Cinema e igreja entre o real e a fico 4465f

Leandro Gonalves Lana

De acordo com o terico do cinema Jean Louis Comolli as representaes teatrais e os filmes de fico tm como motivo essencial instalar uma distancia entre o mundo e ns. O cinema suspende o tempo ordinrio da vida. Por um momento premeditado ele nos tira as realidades que insistem em bater porta sem serem chamadas.

O cinema documentrio, por outra via, pretende nos incomodar com o real; tem por objetivo tornar visvel realidades encobertas por motivos de toda sorte. Pessoas, lugares, conflitos, situaes das mais variadas... no mundo h muita coisa que o sistema no quer mostrar e muita gente no quer ver. a que entra o cinema documentrio, que s pode mostrar o no visto e dar voz aos mudos devido aos baixos custos que envolvem as produes e ao fato desse gnero no ter sido abocanhado pelas grandes corporaes.

Vejo aqui uma grande similaridade com o universo religioso cristo.

O que pretendem as grandes corporaes evanglicas com seus cultos espetacularizados, se no nos tirar deste mundo por um breve instante de tempo?

Atores, diretores, cenrios, figurinos, trilha sonora, est tudo ali, como num grande filme de ao. Essa produo toda custa caro, claro, e o investimento, para nossa sorte, no vem de leis de incentivo. Muita gente paga ingresso, e, por um acaso do destino (e tristeza dos cinfilos), muitas vezes em salas de cinema compradas ou alugadas. As caractersticas em comum no acabam e poderia discorrer bastante aqui, mas meu interesse ainda o real (no desmerecendo os bons filmes de fico, claro).

Do outro lado da margem, h aqueles que querem viver um evangelho puro e simples, alternativo, primitivo talvez. Creio que os objetivos destes se aproximam muito do universo dos documentrios, ou deveriam. Aqui no se carece e nem h pretenso de atores profissionais, o cenrio a parte da sombra, so as realidades invisveis, aquilo que os homens tentam afastar dos olhos para no chegar ao corao.

O oramento baixo e se vive sob o risco do real. Vejo nisso uma grande potencialidade, pois o que possibilita alguma inovao em um meio to roteirizado como o evanglico.

Assim como o cinema nasceu documentrio com os irmos Lumire, a igreja nasceu simples e visionria com Jesus. Ningum melhor que ele nos ensinou a ver e nos incomodar com a realidade do ser humano sem necessidade de altos custos.

Pensadores do cinema de todo o mundo apontam o documentrio como o gnero que pode ainda trazer o novo e nos livrar dos espetculos roteirizados, redundantes e prostitudos que alienam milhares pela TV e o cinema comercial.

Acredito da mesma forma que as igrejas, de fato, alternativas (comprometidas com Cristo e nada mais) tambm so motivos de esperana.

O mundo jaz no maligno, e certamente todo espetacularizado, mas as palavras do mestre ainda ecoam nos desertos: No peo que os tires do mundo, mas que os livre do mal (Jo17.15).


Leandro Gonalves Lana graduando em Cincias Sociais e reside em Belo Horizonte.

Leia o livro
Cinema e F Crist, Brian Godawa

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