. Isso na rea de humanas, mais precisamente, educao, que sempre foi dominada por mulheres. Mas, um artigo recente [1] apontou que, embora as mulheres sejam maioria nos cursos de graduao, elas vo se tornando cada vez mais raras, em geral, medida que vo galgando a carreira acadmica. O artigo tambm mostrou que uma enquete da Folha de S. Paulo, feita em 2016, sobre o posicionamento dos intelectuais sobre a gesto Dilma Rousseff, constatou que havia apenas trs mulheres entre os trinta entrevistados.
O texto mencionou ainda que:
As mulheres so, atualmente, 60% dos estudantes universitrios brasileiros; entre os mestres, so 53%; entre os doutores, caem para 47%. Na hora de avanar na carreira, no entanto, vai se acentuando de forma assustadora a tendncia j visvel nos dados anteriores: somos apenas 23% entre os pesquisadores 1A do CNPq, e muito menos do que isso entre os professores titulares.
Quando se trata de incentivos pesquisa pelos rgos de fomento, novamente os homens so os recordistas e as reas por eles dominadas so as privilegiadas. Tambm so raras as mulheres que ajudam a decidir a concesso de verbas no CNPq e na Capes. A articulista do texto cita vrios possveis motivos para tal, desde o autoconceito baixo, at a queda de desempenho das mulheres ao longo dos anos de sua carreira, mas nenhum to convincente quanto o mais puro preconceito. Para isso, as mulheres representam 84% dos profissionais da educao bsica e de outras profisses que aparentemente exigem menos qualificao. O que acontece, na verdade, muito antes que as profisses dominadas por mulheres que so consideradas desqualificadas. Mas ningum fala sobre isso nas universidades. H um completo silncio sobre o assunto.
J o artigo de Jacqueline Leta [2] diz que o percentual de mulheres nos cursos de graduao e ps no Brasil tem aumentado, desde a metade do sculo XX, e que hoje a proporo de mulheres doutoras supera a dos homens.
Mas h ainda uma segregao territorial e hierrquica, sendo que as mulheres se concentram em determinadas reas e so menos reconhecidas do que os homens, tanto em termos de prestgio, quanto salarial.
Apesar de esse artigo ser mais positivo e otimista em relao ao percentual das mulheres que se destacam no meio acadmico, os homens continuam a ser privilegiados em termos de produtividade e reconhecimento de desempenho acadmico.
Finalmente, o artigo de Pablo Nogueira [3] faz referncia primeira doutora e professora da Sorbonne, Marie Curie, que se destacou na rea de Fsica. Mas ele diz que, hoje, embora a estatstica geral da presena das mulheres no banco de pesquisadores do CNPq se equipare dos homens, esse fenmeno muito setorial. Enquanto elas so a maioria nas letras, lingustica e reas da sade, so minoria nas reas das cincias duras, como a matemtica e as engenharias.
A presena de esteretipos com relao ao papel da mulher na famlia e na sociedade faz com que elas procurem mais as cincias ligadas educao, aos alimentos, ao cuidado de sade, como enfermagem, entre outros. Consequentemente, essas reas tambm so menos valorizadas.
E, pasmem, h discusses amplas at sobre a pretensa superioridade cognitiva e biolgica do crebro masculino, baseadas em resultados de testes de matemtica entre homens e mulheres, mas, alm de a proporo de mulheres que se do bem nesses testes ter aumentado vertiginosamente nos ltimos anos, no poucos trabalhos cientficos questionam essas pesquisas de base evolutiva.
Tambm se constatou uma relao da desvalorizao da mulher com sua procedncia social. As mulheres em geral procuram os cursos menos valorizados, ou so menos valorizadas por procurarem esses cursos o que veio antes, o ovo ou a galinha?
Finalmente, a relao entre pesquisa, docncia e orientao tem sido desigual. Enquanto os homens se dedicam mais pesquisa, que mais valorizada pelos rgos de fomento pesquisa e nos concursos pblicos, as mulheres se dedicam mais docncia e orientao de trabalhos acadmicos.
Elas tambm encontram mais obstculos para subirem na carreira acadmica.
Mas nos ltimos anos, tm surgido polticas diversas para o incentivo da presena das mulheres no meio acadmico, principalmente voltadas para o apoio famlia dessas mulheres, como extenso do prazo da bolsa para gestantes e concesso de auxlios famlia para bolsistas.
Eu poderia, agora, falar das muitas outras mulheres que se destacaram na cincia ao longo dos anos, o que justificaria mais um artigo, mas prefiro falar delas no campo da teologia.
Para termos uma ideia do quanto ainda estamos na face oculta da lua no campo da teologia basta olhar para o corpo docente das grandes faculdades de teologia, para o conselho editorial das revistas teolgicas, ou quem convidado para ser palestrante nos grandes eventos teolgicos. E isso, no apenas por causa da no ordenao de mulheres por algumas denominaes, mas tambm devido ao esteretipo de que a teologia seja coisa de homem. Posso afirmar, por experincia, que isso um mito, ou melhor, um preconceito, e que a teologia brasileira cresceria muito se desse mais espao s mulheres. Que tal nos mobilizarmos nesse sentido?
