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CINEMA | A Chegada 1r6915

Fico cientfica um gnero, literrio e flmico, que tem, e sempre teve, legies de consumidores e iradores. Trata-se de uma manifestao cultural e esttica muito arborizada, variando desde a space opera aquela aventura leve, de enredo simples, cujo principal representante nos ltimos quarenta anos a franquia Star Wars, e que tem como anteados as peripcias de Flash Gordon no Planeta Mongo e de John Carpenter em Marte , de Edgard Rice Burroughs (o mesmo criador de Tarzan), a fico cientfica hard, representada por pesos pesados como Arthur C. Clarke (autor de obras de cunho metafsico, sendo provavelmente a mais famosa 2001: uma odisseia no espao) e Isaac Asimov.

A fico cientfica sempre foi explorada no cinema. Na dcada de 1950 as produes tipo B, de Roger Corman, de oramento baixssimo e enredos bvios (como O emissrio de outro mundo e A criatura que conquistou o mundo), apesar de estarem muito, muito distantes de serem obras primas, fizeram sucesso estrondoso. Roger Corman, firme e forte com seus 90 anos, representou no cinema dos Estados Unidos um papel semelhante ao que Carlos Imperial representou na msica do Brasil em meados do sculo ado, no sentido que ambos lanaram muita gente que ficou famosa e faz sucesso at hoje, l e c.

E eis que no final de 2016 os fs de fico cientfica sci fi so brindados com A Chegada (Arrival), um filme excelente, incomparavelmente melhor que Independence Day, melhor at que o celebrado Interestelar. Do diretor franco-canadense Denis Villeneuve, o filme baseado no conto Histria da sua vida, que faz parte da coletnea do mesmo nome do livro de contos do jovem escritor estadunidense Ted Chiang (a propsito, neste mesmo livro h dois contos, A torre da Babilnia e Entenda que tm tudo para serem super filmes. A torre da Babilnia inspirada na narrativa da construo da Torre de Babel, no Gnesis, e Entenda sobre um homem que, aps um acidente, recebe um tratamento experimental em um hospital, e volta de um estado de coma com a inteligncia aumentada, transformando-se em uma espcie de Ozymandias, do Watchmen, de Alan Moore).

s mais um filme de extraterrestres?
Pois bem, voltando a ateno ao filme: a chegada em questo a de extraterrestres. At a, nada de novo. Este tema tem sido o mote de incontveis livros e filmes de sci fi. S que os aliens de Chiang e de Villeneuve so totalmente diferentes de quaisquer outros que j desembarcaram em nosso planeta azul: no so beligerantes, no enviam nenhuma mensagem (logo, nenhum deles diz a famosa frase Leve-me ao seu lder), no respondem a nada que os governos tentam lhes comunicar. Antes de se prosseguir: o filme de Villeneuve em muitos momentos bastante diferente do conto de Chiang. Uma das diferenas mais notveis est no fato que no filme h elementos de natureza geopoltica que, conquanto absoluta e totalmente verossmeis, so ausentes no conto.

Em uma tentativa de entrar em contato com os aliengenas, que os humanos chamam de heptpodes (seres imensos, que fazem lembrar elefantes, s que sem marfins, sem orelhas, sem olhos e sem boca, e com sete ps, logo, heptpodes), o governo dos Estados Unidos convoca da Dra. Louise Banks (vivida pela atriz Amy Adams, no que seguramente at o momento o melhor papel de sua carreira), linguista de renome, para interpretar a linguagem dos heptpodes, que os humanos conseguiram captar em gravaes. Para esta tarefa, ela ajudada por um fsico, o Prof. Ian Donnelly (no conto, ao invs de Ian, Gary), vivido por Jeremy Renner, o Gavio Arqueiro dos Vingadores (em atuao muito apagada). A Dra. Banks descobre que os visitantes, que vieram sabe-se l de onde, no espao tm duas lnguas, uma escrita, e uma falada. A falada soa aos ouvidos humanos como uma sequncia de grunhidos, e a escrita, no a de crculos com borres. Como decifrar uma linguagem to complexa, sem qualquer paralelo com as lnguas humanas, e o que pior, sem uma Pedra de Roseta?

exatamente neste ponto que residem a originalidade e a genialidade do filme de Villeneuve: A Chegada uma fico cientfica totalmente diferente das outras, pois no futurista, no nem utopia nem distopia, no se baseia em cincias exatas, mas na lingustica, que uma das cincias humanas. Neste sentido, pode-se afirmar que o filme uma reinveno do gnero. Pois no tem nenhum clich. O filme apenas arranha o conflito entre as cincias exatas e as humanas. Teria sido interessantssimo se esta questo fosse aprofundada, mas infelizmente Villeneuve optou por simplesmente tocar neste ponto de modo muito superficial.

