B. B. King e a “msica do mundo” 4y3q

Em 04 de abril de 1968, quando soube do assassinato do ativista dos direitos humanos Dr. Martin Luther King Jr., o grande msico B.B. King marcou um encontro em Nova Iorque com seus amigos msicos, igualmente geniais Jimi Hendrix e Buddy Guy e, juntos, aram a noite tocando, como forma de prestar tributo memria do Dr. King.

Seria apenas essa a relao do gnio do blues com o cristianismo: seu respeito e irao ao outro King, o pastor batista negro, martirizado pela luta em prol da igualdade de direitos civis para os negros americanos? A resposta um sonoro no. Como a maior parte dos meninos afrodescendentes do seu tempo, B.B. King (16/09/1925 - 15/05/2015), um dos artistas da msica de maior sucesso de todos os tempos, nasceu pobre, trabalhava duro desde cedo - e frequentava fielmente a igreja evanglica dos seus pais. Alguns dos seus bigrafos, como Sebastian Danchin, autor de Blues Boy: The Life and Music of B. B. King, destacam um fato que no deveria soar surpreendente: o rei do blues cantava gospel (o verdadeiro, claro: o estilo que derivou dos velhos Spirituals dos escravos que, convertidos, improvisavam nos campos de algodo do sul hinos de lamento ao Senhor, de esperana, de redeno). Sim, King comeou a desenvolver seu talento na igreja. Chegou a cantar com os clebres The Famous St. John Gospel Singers.

Qual a novidade nesse fato? Nenhuma, para ser sincero. O ponto que no lhe era permito cantar e tocar blues, considerada msica do diabo. Este o mesmo problema que Bono Vox e The Edge, da banda U2, tiveram quando se converteram e entraram para a comunidade Shalom Christian Fellowship, em Dublin. Eles ouviram de seus lderes: Toquem msica de louvor, rapazes!.

At quando teremos que aguentar essa viso teologicamente equivocada da msica (da arte, em geral)? At quando confundiremos msica para o culto com msica crist? At quando acharemos que msica que no seja litrgica, isto , que no possa entrar na ordem dos hinos e cnticos do culto dominical, necessariamente... profana? Nem tudo que sagrado religioso e nem tudo que secular profano. claro que existem (falsos) artistas das trevas, que dedicam sua obra ao mal etc. Mas a maioria dos (verdadeiros) que conheo esto mais preocupados com a Beleza, a Verdade e a Bondade. Isso - voltemos Teologia Reformada, amigos - Graa Comum! Calvino, Kuyper, Keller e tantos outros me ajudam a ouvir B. B. King sem culpa! E que falta ele far!

Aos 11 anos ganhei de meu pai minha primeira guitarra eltrica, uma Gianinni Diamond 335 sunburst usada, comprada numa loja de penhores no Centro, bem parecida com a famosa Lucille de B. B. King, do blues/rock que aprendi a apreciar nos programas de sbado tarde da TVE, no Rio de Janeiro dos anos 70, aqueles tempos jurssicos, muito, muito, muito antes dessa coisa doida que a internet. Eu babava naqueles guitarristas mgicos e seus solos do outro mundo. Mas me sentia muito culpado por que era msica do mundo. Mas voc, imagino os crticos erguendo a voz e o argumento, ouvia msica do mundo pra tocar melhor na igreja. King ouviu muita msica na igreja pra tocar melhor no mundo. Toda verdadeira arte (e tudo o mais, se seguirmos Paulo) para a glria de Deus. Ponto. Seja ela religiosa ou no. Sim, podemos ouvir msica que no seja louvor, pessoal. Melhor um lamento sincero de um blues do que uma f falsa cantada nessa pseudo, plstica e desnutrida msica gospel de hoje. Oh, Yeah!

(A propsito, adorao no msica. S pra constar: um jeito de se viver - respondendo com temor e tremor ao Carter, Palavra, Atos e Presena do Eterno).

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