As mulheres que reformaram o pensamento de Lutero 3m5l44

Por Lidice Meyer Pinto Ribeiro

No dia 31 de outubro celebramos os 504 anos da Reforma Protestante, relembrando a ao de Martinho Lutero ao se posicionar contra certas atitudes da Igreja. Lutero expos suas ideias no apenas nas famosas 95 teses, mas tambm em diversos livros e panfletos. Dentre estes estava o livro Da vida matrimonial escrito em 1522. Neste, Lutero defendeu que as mulheres s seriam plenamente realizadas constituindo famlia atravs do casamento. Criticou arduamente a vida monstica que chamou de priso eterna propondo a extino dos conventos e mosteiros. O espao para a mulher era a casa como esposa, me e educadora. Para muitas mulheres, porm, essa alternativa no era das mais atraentes. Se, ao deixarem o convento no encontrassem um homem com quem pudessem se casar, teriam de voltar s casas paternas, que nem sempre as recebiam de volta. Por outro lado, a vida no convento facultava s mulheres o o ao estudo de lnguas, teologia, filosofia, matemtica, medicina, msica dentre outros. Muitas freiras estavam acostumadas vida monstica e no desejavam nem o casamento e nem a maternidade.

Caritas Pirckheimer era abadessa no Convento de Santa Clara na cidade de Nrmberg quando se converteu ao protestantismo reformado. Tanto ela como outras freiras que se converteram em seu convento no queriam deixar sua vida de estudos e busca da espiritualidade. Caritas procurou o reformador Philipp Melanchthon que intermediou o dilogo com Lutero. O esforo valeu a pena e Lutero decidiu respeitar a deciso das mulheres que quisessem permanecer nos conventos. Influenciado pelo dilogo com Caritas Pirckheimer e pelo casamento com Katharina von Bora, ela mesma uma ex-freira, Lutero mudou profundamente sua viso sobre as mulheres. At hoje existem entre os luteranos as ordens religiosas monsticas evanglicas como a Irmandade Evanglica de Maria, que aceita mulheres de todas as igrejas que queiram se juntar a ordem.


Trs anos aps a publicao do livro Do Matrimnio, Lutero casou-se com Katharina com quem teve seis filhos. O casal recebia constantemente em sua casa familiares, estudantes, convidados, visitas e refugiados. Katharina, que havia estudado teologia, latim, istrao e medicina, participava das conversas mesa e discusses teolgicas em igualdade com estudantes e reformadores. Lutero a chamou de doutora e a colocava sempre a par das questes teolgicas. Numa dessas conversas mesa com outros reformadores, disse: Eu no trocaria minha Kthe nem pela Frana e nem por Veneza. Ela me foi dada por Deus, assim como eu fui dado a ela. A vida conjugal de Lutero e Katharina lhe abriu os olhos para a grande capacidade das mulheres que ultraava a condio de esposas e mes. irava a regente Elisabeth von Calenberg pela sua ao na Reforma na Baixa Saxnia e lhe enviou uma Bblia em alemo com dedicatria pessoal. Tambm reconheceu que Argula Stauff von Grumbach era um instrumento especial de Cristo pela forma como esta defendia os princpios da Reforma em seus escritos. E ainda recebeu de bom grado crticas de Katharina Schtz Zell quando esta o censurou pelas disputas doutrinrias com Zwinglio.

Com a convivncia com estas e outras grandes mulheres, o Reformador Lutero sofreu uma profunda reforma em seu prprio pensamento, percebendo que Deus usa da vida de homens como de mulheres, solteiros ou casados, para o seu reino na Terra.

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