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21 de janeiro de 2019
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Adorao na igreja evanglica contempornea 6m1e2k
Por Osmar Ludovico da Silva
H dois tipos de msica, a boa e a ruim seja ela erudita, MPB, sertaneja, reggae, rap, rock ou gospel. O que me surpreende a capacidade de o mercado absorver a msica ruim. Com a proliferao de compositores, intrpretes, bandas e gravadoras, o cenrio evanglico no poderia ser diferente. Tem msica boa, mas tambm tem muita msica ruim.
amos sculos louvando a Deus com hinos histricos da Reforma. Bastava um hinrio, e tnhamos msicas com letras densas, boa teologia e linha meldica harmoniosa.
Nos ltimos anos surgiu o que chamamos de louvorzo. Jogamos fora os hinrios, a liturgia, aposentamos o piano e o coral e introduzimos a guitarra, a bateria, o data-show, as coreografias e a aerbica. Surgiu tambm a figura do dirigente de louvor, responsvel por animar a congregao. Da para a frente h muito barulho, muitas palmas, muitas mos levantadas, muitos abraos, muitas caretas e cenho franzido. Mas a pergunta que fica : temos adorao?
O lado positivo do louvorzo o interesse e a integrao na igreja de milhares de jovens. Trata-se de uma oportunidade nica para ensinar estes jovens, atravs do exemplo e da Palavra, o caminho do discipulado de Cristo. Mas fica a pergunta: estaro estes jovens crescendo na santidade e no servio?
Alguns cultos se tornaram verdadeiras produes dignas da Broadway. Msicos profissionais, cenrios, bailarinos e iluminao. Mas fica uma pergunta: toda esta parafernlia cnica tem levado o povo de Deus a uma genuna adorao?
A histria da Igreja rica em manifestaes artsticas. Ao longo do tempo o louvor foi expresso atravs de vrias expresses musicais. O canto gregoriano, o barroco, os hinos da Reforma, o negro espiritual e os cnticos contemporneos deixaram sua contribuio boa msica ao longo destes ltimos sculos.
Trata-se, portanto, de um equvoco jogar fora toda a herana histrica e achar que esta gerao descobriu a forma certa de louvar. Se olharmos do ponto de vista musical veremos que a histria nos legou uma herana preciosa. Na cultura gospel do louvorzo tem muita msica ruim, muita letra questionvel e muito dirigente de louvor que mais parece um animador de auditrio.
A igreja pode ser a ponte entre as geraes, entre o antigo e o novo e integrar na adorao tudo o que h de bom na sua herana histrica. Tem muita gente cansada do louvorzo barulhento de letras rasas, de bandas que tocam no ltimo volume, de coreografias esvoaantes e de ordens do dirigente para abraar o irmo da frente, de trs e do lado dizendo que o amamos. constrangedor abraar algum e dizer que o amamos quando nem sequer o conhecemos.
A igreja perde quando a nfase do louvor se desloca da congregao para o palco. Com raras excees a msica ruim, a letra no tem nada a ver com a realidade do cotidiano ou a teologia reformada e a performance no palco apelativa.
A igreja perde quando se torna parecida com um programa de auditrio e j no cultiva a boa msica com cordas, sopros, bons arranjos, corais, quartetos. E perde muito mais quando a adorao se torna um evento estimulado sensorialmente e no uma melodia que emerge de um corao quebrantado e temente a Deus. Adorao sempre uma resposta humilde, alegre, reverente quilo que Deus e faz. Adoramos porque algo aconteceu, algo nos foi revelado, e no o contrrio, como pensam alguns, que recebemos a revelao e as coisas acontecem porque adoramos.
A igreja perde quando no h reverncia ou temor. O que resta euforia, excitao e sensaes prazerosas. O que bom em si mesmo, mas no necessariamente adorao.
um equvoco pensar que Deus se impressiona com nossos cultos de domingo. Antes, ele acolhe muito mais nossos gestos simples do cotidiano, fruto de um corao humilde e quebrantado, que busca se desprender de ambies e serve ao prximo com alegria. Adorao no um evento domingueiro bem produzido, mas um estilo de vida que glorifica ao Senhor.