Notas:
[1] Mulheres nas universidades: por que precisamos aprender a contar? [Rosane Pinheiro Machado]
[2] A presena da mulher brasileira no mundo acadmico e cientfico [Jacqueline Leta]
[3] Mulheres cientistas ainda sofrem com esteretipos no meio acadmico [Pablo Nogueira]
Leia mais
A dignificao do feminino em seis mulheres na Bblia
Eva e a identidade feminina
Vozes femininas da Reforma no bero do catolicismo
Deixem que Elas Mesmas Falem [Elben Csar]
Mulheres que conciliaram trabalho e pregao, contemplao e caridade

O texto mencionou ainda que:
As mulheres so, atualmente, 60% dos estudantes universitrios brasileiros; entre os mestres, so 53%; entre os doutores, caem para 47%. Na hora de avanar na carreira, no entanto, vai se acentuando de forma assustadora a tendncia j visvel nos dados anteriores: somos apenas 23% entre os pesquisadores 1A do CNPq, e muito menos do que isso entre os professores titulares.
Quando se trata de incentivos pesquisa pelos rgos de fomento, novamente os homens so os recordistas e as reas por eles dominadas so as privilegiadas. Tambm so raras as mulheres que ajudam a decidir a concesso de verbas no CNPq e na Capes. A articulista do texto cita vrios possveis motivos para tal, desde o autoconceito baixo, at a queda de desempenho das mulheres ao longo dos anos de sua carreira, mas nenhum to convincente quanto o mais puro preconceito. Para isso, as mulheres representam 84% dos profissionais da educao bsica e de outras profisses que aparentemente exigem menos qualificao. O que acontece, na verdade, muito antes que as profisses dominadas por mulheres que so consideradas desqualificadas. Mas ningum fala sobre isso nas universidades. H um completo silncio sobre o assunto.
J o artigo de Jacqueline Leta [2] diz que o percentual de mulheres nos cursos de graduao e ps no Brasil tem aumentado, desde a metade do sculo XX, e que hoje a proporo de mulheres doutoras supera a dos homens.
Mas h ainda uma segregao territorial e hierrquica, sendo que as mulheres se concentram em determinadas reas e so menos reconhecidas do que os homens, tanto em termos de prestgio, quanto salarial.
Apesar de esse artigo ser mais positivo e otimista em relao ao percentual das mulheres que se destacam no meio acadmico, os homens continuam a ser privilegiados em termos de produtividade e reconhecimento de desempenho acadmico.
Finalmente, o artigo de Pablo Nogueira [3] faz referncia primeira doutora e professora da Sorbonne, Marie Curie, que se destacou na rea de Fsica. Mas ele diz que, hoje, embora a estatstica geral da presena das mulheres no banco de pesquisadores do CNPq se equipare dos homens, esse fenmeno muito setorial. Enquanto elas so a maioria nas letras, lingustica e reas da sade, so minoria nas reas das cincias duras, como a matemtica e as engenharias.
A presena de esteretipos com relao ao papel da mulher na famlia e na sociedade faz com que elas procurem mais as cincias ligadas educao, aos alimentos, ao cuidado de sade, como enfermagem, entre outros. Consequentemente, essas reas tambm so menos valorizadas.
E, pasmem, h discusses amplas at sobre a pretensa superioridade cognitiva e biolgica do crebro masculino, baseadas em resultados de testes de matemtica entre homens e mulheres, mas, alm de a proporo de mulheres que se do bem nesses testes ter aumentado vertiginosamente nos ltimos anos, no poucos trabalhos cientficos questionam essas pesquisas de base evolutiva.
Tambm se constatou uma relao da desvalorizao da mulher com sua procedncia social. As mulheres em geral procuram os cursos menos valorizados, ou so menos valorizadas por procurarem esses cursos o que veio antes, o ovo ou a galinha?
Finalmente, a relao entre pesquisa, docncia e orientao tem sido desigual. Enquanto os homens se dedicam mais pesquisa, que mais valorizada pelos rgos de fomento pesquisa e nos concursos pblicos, as mulheres se dedicam mais docncia e orientao de trabalhos acadmicos.
Elas tambm encontram mais obstculos para subirem na carreira acadmica.
Mas nos ltimos anos, tm surgido polticas diversas para o incentivo da presena das mulheres no meio acadmico, principalmente voltadas para o apoio famlia dessas mulheres, como extenso do prazo da bolsa para gestantes e concesso de auxlios famlia para bolsistas.
Eu poderia, agora, falar das muitas outras mulheres que se destacaram na cincia ao longo dos anos, o que justificaria mais um artigo, mas prefiro falar delas no campo da teologia.
Para termos uma ideia do quanto ainda estamos na face oculta da lua no campo da teologia basta olhar para o corpo docente das grandes faculdades de teologia, para o conselho editorial das revistas teolgicas, ou quem convidado para ser palestrante nos grandes eventos teolgicos. E isso, no apenas por causa da no ordenao de mulheres por algumas denominaes, mas tambm devido ao esteretipo de que a teologia seja coisa de homem. Posso afirmar, por experincia, que isso um mito, ou melhor, um preconceito, e que a teologia brasileira cresceria muito se desse mais espao s mulheres. Que tal nos mobilizarmos nesse sentido?
Notas:
[1] Mulheres nas universidades: por que precisamos aprender a contar? [Rosane Pinheiro Machado]
[2] A presena da mulher brasileira no mundo acadmico e cientfico [Jacqueline Leta]
[3] Mulheres cientistas ainda sofrem com esteretipos no meio acadmico [Pablo Nogueira]
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A dignificao do feminino em seis mulheres na Bblia
Eva e a identidade feminina
Vozes femininas da Reforma no bero do catolicismo
Deixem que Elas Mesmas Falem [Elben Csar]
Mulheres que conciliaram trabalho e pregao, contemplao e caridade
ɠmestre e doutora em educao (USP) e doutora em estudos da traduo (UFSC). autora de O Senhor dos Anis: da fantasia tica e tradutora de Um Ano com C.S. Lewis e Deus em Questo. Costuma se identificar como missionria no mundo acadmico. criadora e editora do site www.cslewis.com.br
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