Apoie com um cafezinho
Ol&aacute visitante!
Entrar Cadastre-se

Esqueci minha senha 14113k

  • sacola de compras

    sacola de compras 142f1e

    Sua sacola de compras est vazia.
Seja bem-vindo Visitante!
  • sacola de compras

    sacola de compras 142f1e

    Sua sacola de compras est vazia.

Opinio 3pp3w

A festa de Babette j1h26

Com muito gosto e subida honra, como diziam os antigos, inicio uma sequncia de reflexes mensais na verso eletrnica de ULTIMATO sobre cinema na perspectiva da f crist. Vou comear por um clssico. talo Calvino, escritor italiano, defendeu com maestria que devemos ler os clssicos. A tese deste Calvino que no deve ser confundido com o outro, o grave reformador francs do sculo XVI aplica-se perfeitamente bem aos filmes. Clssicos so perenes. o caso de A festa de Babette, do cineasta dinamarqus Gabriel Axel (falecido no incio deste ano, aos 95 anos). Esta produo dinamarquesa ganhou o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro no ano de seu lanamento, 1987, alm de tambm ter sido contemplado com o BAFTA (a verso britnica do Oscar) igualmente na categoria de melhor filme estrangeiro em 1988. O filme baseado em um conto do mesmo ttulo que faz parte de Anedotas do destino, coletnea da escritora dinamarquesa Karen Blixen. Trata-se de um drama, muitssimo bem escrito. Eu diria que a adaptao de Axel 95% fiel ao texto de Blixen.

Babette uma sa catlica que chega a uma vilazinha perdida em uma ilhota do litoral da Dinamarca em 1871, fugindo da Comuna de Paris. Seu marido e seus filhos foram mortos nas confuses que aconteceram naquele conturbado momento histrico da Frana. Ela acolhida por duas irms solteironas, Martina e Filipa, filhas do pastor daquela comunidade (todos na ilha so luteranos). Como o pastor no teve filhos homens, o recurso que teve para homenagear os reformadores alemes foi adaptar seus nomes aos de suas filhas: Martina, em homenagem a Martim Lutero, e Felipa, em homenagem a Felipe Melanchton. Durante anos Babette trabalha como criada na casa das irms, e no apenas as ajuda, bem como aos mais velhos e doentes da vila. O filme mostra com rara sensibilidade como os ilhus viviam uma rotina que jamais era alterada. H flashbacks nos quais se recorda a juventude das irms, quando ambas foram cortejadas, uma por Lorens Lowenhielm, um oficial do exrcito dinamarqus, e a outra por Achiles Papin, um professor de canto francs. Mas o rigoroso pai no permite que suas filhas se casem. Anos mais tarde Babette recebe a notcia que fora contemplada com o prmio mximo de uma loteria na Frana. Ela recebe um prmio fabuloso, dez mil francos. E a o que ningum sabia do ado de Babette aos poucos comea a ser revelado: ela fora a chef do Cafe Anglais, um dos mais requintados restaurantes de Paris, onde as cabeas coroadas da Europa se reuniam para os mais sofisticados jantares. Babette resolve gastar o prmio que ganhou oferecendo um jantar, que seria para comemorar o centenrio do nascimento do pastor. E assim ela faz. Os aldees com medo do que podero encontrar resolvem no expressar prazer nem satisfao com o jantar. S que l pelas tantas, algo extraordinrio acontece: uma catarse, e eles publicamente comeam a confessar seus pecados uns aos outros. Esta cena no filme no to forte como no conto, o que uma pena. A meu ver este o nico ponto fraco que consigo detectar na direo de Axel. Mas voltando narrativa, eles confessam seus pecados uns aos outros, pedem perdo uns aos outros, concedem o perdo uns aos outros, e voltam para suas casas felizes como crianas. Babette, por meio da alquimia e da magia dos prazeres da mesa e do vinho, como diria o Rubem Alves, abenoa a todos.

H muitas possibilidades de leitura deste filme. Uma delas interpret-lo a partir da categoria dos estgios da vida, do filsofo tambm dinamarqus e luterano Sǿren Kierkegaard: o estgio tico ocupa a maior parte da narrativa, quando mostra uma comunidade onde todos so srios, no h diverso, no h lazer, no h alegria, todos apenas trabalham e vo aos cultos aos domingos e mais nada; o estgio esttico o momento do banquete, da festa, mesmo eles fazendo um esforo enorme para negar a alegria e o prazer; e, finalmente, o estgio religioso, a superao do tico e do esttico, quando acontece a catarse coletiva, as mscaras caem, a hipocrisia e a falsidade de todos so deixadas de lado, e acontece um momento de quebrantamento, cura e redeno.

Outra possibilidade de leitura entender A festa de Babette como uma metfora da salvao pela graa, mas no conforme algumas metforas paulinas, sendo a mais conhecida a da justificao, que aparece nos primeiros captulos de Romanos, mas conforme alguns textos na Bblia Hebraica Isaas e especialmente, textos do terceiro evangelho, onde se apresenta a salvao como festa, como banquete. A Bblia fala da realidade da salvao por meio de metforas. Justificao pela f, a preferida dos protestantes clssicos, apenas uma delas. Mas no estamos acostumados a pensar na salvao a partir da metfora da festa. O conto de Karen Blixen e o filme de Gabriel Axel nos convidam a pensar na histria como uma ilustrao do que Deus faz conosco em Cristo: assim como Babette se sacrificou para dar uma festa para quem no merecia, Deus em Cristo nos salva e nos convida sem merecimento nosso para uma festa. Os aldees daquela ilhota so amargos, falsos, fofoqueiros, esto cheios de maldade. Mas so transformados quando criam coragem para abrir mo de seus pecados h muito escondidos. Isaas 25.6 fala da festa que Jav oferecer, um banquete com coisas gordurosas, uma festa com vinhos velhos. O tema da salvao como festa era conhecido dos judeus da poca de Jesus, conforme atestado por Lucas 14.1ss e, ainda mais eloquente, Lucas 15.11,11-32. Estes textos (e outros ainda, como Apocalipse 19.7, 9) nos convidam a repensar a salvao: o que Deus nos oferece em Cristo, sem merecimento nosso, festa, alegria, banquete, riso, jbilo, canto, dana, prazer. Em uma nica palavra: graa!

Estas so apenas duas possibilidades de leitura deste filme tocante e comovente. A festa de Babette um filme que vale a pena ser visto e revisto. Aleluia!
professor do Programa de Ps-Graduao em Cincias da Religio da PUC Minas, onde coordena o GPRA Grupo de Pesquisa Religio e Arte.
  • Textos publicados: 86 [ver]

QUE BOM QUE VOC CHEGOU AT AQUI. 223i1k

Ultimato quer falar com voc.

A cada dia, mais de dez mil usurios navegam pelo Portal Ultimato. Leem e compartilham gratuitamente dezenas de blogs e hotsites, alm do acervo digital da revista Ultimato, centenas de estudos bblicos, devocionais dirias de autores como John Stott, Eugene Peterson, C. S. Lewis, entre outros, alm de artigos, notcias e servios que so atualizados diariamente nas diferentes plataformas e redes sociais.

PARA CONTINUAR, precisamos do seu apoio. Compartilhe conosco um cafezinho.


Leia mais em Opinio 2l1v6s

Opinio do leitor 1t5dh

Para comentar necessrio estar logado no site. Clique aqui para fazer o ou o seu cadastro.
Ainda no h comentrios sobre este texto. Seja o primeiro a comentar!
Escreva um artigo em resposta

Ainda no h artigos publicados na seo "Palavra do leitor" em resposta a este texto.