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30 de novembro de 2018
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"Corremos o perigo de ter uma teologia de consumo, que evita a dor" 1d3n3m
Elizete Zaz Lima | Entrevista
A viso de muitas ONGs e ministrios que trabalham na crise continua a resistir aos altos e baixos polticos e a apresentar solues temporrias. "Poderamos ter avanado mais em nossa maneira de acolher", diz a diretora internacional do PMI, Zaz Lima.
Embora confesse estar assustada com a reviravolta que alguns pases da Europa tm em relao recepo e gesto de suas fronteiras, ela considera que ainda h oportunidades para reverter a direo. "Voc tem que ter uma voz proftica e essa voz de resistncia.
Uma resistncia que, para ela, tambm a pela teologia que estudada e praticada. "Talvez tenhamos muito a aprender de uma teologia em que a igreja no se vitimiza pelo seu sofrimento, mas que o acolhe como parte de sua natureza".
Nos ltimos anos tem se falado muito e de diferentes maneiras sobre os refugiados e os movimentos migratrios. Onde estamos agora?
Resposta: Embora todas as culturas tenham sido formadas atravs da imigrao, algo que no podemos esquecer, hoje h uma polarizao muito grande. H uma grande rejeio do que diferente. Isso bem doloroso. H muito temor, muito medo entre as culturas, e h uma poltica de rejeio de imigrantes e refugiados. Existem at mesmo muitos preconceitos apenas pela linguagem. A muitos que deixam seus pases, chamamos "expatriados", enquanto a outros "refugiados". Ser refugiado no a identidade da pessoa, mas um momento da vida dela. uma pessoa em situao de refgio. Voc tem que definir a pessoa com base em sua identidade como pessoa. A partir da sua humanidade. isso que compartilhamos, humanidade.
A crise que estamos vivenciando hoje no uma crise daqui ou dali, mas da humanidade e devemos enfrent-la a partir de nossa humanidade compartilhada. De nossa dignidade compartilhada. E eu falo como uma discpula de Cristo, baseada na convico de que todos ns carregamos a Imago Dei, a imagem de Deus em nossa identidade.
Penso que em relao Europa, e tambm Espanha, poderamos ter feito mais progressos na nossa maneira de receber pessoas que hoje vivem um momento histrico muito difcil e complexo. Muitos europeus partiram h mais de 500 anos para outros lugares para construir civilizaes, muitos a preo de sangue, e isso deve nos levar a refletir com um pouco mais de humildade. Temos tido algumas atitudes em nvel governamental e tambm comunitrio que so de receber e participar do que est acontecendo no mundo, suas guerras e seus genocdios. Mas muitas vezes somos silenciados por tanta dor, embora havendo esperana. Damos os adiante e depois recuamos. Tivemos uma Itlia que hospedou e lanou projetos pilotos e, de repente, ou para uma atitude agressiva, fechando fronteiras. H falta de humildade e sensibilidade por parte das foras governamentais e polticas, mas tambm de civis da Europa, diante da realidade das naes que esto sofrendo hoje.
Tomando o exemplo da Itlia. Como isso afeta o fato do governo decidir negar permisso a uma ONG para desembarcar centenas de pessoas que foram resgatadas?
R: Encontramos pessoas que sofrem uma realidade dolorosa. Isso nos afeta. Ns no propomos que voc no tenha que pedir recepes bem organizadas, e ser ingnuo quando se trata de receber pessoas, pensando que algo assim no tem complexidade, porque uma questo complexa.
Ns no queremos simplificar, mas acho que h maneiras de receber pessoas sem fechar os portos. Como organizao, somos os primeiros afetados em nossa identidade, porque temos uma identidade que a imagem de Deus compartilhada com cada pessoa, que deve ser respeitada, protegida e amada. Sua dignidade precisa ser reafirmada. Portanto, com base em nossa identidade, nossos valores, j estamos afetados. De uma maneira mais prtica, tambm somos afetados porque as pessoas que encontramos nessa jornada esto sofrendo. Elas nos contam suas histrias e tambm ouvem as nossas. No estou falando de um olhar assistencialista, mas dignificante.
E isso nos afeta no sentido de pensar que houve tanto progresso em direitos humanos, em algumas liberdades civis, em algumas leis, mas somos constantemente confrontados com realidades de crueldade, de uma grande pretenso humana. Isso nos afeta porque eles so amigos, pessoas que apreciamos. Existem muitos mitos que precisam ser desconstrudos. Voc tem que ter uma aparncia mais humana e digna.
E como resolvemos tudo isso?
R: No tenho respostas, mas sei que a resposta no rejeio. Muitas pessoas vm de outros pases com educao formal e devemos saber como inclu-las. Criar espaos no s para uma assistncia social, mas para desenvolver seus dons e assim dar sua contribuio. H tambm o fato de se envolver na reconstruo dos pases de origem, por exemplo, a Sria. No devemos esquecer que muitas pessoas deixaram suas casas fora.
Tudo o que temos como naes e pases, fruto do amor e da generosidade de Deus e, portanto, devemos saber compartilhar. Eu acredito que a riqueza de uma nao saber compartilhar sua diversidade, e ns devemos encontrar maneiras de alcanar essa beleza da diversidade e, ao mesmo tempo, trabalhar nos medos que existem.