Durante sculos a arquitetura das igrejas e das catedrais destinou o balco posterior ao coro, ao rgo e orquestra. Na igreja da Reforma os msicos e o coro se posicionavam na parte da frente da nave, mas sempre ao lado. Mesmo o plpito no estava no centro, mas ao lado. No centro havia, quando muito, alguns smbolos da f, que ajudam a despertar a conscincia para a experincia do sagrado, com destaque para a mesa do Senhor. A congregao ficava em face ao altar de Deus, sem que nada se interpusesse entre a Santa Presena e a congregao. Este lugar s pode ser ocupado por Jesus Cristo. Ele o nico mediador, ele o nico que pode dirigir o louvor.
Hoje o que se v o apstolo, o bispo, o pastor, o dirigente de louvor e a banda ocupando este lugar, nos levando de volta Antiga Aliana, quando sacerdotes e levitas eram mediadores entre Deus e os homens. A conseqncia uma gerao de crentes que dependem de homens, coreografias e data-shows para adorar e para ouvir a voz de Deus.
O verdadeiro pastoreio consiste em ajudar homens e mulheres a dependerem do Esprito Santo para seguirem a Cristo, que os leva ao seio do Pai. Ajudar homens e mulheres a crescerem e amadurecerem na f, na esperana e no amor, integrando adorao, orao e leitura das Escrituras no seu cotidiano.
A contextualizao se tornou uma armadilha na qual a igreja caiu. Na tentativa de se identificar com o mundo ela ficou cada vez mais parecida com ele. A cultura gospel autocentrada, materialista, acha-se dona da verdade, tornou-se uma religio que nos faz prosperar, que no nos pede para renunciar a nada e que resolve todos os nossos problemas. H um abismo colossal entre a cultura gospel e o evangelho de Jesus Cristo, que nos chama a amar sacrificalmente o nosso prximo, a cultivar um estilo de vida simples, a integrar o sofrimento na experincia existencial e a ter a humildade de ser um eterno aprendiz.
Estas reflexes j estavam fervilhando no meu corao h algum tempo. Pensei que estas coisas s aconteciam em certas igrejas, mas o que me motivou mesmo a coloc-las no papel foi ter participado de um culto numa Igreja Batista da Conveno.
Osmar Ludovico da Silva pastor da Igreja Evanglica Comunidade de Cristo em Cabedelo, PB. Ministra cursos de espiritualidade crist, formao de lderes e restaurao para missionrios.
Texto originalmente publicado na edio 310 de Ultimato.
> Conhea nosso lanamento: Contando e Cantando (Volume 2)
Leia mais:
No abandonem os hinos
Sola Msica

amos sculos louvando a Deus com hinos histricos da Reforma. Bastava um hinrio, e tnhamos msicas com letras densas, boa teologia e linha meldica harmoniosa.
Nos ltimos anos surgiu o que chamamos de louvorzo. Jogamos fora os hinrios, a liturgia, aposentamos o piano e o coral e introduzimos a guitarra, a bateria, o data-show, as coreografias e a aerbica. Surgiu tambm a figura do dirigente de louvor, responsvel por animar a congregao. Da para a frente h muito barulho, muitas palmas, muitas mos levantadas, muitos abraos, muitas caretas e cenho franzido. Mas a pergunta que fica : temos adorao?
O lado positivo do louvorzo o interesse e a integrao na igreja de milhares de jovens. Trata-se de uma oportunidade nica para ensinar estes jovens, atravs do exemplo e da Palavra, o caminho do discipulado de Cristo. Mas fica a pergunta: estaro estes jovens crescendo na santidade e no servio?
Alguns cultos se tornaram verdadeiras produes dignas da Broadway. Msicos profissionais, cenrios, bailarinos e iluminao. Mas fica uma pergunta: toda esta parafernlia cnica tem levado o povo de Deus a uma genuna adorao?
A histria da Igreja rica em manifestaes artsticas. Ao longo do tempo o louvor foi expresso atravs de vrias expresses musicais. O canto gregoriano, o barroco, os hinos da Reforma, o negro espiritual e os cnticos contemporneos deixaram sua contribuio boa msica ao longo destes ltimos sculos.
Trata-se, portanto, de um equvoco jogar fora toda a herana histrica e achar que esta gerao descobriu a forma certa de louvar. Se olharmos do ponto de vista musical veremos que a histria nos legou uma herana preciosa. Na cultura gospel do louvorzo tem muita msica ruim, muita letra questionvel e muito dirigente de louvor que mais parece um animador de auditrio.
