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04 de dezembro de 2020
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Um dia em Moambique 1b245c

Um dia de cada vez

Por Lilian Rodrigues

Acordo com o cantar dos arinhos, em meio a uma vegetao de grandes rvores com muitos ninhos de pssaros bem diferentes dos do Brasil: um pssaro de azul deslumbrante, outro lindo que parece um pica-pau, e os cantos, nem se fala...todos bem incomuns aos meus ouvidos sensveis. O calor bate na janela s 5 horas da manh. primavera! Muito lindo o desabrochar das flores, desde as accias at os flamboyants.

Depois do mata bicho (caf da manh) comeamos meu marido e eu com nossa devocional. O primeiro momento do dia depositar nossas ansiedades, sonhos, futuro e gratido aos ps daquele que nos trouxe aqui.

Escrevo estas linhas voltadas para uma janela com uma grande figueira a minha frente, talvez a maior rvore do campus onde vivemos. noite ela morada de muitos morcegos herbvoros.

Hoje dia de visita s crianas com necessidades especiais. Ao mesmo tempo que um privilgio, no deixa de ser um desafio muito grande em meio a condies difceis de vida. Hoje visitamos uma menina, Julieta*, com 5 anos de idade. Ao chegarmos em sua casa, um ambiente inslito e no mnimo, curioso. Sentamos em crculo: o pai da menina, um lder da comunidade e ns (duas missionrias e um irmo que nos acompanha nas visitas).

Num ar de olhos percebemos que Julieta est com as pernas enterradas na terra. No entendemos muito bem o porqu, (a primeira impresso que no tinha as perninhas), talvez ela no tivesse mesmo como algumas crianas moambicanas. Mas o pai nos explica que acredita poder ajudar a criana com sua dificuldade de mobilidade. Quando o pai nos traz a menina e coloca na esteira (lugar onde geralmente se sentam as mulheres e as crianas moambicanas), percebemos que ela tem sim as pernas, possuindo dificuldades de movimentos.

Ento amos um tempo ali conversando, tentando entender a situao da criana para que possamos ajudar de alguma forma. Aproveitamos para compartilhar a Palavra de Deus dando um conforto e mostrando o grande amor de Deus que se estende a todos, inclusive quela famlia.

A outra missionria explica como os irmozinhos podem ajudar a irmzinha com brincadeiras e exerccios para a pequena Julieta melhorar. O pai ouve que ele tambm pode protagonizar a situao e colaborar.

Depois samos dali, o lder da comunidade pede para acompanhar-nos e fazemos mais duas visitas.

A tarde chega, depois do almoo o sol j a queimar, temos de descansar um pouco por causa do forte calor. No final da tarde prosseguimos com reunies de orao ou ao lado de outros irmos temos que preparar-nos para os estudos bblicos ou pregaes durante a semana. A noite chega rapidamente trazendo um cu estrelado e outros barulhos no mato: o som de uma coruja, o som do vento que sopra ao redor ou a manga que cai no telhado de casa.

O final do dia traz uma reflexo (e talvez outros dias ainda): Julieta uma entre milhares de crianas que precisam de ajuda neste pas. Como ajudar essa criana e as outras que estamos a conhecer? Como aliviar o sofrimento e levar esperana para essas pessoas?

Em quase dois anos na frica, percebemos quo limitados somos e o quanto precisamos ouvir a voz de Deus para compartilhar do amor de Cristo com essas pessoas.

Hoje foi apenas um dia, outros j vieram e outros vo chegar, mas o que sobressai em meio aos imensos desafios daqui o sorriso que cada criana traz, independente de sua circunstncia. E isso j faz valer a pena estarmos aqui.

Lilian Rodrigues, missionria em Moambique, esposa de Leandro dos Santos, servindo com a Sepal e OMS (One Mission Society). Se quiser saber mais sobre nosso ministrio, escreva para [email protected]

*o nome foi mudado para preservar a identidade da criana

Crdito da foto: Leandro dos Santos

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