Mas voc no tem um sentimento de impotencia sabendo que existem fatores externos?
R: Sim, esse sentimento existe. Mas voc tem que ter uma voz proftica, e essa voz de resistncia. Na Bblia, vozes profticas frequentemente emergem do que est margem. curioso ver como o esprito de Deus deixa o templo e vai para os cativos, para os refugiados. Essa voz proftica precisa ser ouvida, mesmo ela sendo to fraca como muitas vezes acontece. Alm disso, tudo deve ser colocado na perspectiva da soberania de Deus. Um Deus que ama refugiados e imigrantes. A trajetria bblica nos mostra um Deus comivo que sempre nos convida a amar o estrangeiro que est entre ns. Identificados com Jesus, que resistiu at o final, tambm somos convidados resistncia. Uma resistncia pacfica, mas que no se deixa vencer pelas circunstncias e, ao mesmo tempo, uma esperana, porque h muitas pessoas que querem fazer o melhor. Um remanescente que incorpora aquela voz proftica e que tem que continuar fazendo barulho, apesar de tudo.
Voc trabalhou com muitas pessoas de diferentes pases, mas as pessoas geralmente nao gostam do assunto. Como podemos evitar generalizaes?
R: Eu me lembro que a Tunsia mostrou uma enorme solidariedade depois de sua ltima revoluo, em 2011, recebendo muitas pessoas que vieram da Lbia, que ava pela revoluo rabe. Eu estava no sul do pas e todos os dias chegava uma fila de 15 mil pessoas. Comida e ch foram preparados e compartilhados. No havia "eles" e "ns", mas sim nossa humanidade. Cada um com suas histrias e dilemas. E tudo era compartilhado, entendendo que as pessoas estavam saindo por causa de uma circunstncia e que alm de refugiados, so pessoas com dignidade e coragem. Portanto, acho que temos que mudar esse olhar e caminhar em direo ao encontro. Voc tem que fazer essa reunio para no colocar todas as pessoas em uma pequena caixa e dar-lhes a oportunidade de sair de l e mostrar uma beleza, uma humanidade to grande. A questo que surge quem eles so, mas talvez deva ser quem somos ns. Ou o que fazemos. Que respostas procuramos, que valores expressamos. isso que vai falar sobre ns e nossa disposio para nos identificarmos com Jesus na morte e ressurreio.
Eu aprendi muito com pessoas em situao de refgio. Eu tenho visto uma grande capacidade de perdo por parte de pessoas que perderam suas famlias e seus pertences, falando sobre a construo de uma realidade diferente. por isso que acredito que devemos abrir as fronteiras e descobrir formas mais dignas de receber essas pessoas para mudar essa realidade.
Por que voc acha que nem toda a igreja v isso da mesma maneira?
R: Pela nossa teologia, em parte. Temos uma teologia protecionista, de manuteno, diante da qual acredito que necessrio ler mais o Evangelho e identificar-se com Jesus. A igreja de Cristo no interior, mas exterior. A viso que foi criada de ser uma igreja interior nos trouxe a perspectiva de nos fecharmos, de cuidarmos de ns mesmos, de nos protegermos, quando na realidade Jesus nos chama a sair, a olhar para as estrelas, a abenoar naes. o chamado para Abrao. o chamado para olhar as estrelas, e aqui elas no parecem melhores do que nos campos de refugiados. Alm do mais, o cu mais claro l.
Jesus sempre nos convidou a assumir riscos, mas hoje pensamos em nos proteger e manter nossas fronteiras. Nossas comunidades devem ser transformadoras, envolventes e acolhedoras. Igrejas que so teraputicas, de cura e celebrao. Nesse sentido, nossa teologia no nos fez bem em muitas ocasies. Devemos olhar para Cristo e no nos contentar com uma teologia que nos coloca em um lugar, protegidos, como uma instituio vazia de vida e amor. um chamado para revisitar o evangelho e olhar para ele, na perspectiva de Jesus.
Nossa maneira de ler a Bblia precisa ser desafiada com humildade em nossos espaos de reunio. O evangelho sempre nos convida a dar outro o em direo cruz e no em direo nossa zona de conforto. Temos que revisar essa perspectiva.
Nunca me falaram antes sobre uma dimenso teolgica na crise migratria.
R: Corremos o risco de ter uma teologia do consumo, que evita a dor. Talvez tenhamos muito a aprender de uma teologia em que a igreja no se vitimiza em seu sofrimento, mas que a acolhe como parte de sua natureza. O sofrimento faz parte do caminho para a cruz. Jesus nos chamou para fazer parte de seu sofrimento. Temos que comear com essa voz proftica, aqui e ali, uma reflexo mais profunda. Ns fingimos que queremos proteger Deus, quando ele no precisa, porque ele se exps morte.
Nota: Entrevista originalmente publicada em espanhol no siteProtestante Digital. Reproduzida com permisso.
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Traduo: Caleb Arriagada Camargo
Foto: Jonatn Soriano (reproduo)
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