A igreja pode ser a ponte entre as geraes, entre o antigo e o novo e integrar na adorao tudo o que h de bom na sua herana histrica. Tem muita gente cansada do louvorzo barulhento de letras rasas, de bandas que tocam no ltimo volume, de coreografias esvoaantes e de ordens do dirigente para abraar o irmo da frente, de trs e do lado dizendo que o amamos. constrangedor abraar algum e dizer que o amamos quando nem sequer o conhecemos.
A igreja perde quando a nfase do louvor se desloca da congregao para o palco. Com raras excees a msica ruim, a letra no tem nada a ver com a realidade do cotidiano ou a teologia reformada e a performance no palco apelativa.
A igreja perde quando se torna parecida com um programa de auditrio e j no cultiva a boa msica com cordas, sopros, bons arranjos, corais, quartetos. E perde muito mais quando a adorao se torna um evento estimulado sensorialmente e no uma melodia que emerge de um corao quebrantado e temente a Deus. Adorao sempre uma resposta humilde, alegre, reverente quilo que Deus e faz. Adoramos porque algo aconteceu, algo nos foi revelado, e no o contrrio, como pensam alguns, que recebemos a revelao e as coisas acontecem porque adoramos.
A igreja perde quando no h reverncia ou temor. O que resta euforia, excitao e sensaes prazerosas. O que bom em si mesmo, mas no necessariamente adorao.
um equvoco pensar que Deus se impressiona com nossos cultos de domingo. Antes, ele acolhe muito mais nossos gestos simples do cotidiano, fruto de um corao humilde e quebrantado, que busca se desprender de ambies e serve ao prximo com alegria. Adorao no um evento domingueiro bem produzido, mas um estilo de vida que glorifica ao Senhor.
Durante sculos a arquitetura das igrejas e das catedrais destinou o balco posterior ao coro, ao rgo e orquestra. Na igreja da Reforma os msicos e o coro se posicionavam na parte da frente da nave, mas sempre ao lado. Mesmo o plpito no estava no centro, mas ao lado. No centro havia, quando muito, alguns smbolos da f, que ajudam a despertar a conscincia para a experincia do sagrado, com destaque para a mesa do Senhor. A congregao ficava em face ao altar de Deus, sem que nada se interpusesse entre a Santa Presena e a congregao. Este lugar s pode ser ocupado por Jesus Cristo. Ele o nico mediador, ele o nico que pode dirigir o louvor.
Hoje o que se v o apstolo, o bispo, o pastor, o dirigente de louvor e a banda ocupando este lugar, nos levando de volta Antiga Aliana, quando sacerdotes e levitas eram mediadores entre Deus e os homens. A conseqncia uma gerao de crentes que dependem de homens, coreografias e data-shows para adorar e para ouvir a voz de Deus.
O verdadeiro pastoreio consiste em ajudar homens e mulheres a dependerem do Esprito Santo para seguirem a Cristo, que os leva ao seio do Pai. Ajudar homens e mulheres a crescerem e amadurecerem na f, na esperana e no amor, integrando adorao, orao e leitura das Escrituras no seu cotidiano.
A contextualizao se tornou uma armadilha na qual a igreja caiu. Na tentativa de se identificar com o mundo ela ficou cada vez mais parecida com ele. A cultura gospel autocentrada, materialista, acha-se dona da verdade, tornou-se uma religio que nos faz prosperar, que no nos pede para renunciar a nada e que resolve todos os nossos problemas. H um abismo colossal entre a cultura gospel e o evangelho de Jesus Cristo, que nos chama a amar sacrificalmente o nosso prximo, a cultivar um estilo de vida simples, a integrar o sofrimento na experincia existencial e a ter a humildade de ser um eterno aprendiz.
Estas reflexes j estavam fervilhando no meu corao h algum tempo. Pensei que estas coisas s aconteciam em certas igrejas, mas o que me motivou mesmo a coloc-las no papel foi ter participado de um culto numa Igreja Batista da Conveno.
Osmar Ludovico da Silva pastor da Igreja Evanglica Comunidade de Cristo em Cabedelo, PB. Ministra cursos de espiritualidade crist, formao de lderes e restaurao para missionrios.
Texto originalmente publicado na edio 310 de Ultimato.
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