Nem ao, nem aventura
O outro ponto da genialidade da adaptao de Villeneuve do conto de Chiang est no fato que no se trata de um sci fi de ao ou aventura, e nem uma obra com pretenses de natureza religiosa. A Chegada um drama. Toda a narrativa marcada pela histria de vida da Dra. Banks, que, divorciada, recentemente ara pelo trauma de perder sua filha nica. Todos estes elementos fazem de A Chegada um filme belo e sensvel, diferente e original. Mas ao mesmo tempo, um filme difcil. Com certeza muitos acostumados com filmes blockbuster iro consider-lo como parado demais e sem sentido. O que uma pena, pois A Chegada um dos filmes mais inteligentes dos ltimos tempos. No ser surpresa nenhuma se receber indicaes para o Oscar em categorias importantes, como Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Direo ou at mesmo Melhor Filme.

Todo o filme gira em torno da questo da linguagem. Chiang e Villeneuve trabalham a partir da teoria lingustica de Sapir e Whorf, que defende que a estrutura de uma lngua define como a pessoa que a fala entende e conhece o mundo ao seu redor. Sem entrar no mrito da teoria, o que ningum poder negar que toda nossa aproximao com a realidade se d pela mediao da linguagem. Rubem Alves gostava de dizer que somos feitos de palavras, as palavras nos formam.

Conforme ento a teoria de Sapir e Whorf, o processo de conhecimento determinado pela lngua. Neste sentido, faz lembrar o conhecido aforismo de Ludwig Wittgenstein, que, no coincidentemente, era filsofo da linguagem: os limites do meu mundo so os limites da minha linguagem. uma teoria de determinismo lingustico: somos determinados a partir da estrutura da lngua que falamos. Uma variao ficcional desta teoria aparece no famoso romance 1984, de George Orwell, em que um governo totalitrio cria uma verso simplificada do ingls falado, na qual no h palavras para alguns conceitos e aes. Assim, seria mais fcil controlar as pessoas, pois, se no h na lngua uma palavra para uma determinada situao, esta seria completamente desconhecida, e, portanto, no desejada.

Nem ado, nem futuro
Outra questo derivada desta tratada no filme quanto percepo do tempo. Ns ocidentais entendemos o tempo como linear: o ado antes, o futuro depois. A melhor representao grfica desta maneira de ver o tempo a do antigo deus romano Janus Bifronte, apresentado como um homem com dois rostos em uma s cabea, um olhando para frente, o outro, evidentemente, para trs: o rosto que olhava para a frente via a o futuro, e o outro, claro, o ado. Os quchuas da Amrica do Sul tm uma compreenso totalmente diferente: eles entendem que somos pessoas que andam de marcha r, de fasto, como dizem os caipiras mineiros: o que vemos na verdade, o ado, no o futuro. O que est adiante de ns, o que efetivamente vemos, o ontem, o ado. Caminhamos de costas para o futuro.

Os hetppodes imaginados por Chiang, e muitssimo bem adaptados para o cinema por Villeneuve, no tm uma viso linear do tempo. Eles entendem o tempo de uma maneira que no nem quchua nem ocidental clssica. A viso dos heptpodes, tal como sua escrita, circular. O crculo, em qualquer galxia, no tem nem incio nem fim. O conceito de tempo dos heptpodes no conhece conceitos como antes e depois. Para eles, tudo um contnuo. E a Dra. Banks, depois de aprender a linguagem deles, meio que por osmose, adquire a capacidade de entender o tempo assim, o que a a impresso que ela teria adquirido o dom de ver o futuro. Mas no foi isto que aconteceu. Villeneuve com uma graciosidade rara apresenta isto no filme de maneira singela e bela: as cenas do ado e do futuro so apresentadas com cores bem vivas, enquanto as do presente so apresentadas monocromaticamente acinzentadas. Por um lado, isto combina com o clima frio de Montana. Por outro lado, mostra graficamente o que seria para uma cultura no fazer distino entre ado, presente e futuro.

A Chegada um bom filme. No diverso fcil e despretensiosa. Mas vale cada centavo pago pelo ingresso, e cada segundo gasto para assisti-lo.

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professor do Programa de Ps-Graduao em Cincias da Religio da PUC Minas, onde coordena o GPRA Grupo de Pesquisa Religio e Arte.
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