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Estrelas Alm do Tempo 3w4o4o

Por Carlos Caldas

A histria oficial versus a histria ocultada

Muitos conhecem a afirmao que a histria escrita pelos vencedores, pelos detentores do poder. Esta histria oficial serve para legitimar o status quo vigente em uma determinada sociedade. Sendo assim, um exerccio corajoso escrever uma histria que contenha uma memria subversiva, uma narrativa que rompe, ou que no mnimo, difere da histria oficial.

Estrelas alm do tempo foi o ttulo escolhido no Brasil para o filme do diretor Theodore Melfi que uma narrativa de uma memria subversiva. O ttulo original em ingls Hidden Figures, que eu traduziria por Personagens ocultadas. Acho que a forma do particpio ado do verbo ocultar em portugus expressa bem a ideia do ttulo. Concordo que minha sugesto um tanto desajeitada e deselegante, mas penso ser fiel ao esprito do original.

O filme conta a histria verdica de trs mulheres negras ou afro-americanas, como exige o politicamente correto nos Estados Unidos em 1961, no auge da corrida espacial com a ento Unio Sovitica. A histria oficial da chegada dos norte-americanos no espao fala sobre John Glenn, Neil Armstrong, BuzzAldrin, e outros que, no por mera coincidncia, eram homens e brancos. O filme de Melfi baseado no livro recente (2016) da escritora tambm afro-americana Margot Lee Shetterly intitulado Hidden Figures: The StoryoftheAfrican-American Women Who HelpedWinthe Space Race Figuras ocultadas: A histria das mulheres afro-americanas que ajudaram a ganhar a corrida espacial. Pois bem, esta a histria que at agora foi ocultada. Sem a participao efetiva das brilhantes matemticas negras, os heris brancos no teriam chegado ao espao.

A narrativa do filme a histria de Katharine Johnson (Taraji P. Henson), Dorothy Vaughn (Octavia Spencer) e Mary Jackson (a bela Janelle Mone). As trs so funcionrias da NASA, e so muito capacitadas em suas respectivas reas: Katharine Johnson tem uma inteligncia matemtica muito acima da mdia (consegue fazer clculos de maneira mais rpida e acertada que um computador IBM), Dorothy Vaughn aprende a lidar com computadores, uma novidade na poca, antes dos engenheiros da IBM, e Mary Jackson consegue, custa de uma batalha judicial, ser a primeira negra dos Estados Unidos a se formar em engenharia na oficialmente segregacionista Universidade da Virginia.

Mulheres negras num mundo dominado por homens brancos

Aqueles incios dos anos de 1960 eram muito tensos. Alm da j mencionada corrida espacial, a guerra acontecia no Vietn, e a tenso racial entre negros e brancos nos EUA atingia nveis inveis. O filme mostra em uma rpida cena um discurso do Rev. Martin Luther King Junior na televiso. E neste tempo turbulento, Katharine, Dorothy e Mary enfrentam uma luta dupla terrvel: so mulheres, em um mundo dominado por homens o mundo da cincia e so negras, em um mundo dominado por brancos. Elas sofrem uma humilhao atrs da outra, mas no desistem. O filme retrata a persistncia inquebrantvel do trio de amigas de maneira no piegas. Chega a ser irritante ver como elas so humilhadas o tempo todo por brancos prepotentes, arrogantes e insensveis.

A narrativa fica um tanto cansativa e arrastada mais ou menos na metade, mas recupera o flego no seu tero final. O filme resvala perigosamente no desequilbrio no sentido que, em tese, deveria apresentar a luta das trs mulheres, mas concentra a ateno na matemtica Katharine. Outra coisa curiosa que difcil dizer quem o/a ator/atriz coadjuvante: Al Harrison, o chefe da equipe de cientistas (muito bem interpretado por Kevin Costner), Vivian Michael (Kirsten Dunst), a arrogante secretria da equipe, que o terror da vida da matemtica Dorothy Vaughn, ou Paul Stafford (Jim Parsons, o Sheldon de The Big BangTheory), que at ento era o principal matemtico do time chefiado por Harrison? Stafford to nerd quanto o Sheldon, mas um nerd mal humorado, invejoso, desonesto, insensvel e inescrupuloso. Ele simplesmente no consegue esconder a raiva que sente quando fica evidente para todo mundo que Katharine muito mais brilhante que ele.

Estrelas alm do tempo uma exaltao da importncia do reconhecimento da alteridade. O outro, o diferente no caso do filme, as trs mulheres negras, que sofrem por ser o que so, ou seja, por serem mulheres e por serem negras tem um valor intrnseco que irredutvel, que parte da constitutividade do ser humano. Logo, o outro merece respeito. Tzvetan Todorov, o filsofo e terico de literatura blgaro, radicado na Frana, que nos deixou semana ada, em A conquista da Amrica a questo do outro, levanta a questo de ver o outro como o outro, algo que muita gente no faz, porque s olha para si mesmo e para suas prprias perspectivas.

A alteridade como princpio bblico

Reconhecer o valor do outro, dar-lhe vez e voz, permitir-lhe oportunidades, so alguns desafios impostos pela alteridade. Esta uma lio que a tica bblica sempre apresenta. O Deuteronmio exclua o outro, representado na figura dos amonitas e moabitas, das assembleias santas, at a dcima gerao (23.3). Mas a prpria Bblia Hebraica j apresenta o contraditrio desta no aceitao da alteridade: neste sentido, o exemplo mais eloquente a narrativa de Rute, a moabita, que se tornar ancestral do prprio Messias (cf. Mt 1.5). E Jesus exaltar a importncia do outro, do diferente, do que no faz parte da comunidade.

A teologia lucana particularmente rica neste sentido: em Lucas encontramos Jesus exaltando a importncia do outro em seu sermo na sinagoga de Nazar (4.24-27), na negativa de queimar com fogo do cu os samaritanos hereges (9.51-56), naquela que uma de suas parbolas mais conhecidas (10.25-37), na exaltao do esprito de gratido de um samaritano que ele curou (17.11-19).

Se os protestantes brancos dos Estados Unidos tivessem prestado ateno a textos como estes, e a tantos outros semelhantes em sentido, as matemticas brilhantes Katharine, Dorothy e Mary no teriam sido to humilhadas como foram. E a ns fica o eterno desafio de lembrarmos que, se temos direitos, o outro tambm tem. Estrelas alm do tempo no nos deixa esquecer deste ponto to importante da vida humana.

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professor do Programa de Ps-Graduao em Cincias da Religio da PUC Minas, onde coordena o GPRA Grupo de Pesquisa Religio e Arte.
  • Textos publicados: 86 [ver]

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