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A tica do dio, as fake news e a idoneidade crist 25g28

Por Paul Freston

Segundo um famoso ditado, a perspectiva iminente do enforcamento facilita enormemente a definio das nossas prioridades. O atual cenrio poltico brasileiro, to polarizado, tenso e cheio de perigos, tem funo parecida. Ainda gostaramos, claro, que todos pensassem igual a ns. No entanto, h duas coisas muito mais importantes para os cristos neste momento: primeiro, que todos fiquem dentro dos limites da democracia; e, segundo, que todos deem exemplo para a sociedade na maneira de tratar os irmos na f que esto em outra posio poltica.

Dois obstculos dificultam a consecuo, mesmo desses desejos extremamente modestos: o dio e as fake news (notcias falsas). Eles se reforam mutuamente: o dio cria as fake news e incentiva a sua propagao; e, por sua vez, as fake news alimentam o dio.

A tica do dio

Tenho dio pelo Lula. A frase, ouvida por um de ns recentemente e dita com bastante nfase, nos impactou. No pelo fato em si; sabemos que h pessoas que no apenas discordam politicamente de Lula, e no apenas lamentam profundamente vrias de suas aes polticas, mas que tambm o odeiam verdadeiramente. O que nos chocou mais foi ouvir essas palavras de quem as pronunciou. Uma crist sincera e engajada, de larga trajetria eclesistica.

Daria outro artigo especular a respeito das razes desse dio. Para alm de tal explicao, o que mais nos intrigou foi a frase seguinte da mesma pessoa, mais ou menos assim: Quero que meu dio sirva como base de uma nova poltica. Outra pessoa, ouvindo esse comentrio, o caracterizou apropriadamente como um exemplo da tica do dio. A tica do dio a ideia do dio como bom e justificvel pelos frutos que germina; neste caso, uma nova poltica boa.

A ideia do dio til e frutfero no nova, claro; basta nos lembrarmos da tica de muitos revolucionrios do ado! o ressentimento como base para a ao. Por mais que a luta de classes pudesse ser teoricamente separada do dio de classe, incitar este foi frequentemente o caminho mais rpido para implementar aquela. Ironicamente, os odiadores polticos de hoje provavelmente abominam a luta de classes e toda a ideia de uma poltica revolucionria baseada no dio que supostamente resultar numa idlica sociedade sem classes. Mas no h por que acreditar que essa nova tica do dio dar melhores frutos polticos.

As clssicas crticas crists (catlicas e evanglicas) ao dio poltico se aplicam aqui, independentemente de situarmos (ou no) o dio a Lula no preconceito de classe. dio e adorao so dois lados da mesma moeda; aqueles que adoram Lula e aqueles que o odeiam esto envolvidos no mesmo processo desastroso que poder levar o pas a um conflito irremedivel.

Por outro lado, se h, de fato, elementos de preconceito de classe no dio a Lula, lembremos que a classe social uma das trs discriminaes mencionadas pelo apstolo Paulo em Glatas 3.28 (junto com a discriminao tnica e a de gnero), as quais em Cristo no devem existir. Em outras palavras, Paulo diz que l fora essas discriminaes so vigentes, mas no aqui dentro. Mas qual a relao entre o aqui dentro e o l fora? Ser que a no discriminao exigida do cristo apenas aqui dentro da comunidade crist, mas que l fora posso continuar discriminando? Essa possibilidade eliminada pela parbola do bom samaritano, que ensina que proibido reconstruir as fronteiras. O programa de Jesus o prximo sem fronteiras! Portanto, os princpios que devem reger o comportamento do cristo aqui dentro tambm se aplicam ao comportamento cristo l fora. O dio alimentado pelo preconceito de classe anticristo, seja quem for o seu alvo.

As fake news

Assim como o dio, as notcias falsas no so novas; quem tem idade para se lembrar da Guerra Fria sabe bem disso. Mas o problema aumentou muito com o advento da internet, e sobretudo com as redes sociais. fundamental agora verificarmos as fontes das notcias que lemos, e termos critrios adequados de avaliao.

Um exemplo da questo de critrios: em uma aula logo aps os ataques terroristas de 11 de setembro, um de ns ouviu de alguns alunos que a notcia de que palestinos na Faixa de Gaza haviam comemorado o ataque era falsa; a CNN teria reciclado imagens antigas de palestinos comemorando a invaso do Kuwait por Saddam Hussein dez anos antes, dizendo que estavam celebrando os ataques recm-ocorridos nos Estados Unidos. Comecei minha resposta aos alunos da seguinte forma: tudo bem vocs quererem ser antiamericanos, mas pelo menos sejam antiamericanos inteligentes! Diante da incompreenso deles, expliquei: no ponho a mo no fogo pela lisura dos dirigentes da CNN, mas no sociologicamente sensato acreditar que tenham feito uma manobra dessas, to fcil de ser desmascarada pelas suas concorrentes, o que seria desastroso para a sua credibilidade. O clculo custo-benefcio de tal manobra no justificaria correr esse risco; afinal, a CNN no est na posio de um Pravda na Unio Sovitica, capaz de impedir que seu leitores tenham o a outras fontes de informao. Dito e feito: logo se mostrou que a notcia de que a CNN havia reciclado imagens antigas no ava de fake news.

