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26 de maro de 2014
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Cincia e teologia: mais prximas do que se imagina 4o4l4q

Inicio resumindo constataes sobre a estrutura do conhecimento, inicialmente acerca do conhecimento cientfico e depois do teolgico. Segundo Einstein e Polanyi, a estrutura do conhecimento cientfico estratificada. Compreende trs nveis de pensamento coordenados: um primeiro nvel, com nossa experincia cotidiana ordinria e a cognio natural fracamente organizada que lhe associada; um segundo nvel, o da teoria cientfica, com sua busca de rigorosa unidade lgica de fatores empricos e conceituais; e o terceiro nvel, em que se desenvolve uma unidade lgica mais refinada e abstrata, com um mnimo de conceitos e relaes.
Thomas Torrance, um dos principais telogos do sculo XX e um dos poucos a investigar a relao entre teologia crist e cincia, entende que, semelhana do conhecimento cientfico, tambm o conhecimento de Deus estruturado em trs nveis distintos de crescente refinao conceitual. No primeiro nvel, o de uma teologia tcita ou subentendida, ns apreendemos a realidade de Deus atravs da experincia pessoal por exemplo atravs de um encontro pessoal com Jesus Cristo sem ainda entendermos essa realidade conceitualmente. Num segundo nvel, o de uma teologia (mais) formal, ns desenvolvemos uma compreenso da estrutura subjacente nossa experincia pessoal. Finalmente, num terceiro nvel, ocorre um aprofundamento na autorrevelao de Deus. Embora o pensamento teolgico progrida no sentido de relaes e conceitos cada vez mais refinados, ele sempre permanece coordenado com nosso conhecimento pessoal de Jesus Cristo, no qual est alicerado.
Torrance2 tambm enfatiza que, alm da semelhana estrutural de conhecimento teolgico e cientfico, existe tambm uma semelhana metodolgica entre teologia e cincia, pois o pensamento cuidadoso tanto em teologia quanto em cincia procede em estrita conformidade com a realidade ou natureza objetiva do que est sendo investigado e / ou interpretado, isto , de acordo com o que realmente . A concluso de Torrance que, se praticadas rigorosamente, teologia crist e cincia natural contribuem positivamente uma com a outra, e que o impacto recproco entre elas muito mais profundo e heuristicamente relevante do que geralmente percebido por telogos e cientistas. A histria da cincia ocidental parece comprovar as concluses de Torrance. A atividade cientfica depende de certos pressupostos devidamente organizados acerca do mundo, e foi na cultura europeia do final da Idade Mdia permeada pelo Cristianismo que condies adequadas a esse respeito propiciaram o desenvolvimento do mtodo experimental da cincia como o conhecemos. Telogos como Robert Grosseteste e o seu aluno Roger Bacon (sculo XIII) estiveram entre os primeiros a enfatizar o uso da experimentao para aferir afirmaes sobre fenmenos naturais; deixaram clara uma slida motivao para tal, enraizada numa viso de mundo crist. Grosseteste e Bacon foram seguidos pelos primeiros cientistas modernos propriamente ditos, cristos como Kepler, Pascal e Boyle. Sculos mais tarde Joule, Maxwell, Pasteur e outros continuariam a enfatizar a ligao positiva entre cristianismo e cincia.
Nesse ponto, retorno ao modelo estratificado do conhecimento teolgico e do cientfico. Alm de apontar semelhanas entre teologia e cincia, o modelo estratificado possui tambm utilidade explicativa. Por exemplo, luz do modelo, atesmo constitui ausncia de conhecimento de Deus (em todos os nveis), uma vez que falta ao ateu o conhecimento do primeiro nvel do conhecimento teolgico, o nvel tcito, cotidiano, ordinrio, subjacente a qualquer discusso objetiva. Como ausncia de conhecimento implica ausncia do que discutir, previsvel que um atesmo belicoso ( la Dawkins, por exemplo) se perca em deboche.
O modelo estratificado tambm auxilia no entendimento de algumas situaes de conflito entre telogos e cientistas, como o conflito do cristo Galileu Galilei (1564-1642) com certos telogos de sua poca. Galileu defendeu o heliocentrismo e sua compatibilidade com a Bblia. No entanto, muitos telogos contemporneos seus discordaram de forma intransigente. O conflito residiu no segundo nvel do conhecimento teolgico, em que os telogos discordantes sucumbiram ao problema hermenutico, sua falta de autocrtica e ao descuido com a falibilidade humana.
De forma anloga, a oposio de darwinistas teoria do design inteligente manifesta-se no segundo nvel do conhecimento cientfico e o lapso tem caractersticas semelhantes dos telogos que se opam a Galileu. Kenneth Hsu, Professor Emrito da Escola Politcnica Federal de Zurique, resume a situao da seguinte forma: A teoria darwiniana no experimentalmente testvel contra o mundo emprico, porque o mecanismo proposto opera num horizonte de tempo muito maior que nosso tempo de vida. Como uma teoria para explicar fatos histricos, falsificvel pelo registro fssil. Assim, foi uma hiptese cientfica quando proposta inicialmente. Aps mais do que um sculo, entretanto, percebemos que sua premissa no ada pelo registro paleontolgico, e suas numerosas predies mostraram-se incorretas [Hsu cita uma referncia]. O atual estado do darwinismo, em minha opinio, comparvel quele da teoria geocntrica de Ptolomeu durante a Idade Mdia. A teoria de Ptolomeu foi cincia durante a Antiguidade, mas transformou-se em dogma depois que suas predies foram falsificadas pelas novas observaes de Galileu. Do mesmo modo, o darwinismo foi uma hiptese cientfica, mas transformou-se numa ideologia durante o sculo XX.3
Teologia crist e cincia possuem coisas em comum, que Torrance apontou e discutiu com algum detalhe. Alm de Torrance, John Polkinghorne, Alister McGrath, Carl Friedrich von Weidzscker e outros tambm investiram ou tm investido esforos para explorar o assunto. A continuidade de tais esforos poder levar telogos e cientistas ao prximo o: identificar e solucionar questes e problemas que demandam o envolvimento conjunto de teologia crist e cincia.
Notas:
1. Citado em Kneller, K.A. Christianity and the leaders of modern science, B. Herder, Freiburg im Breisgau, 1911.
2. Em Torrance, T.F. Theological and natural Science, cap. 7, Wipf and Stock, 2002.
3. Hsu, K.J. - Evolution, ideology, darwinism and science, Klinische Wochenschrift, v. 67, p. 923-928, 1989.
Leia tambm
Ian Hutchinson: nveis explanatrios (parte 1 e 2)
Crer tambm pensar
O Teste da F: os cientistas tambm creem
Tem doutorado em Engenharia Eltrica pela Escola Politcnica Federal de Zurique, Sua. professor de engenharia em So Jos dos Campos (SP). editor do blog F e Cincia.
- Textos publicados: 32 [ver]
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Site: http://www.freewebs.com/kienitz/
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