Qual o nosso senso de justia? 6s3a6s

Por Antnio C. Costa

Vejo o meu pas declarar que celebra o triunfo da justia sobre a corrupo. Diz que um novo tempo chegou. Milhes aplaudem a priso de criminosos do colarinho branco, sadam a atuao destemida de um magistrado e aguardam ansiosos pelo fim definitivo da carreira de polticos profissionais, cujas iniquidades so expostas diariamente nas primeiras pginas dos nossos jornais. Vivemos de fato momento indito na nossa histria. Rico indo para a cadeia. Poder econmico e poltico sendo confrontados.

Observo, contudo, estranha falta de simetria nesse conceito de justia professado por ns brasileiros.

Vejo o meu pas, em nome da governabilidade, tolerar a permanncia no cargo de presidente da Repblica algum eleito atravs do uso de verba pblica que poderia ter sido usada para construo de escolas e hospitais.

Vejo o meu pas no se manifestar contra o massacre de favelados e policiais pobres, que todos os dias tm suas vidas interrompidas em tiroteios despropositados.

Vejo o meu pas nada falar sobre presdios superlotados, onde jazem 600 mil detentos, 40% dos quais sem terem ainda sido julgados pela justia, nos quais se pratica o que naes desenvolvidas baniram do seu sistema prisional, por ser desumano, contraproducente e imoral.

Vejo o meu pas aplaudir execues extrajudiciais, expressando sua propenso histrica a acreditar mais na represso violenta praticada ao arrepio da lei do que na preveno inteligente capaz de agir profilaticamente, a fim de que no vivamos em modelos de sociedade que extraiam do ser humano aquilo que ele tem de perverso.

Vejo o meu pas no se perturbar com desigualdade social, com a qual no h paralelo entre naes desenvolvidas, que faz os que varrem nossas ruas, limpam nossas casas, carregam nas costas nossa economia, voltem no final do dia para seus barracos, cujas paredes de tbua no so preo para tiro de fuzil, que pera tambm cabea de meninos e meninas pobres.

Lamento dizer, temos um longo caminho a percorrer at que o nosso compromisso com a justia seja to profundo a ponto de candidato poltico no explorar o que temos de pior para se eleger.

Antnio C. Costa, jornalista, telogo e fundador da ONG Rio de Paz

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Imagem: Pixabay.com.