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Nem nas olimpadas corpo (material) e alma (espiritual) se separam 2m2t47

Tempo de Olimpadas. O que nos faz lembrar de muitos filmes que tratam, de um modo ou de outro, do tema do esporte. Dentre tantos, a deliciosa comdia Jamaica abaixo de zero, de 1993 (que trata de um fato a histria de como a caribenha Jamaica participou dos Jogos Olmpicos de Inverno no Canad em 1988), o muito bom documentrio Todos os coraes do mundo, de 1995 (sobre a Copa do Mundo de 1994, na qual o Brasil quebrou um longo jejum de 24 anos sem ttulo), o maravilhoso Invictus, de 2005, dirigido por Clint Eastwood (a meu ver, um dos dez melhores filmes de todos os tempos em qualquer categoria), e dramas, como o muito bom Coach Carter treino para a vida, de 2005, que trata do basquete, e o recente filme brasileiro Mais forte que o mundo a histria de Jos Aldo, de 2016, que trata do MMA.

Mas gostaria de falar sobre outro, no to recente, e que se tornou clssico: Carruagens de fogo, de 1981. O filme ganhou muitos prmios: s Oscar, foram quatro (Melhor Filme, Melhor Trilha Sonora assinada por Vangelis, nome artstico de um msico grego cujo nome Evanglos Odisseas Papathanassiou Melhor Roteiro Original e Melhor Figurino, em 1982), e ainda Melhor Filme no Globo de Ouro no mesmo ano e Melhor Filme no BAFTA (uma espcie de Oscar britnico), alm de prmios especiais no Festival de Cannes e no Festival de Toronto.

Por que falar sobre um filme antigo? Porque Carruagens de Fogo se tornou um clssico. Penso ser possvel aplicar a filmes o que talo Calvino1 (que no tem nada a ver com o Joo) disse sobre livros clssicos e, antes dele, C. S. Lewis (On the reading of old books, um dos ensaios da coletnea God in the dock, infelizmente ainda no disponvel em portugus), disseram. Com argumentaes diferentes ambos defenderam a importncia de se ler textos clssicos. No necessrio reproduzir aqui as argumentaes dos dois pensadores. Pois como disse poucas linhas acima, parto do pressuposto que o argumentado pode ser aplicado a filmes. Sem dvida, Carruagens de fogo se enquadra na seleta categoria dos filmes clssicos.

Carruagens de fogo apresenta a histria de Eric Liddell (1902-1945), filho de missionrios presbiterianos escoceses na China, ele prprio mais tarde missionrio naquele pas e, nas horas vagas, atleta olmpico2. Liddell era um presbiteriano de pura cepa, um homem de princpios inegociveis: classificado para disputar as Olimpadas de 1924, em Paris, recusou-se a correr os 100 metros rasos porque a disputa seria em um domingo. Para aqueles presbiterianos antigos o dia de descanso era algo muito srio. O filme menciona algumas vezes o Sabbath no h corresponde direto para esta palavra em portugus. Sabbath no exatamente o mesmo que Saturday, que sbado. Sabbath tem um significado especificamente religioso, pois se refere ao dia de descanso, o dia do Senhor no caso dos cristos, o domingo. Como presbiteriano que era, Liddell levava muito a srio a tradio do Catecismo Maior de Westminster, que em suas perguntas 115-121 muito estrito e severo quanto s proibies referentes ao Sabbath cristo, isto , o domingo. Liddell bateu o p, como popularmente se diz, no atendeu nem ao pedido do prprio Prncipe de Gales na poca, e mesmo sendo chamado de traidor da ptria, no se deixou demover de sua deciso. Um de seus colegas trocou de lugar com ele, permitindo desta maneira que Liddel corresse os 400 metros rasos em uma quinta-feira. Resultado: ele ganhou a medalha de ouro. Naquela mesma Olimpada seria ainda bronze nos 200 metros rasos.

O filme conta ainda a histria de outro atleta da mesma equipe britnica de atletismo: Harold Abrahams (1899-1978), que corria por motivaes completamente diferentes das de Liddell. Abrahams era judeu, filho de imigrantes lituanos. Era motivado por sua vaidade pessoal, uma carncia emocional de ser considerado o melhor no que fazia, mas tambm que demonstrar que o fato de ser judeu no fazia dele menos capaz que nenhum anglo-saxo puro sangue. Naqueles mesmos jogos Abrahams conquistou a medalha de ouro nos 100 metros rasos.