Embora esse exemplo seja de antes das redes sociais, hoje os mesmos critrios se aplicam mais ainda. Assim, quando saiu a notcia de que o governo esquerdista de Evo Morales, na Bolvia, teria criminalizado a evangelizao, o que fizemos para averiguar? Apenas uns dois minutos de busca bastaram para mostrar que a suposta notcia estava restrita a certos sites, sobretudo evanglicos. Infelizmente, boa parte dos sites evanglicos no so muito confiveis. Muitos apenas ream reportagens, sem critrios prprios de avaliao; tm uma mentalidade propcia a acreditar em qualquer histria de perseguio a evanglicos; e no possuem o conhecimento necessrio para avaliar a plausibilidade das supostas notcias.

No exemplo sobre a Bolvia, algum inventou a fake news, sendo portanto culpado de m-f. E muitos outros a rearam como verdadeira, sendo culpados apenas de ingenuidade. Em outro caso recente, um conhecido lder evanglico publicou um vdeo que denunciava o Hamas por ter supostamente falsificado mortes em Gaza. Quando algum mostrou que o vdeo era velho e portanto fake news, foi bloqueado e teve seu comentrio apagado.

Diante de fake news como essa, o leitor deve fazer algumas perguntas bsicas. Primeiro, sociologicamente plausvel? (No, porque, embora os governos de Israel e dos Estados Unidos culem o Hamas pelas mortes, no alegavam que sequer elas tivessem acontecido. Ou seja, os mais interessados em denunciar uma fraude dessas no o estavam fazendo.) Em segundo lugar, quem est veiculando essa notcia, e qual o grau de confiabilidade desses rgos?

Notcias veiculadas por rgos especializados e sobretudo por rgos que h muitas dcadas vm construindo uma reputao tm probabilidade muito maior de serem notcias genunas. E quanto aos rgos e indivduos cristos que ingenuamente veiculam notcias que se revelam falsas: errar humano; ita o engano e publique a retratao; no se aprofunde no erro, atacando ou apagando quem o revela, mesmo que isso no favorea a sua opo ideolgica. Seja inteligente e tico, no inescrupuloso. Resta ainda o caso de cristos que propositadamente inventam ou veiculam fake news... Na interpretao mais caridosa possvel, estes no sabem o mal que fazem credibilidade do evangelho.

Largar a espada, no lanar a primeira pedra e praticar a mansido

Quem vive pela espada, morre pela espada, diz o evangelho (Mt 26.52). Se viver do dio, perecer consumido pelo dio. Se viver propagando fake news, descobrir que o deus em quem acreditou no a de fake news.

Quem estiver sem pecado, que atire a primeira pedra, diz o evangelho (Jo 8.7). Com essas palavras, Jesus evita a escalada de dio numa situao de extrema tenso e perigo (o pedido para apedrejar a mulher adltera). Ser que os cristos hoje, no Brasil, conseguem contribuir para evitar a escalada de dio e violncia... ou vo colocar ainda mais lenha na fogueira?

Bem-aventurado o manso, diz o evangelho (Mt 5.5). O manso o contrrio do odiador e do propagador de fake news, pois o manso renuncia retaliao e imita um Pai cujo sol nasce igualmente para bons e maus. Claro, essa tica de afirmar a dignidade de todas as pessoas sem exceo foi chamada por Nietzsche de moral do escravo. Hoje, alguns cristos, desprezando a mansido, parecem mais seguidores de Nietzsche do que de Jesus. No sejamos como eles! Repudiemos a tica do dio e as fake news. No vamos deslegitimar e excomungar o irmo que diverge politicamente de ns, porque, seno, perdemos a nossa especificidade como cristos e nos tornamos meros refns das polmicas polticas que estraalham a sociedade.

Paul Freston, ingls naturalizado brasileiro, professor colaborador do programa de ps-graduao em sociologia na Universidade Federal de So Carlos e professor catedrtico de religio e poltica em contexto global na Balsillie School of International Affairs e na Wilfrid Laurier University, em Waterloo, Ontrio, Canad.

com a colaborao de

Raphael Freston mestrando em sociologia na Universidade de So Paulo.

* Texto originalmente publicado na edio372da revistaUltimato.

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