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24 de julho de 2017
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Violncia contra a juventude negra 2u1r5e
O Atlas da Violncia 2017 um estudo realizado pelo Instituto de Pesquisa Econmica Aplicada (Ipea) e pelo Frum Brasileiro de Segurana Pblica, publicado em 5 de junho do corrente ano traduz a triste realidade que tem sido parte de nossas vidas nesta ltima dcada.
A juventude est sendo exterminada

Outro dado perturbador presente no estudo que a cada 100 pessoas assassinadas 71 so negras. Uma pessoa negra tem 23,5% mais chance de ser assassinada.
A naturalizao das violncias, principalmente quando praticada contra determinados grupos humanos, uma realidade no contexto social que se perpetua ao longo dos tempos. A menos valia, a desumanizao e a morte dessa juventude no tm gerado comoo. Comoo no sentido genuno da palavra, que deriva do verbo latim comovere, e seu significado perturbar, mover impele para um movimento conjunto. A naturalizao da morte das juventudes, sobretudo negras, tem gerado uma frieza social que chega a ser assustadora.
importante frisar que ao nos propormos a analisar o contexto, seja na perspectiva socioeconmica, demogrfica, educacional, que tenha como foco a populao afrodescendente no Brasil, fundamental a compreenso conceitual do que o racismo estrutural . Este baliza em tempo pretrito ou presente todas as formas de relaes sociais que se estabelecem no campo do pblico ou privado.
O extermnio da populao negra e as polticas pblicas
No de hoje que o extermnio da populao negra vem sendo anunciado e estruturado na nao brasileira em forma de polticas pblicas. No ano de 1911, Joo Batista de Lacerda, no Congresso Universal das Raas em Londres, afirmou em sua comunicao cientfica que no perodo de um sculo a populao do Brasil seria provavelmente branca e no mesmo perodo a populao indgena e a populao negra desapareceria.
A partir de tal predio, polticas pblicas como: continuidades da imigrao europeia, higienizao das cidades, ausncias de polticas agrrias e educacionais para as populaes recm-sadas do processo de escravizao, entre outras construes epistemolgicas, arquitetadas para fazer cumprir as previses da intelectualidade brasileira de branqueamento da sociedade.
importante notar que as ausncias de polticas pblicas que pudessem garantir direitos s populaes de descendncia africana e indgena no ficaram estanques no ado, pois ao analisar quem so as vtimas do genocdio juvenil, observa-se que so os mesmos sujeitos que continuam desassistidos por polticas de insero e direitos sociais.
s vezes, pensamos que tais situaes de violncia esto distantes de nossa realidade, ou no peram as vidas que integram nossas comunidades de f.
H aproximadamente 10 anos, diante de uma situao que havia ocorrido com um menino da minha igreja, resolvi dirigir-me a alguns homens de minha comunidade e fazer a seguinte pergunta:
- Voc j foi abordado por policiais? Como foi esse processo?
O grupo para o qual dirigi a pergunta era composto de 20 pessoas do sexo masculino com idades entre 12 e 60 anos de composio racial diversa. Distribudos da seguinte forma:
Faixa etria | Quantidade | Raa/cor | |
12 a 16 | 5 | 3 negros | 2 brancos |
17 a 21 | 7 | 2 negros | 2 brancos |
22 a 29 | 4 | 1 negro | 3 brancos |
30 a 35 | 3 | - | 2 brancos |
36 a 45 | 3 | 2 negros | 1 branco |
46 a 60 | 5 | 1 negros | 1 brancos |
Minha pesquisa inicia de forma especulativa, no entanto, mantive at o presente as anotaes do que pude observar. Naquela semana, um garoto de 12 anos pertencente a comunidade havia sofrido uma abordagem violenta da polcia e meu objetivo naquele momento era levantar, na minha comunidade de f, a idade mnima e mxima de um homem negro est sujeito as abordagens da polcia.
Pude concluir que, dentre todas as faixas etrias os identificados como negros j haviam sofrido abordagens violentas da polcia. Sim, inclusive um garoto de apenas 12 anos de idade. O curioso foi que quando perguntei para outros meninos na mesma faixa etria, adultos que estavam prximos acreditavam que era bobagem minha fazer esse tipo de pergunta, visto que eles eram apenas crianas. Mas no caso do garoto negro que havia ado pelo processo da abordagem policial violenta naquela mesma semana foi lhe perguntado se ele no estava fazendo nada de errado. Os homens negros que compam a faixa etria dos 36 a 45 anos e 46 a 60 anos todos sofreram abordagem policial, por mais de cinco vezes.
Em relao aos homens brancos que foram abordados pela polcia, majoritariamente, na composio etria de 22 a 29 anos, dos respondentes dois disseram que durante a ao estavam acompanhados de amigos negros. Aps os 30 anos de idade, os homens identificados como brancos afirmaram no sofrer abordagem policial. E, todo o grupo afirmou que em momento algum foram abordados de forma violenta, ou seja, com algum tipo de agresso fsica.
Retomando os dados do Atlas da Violncia 2017, chamamos a ateno para o tema da violncia direcionada a populao negra, pois uma pessoa negra tem 23,5% mais chance de ser assassinada. Ao olharmos para nossas comunidades crists percebemos a insuficincia de discusses e aes que auxiliem no processo de desnaturalizao das violncias contra as juventudes negras.
Que a comoo (com = junto + movere = mover) nos traga a lucidez a fim de nos mobilizarmos para perturbar a ordem vigente, que se estrutura no racismo e espalha mortandade entre a juventude. Que sejamos a voz e a ao que profetiza vida em meio aos vales de ossos secos.
Juliana de Souza Mavoungou Yade doutora em Educao e coordenadora da Pastoral Nacional de Combate ao Racismo, da Igreja Metodista.
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