A motivao de Liddell completamente diferente. E a est a meu ver o ponto culminante do filme. Em uma fala interessantssima ele diz: I believe God made me for a purpose. For China. But he also made me fast. And when I run I feel His pleasure. To win is to honor Him Eu creio que Deus me fez com um propsito. Para a China. Mas ele tambm me fez veloz. E quando eu corro, eu sinto o Seu prazer. Vencer honr-lo.

H a uma antropologia teolgica fina, sofisticada, de nvel elevadssimo! A frase de Liddell ecoa um dito de Irineu de Lyon, do sculo segundo da era crist, um dos mais notveis entre os Pais da Igreja dentre os chamados Pais Polemistas (apesar de seu nome, que significa pacfico). Irineu tem uma antropologia positiva, quando afirma que a glria de Deus que o homem viva! Sua frase entendida no contexto de sua polmica contra os gnsticos, que valorizavam o espiritual, desprezando o material. Milnios ados, e infelizmente nas igrejas evanglicas quase sempre predomina uma antropologia pessimista, de influncia mais grega que judaico-crist, que por isso valoriza mais a alma que o corpo. preciso aprender com Irineu, e com Eric Liddell, que o corpo importante e atividades aparentemente no espirituais so para a glria e a honra do Criador! Eric Liddell apresentou intuitivamente, em germe, avant la lettre, a ideia de uma teologia do corpo, uma teologia da alegria e do prazer, que seria, com outros contornos e por meio de outros caminhos tericos, elaborada dcadas mais tarde por pensadores como Rubem Alves.

preciso tambm aprender com Eric Liddell que compromisso com Deus algo a ser levado a srio. No se entrar no mrito da discusso teolgica se os divines de Westminster acertaram ou no em sua interpretao do quarto mandamento. Esta discusso fugiria aos objetivos da presente reflexo. O que convm refletir que Liddell agiu como os jovens hebreus levados para a Babilnia e no abriu mo de seu compromisso de fidelidade ao seu Deus. Ele no permitiu concesses. Sua firmeza de propsito impressionou a Europa em seu tempo. E se constitui em exemplo e desafio at os dias de hoje.

Depois das Olimpadas de 24 Liddell voltou para a China, onde fora criado, para exercer a obra missionria. Casou-se com uma cidad canadense de origem escocesa, e o casal teve trs filhas. Quando o Japo invadiu a China, Liddell conseguiu que a esposa e as filhas fossem evacuadas para o Canad. Ele poderia ter sado tambm, mas preferiu ficar no campo missionrio. Foi levado para um campo de prisioneiros, no qual os japoneses mantinham estrangeiros, europeus e norte-americanos. Conforme o relato de Duncan Hamilton, autor da mais recente biografia de Liddell, vrios sobreviventes daquele campo de prisioneiros relataram como Liddell tornou-se querido de todos por servir a todos, sem exceo. L veio a falecer, por ter contrado febre tifoide. No sem razo alguns consideram Liddell um mrtir cristo do sculo XX3.

Carruagens de fogo um filme bem conduzido, que emociona (se bem que algumas vezes um tanto lento na narrativa), e que apresenta desafios srios aos cristos de todos os tempos: viver a vida, ter prazer, no estabelecer dicotomia entre material e espiritual, servir ao prximo, levar o compromisso cristo a srio.

Notas:
1 Por que ler os clssicos. 2 edio. So Paulo: Companhia das Letras, 2007.
2 Para uma verso animada da vida de Liddel, dublada em portugus, clique aqui.
3 Duncan Hamilton. For the Glory: Eric Liddells Journey from Olympic Champion to Modern Martyr. London: Penguin Books, 2016.

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Cartas Entre Freud e Pfister
professor do Programa de Ps-Graduao em Cincias da Religio da PUC Minas, onde coordena o GPRA Grupo de Pesquisa Religio e Arte.
  • Textos publicados: 86 [ver]

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