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Sobre as enchentes em Alagoas: um relato "in loco" 3q112t

Paulo Nascimento

Hoje, 23 de junho, nos turnos da manh e da tarde, eu e o pastor Wellington Santos visitamos as cidades de Branquinha e Murici, alm da vila de Utinga, na zona rural de Rio Largo. Essas trs localidades esto entre aquelas que foram devastadas pelas enchentes no estado de Alagoas. A princpio, a ideia era visitar nosso amigo pastor Sandoilson Rgis em Murici. Mas ao encontrarmos esse amigo e sua famlia em tranquilidade, nosso itinerrio se estendeu. Quando falo de tranquilidade em relao ao pastor Sandoilson e sua famlia, falo apenas do fato de sua residncia no ter sido atingida pela enchente. Na verdade, a tranquilidade de sua famlia se traduzia em intranquilidade em relao ao povo de Murici, uma vez que encontramos aquele colega e sua esposa trabalhando duro para cuidar do povo atingido pela calamidade.

Eu gostaria de encontrar as palavras adequadas para descrever o que vimos, sobretudo em Branquinha e Murici. Fiquei com a impresso de que inefveis no so somente aquelas experincias que chamamos de experincias do Sagrado. H realidades humanas, mormente as de profunda calamidade coletiva, que tambm so inefveis. Elas escapam a toda descrio, e impossvel que sejam ditas objetivamente. impossvel de serem ditas sem que nossos sentimentos no estejam embrenhados na tentativa de falar acerca delas. Falar delas falar de ns.

O que se pode dizer que a cobertura miditica no chega a dimensionar sequer superficialmente a situao. No se podem comparar as imagens da TV com as imagens que se tm com os ps enterrados em 30 centmetros de lama. No se podem comparar as imagens da TV com as imagens recheadas de dilogos com os moradores cata de seus objetos domsticos nos escombros. No se podem comparar as imagens da TV com as imagens que alimentam a ideia de que corpos estejam sob os escombros. No se podem comparar as imagens da TV, seletivamente organizadas, com a impresso subjetiva da onipotncia do caos.

As imagens da TV no conseguem transmitir a tonalidade surreal da situao in loco. Talvez porque a prpria mdia seja especialista na banalizao do caos, da guerra, da violncia, das calamidades naturais etc. De tanto que nos acostumamos a conviver com essas cenas em filmes, novelas e nos outros subprodutos da TV, os flashes acerca das enchentes em Alagoas perdem em fora imagtica.

Minha amiga e estudante de psicologia, Juliana, tem dito repetidamente, e com muita razo, que a tragdia se avolumar, de fato, a partir de agora. As enchentes so somente o estopim de uma catstrofe muito maior. Eu, Wellington e Sandoilson pudemos perceber um pouquinho disso hoje em Murici. Tanto ali como em outros lugares, algumas escolas pblicas foram transformadas em alojamento para as famlias desabrigadas. No obstante, as condies sanitrias nesses ambientes so terrivelmente degradantes, j que a estrutura fsica dos prdios no foi projetada para esse fim. Em todas as comunidades atingidas falta gua potvel, energia eltrica, remdios e itens ligados higiene pessoal. As famlias se amontoam nas salas de aula. O ano letivo dos estudantes est comprometido.

Ns nos interrogvamos acerca do fato de que se em Alagoas os processos polticos j no do conta sequer da istrao das demandas corriqueiras da polis, agora com todas essas super-demandas extras ento...

E o nojo nos invadia s de pensar que provavelmente, nesse ano eleitoral, as enchentes vieram preparar um terreno hiper-frtil para candidatos que utilizaro sem d as necessidades da populao para comprar votos.

Falando nisso, eu no preciso repetir aqui o que os pastores Wellington Santos e Reginaldo Silva j disseram em outros textos: que a tragdia em Pernambuco e Alagoas no natural, mas poltica.

Num texto clssico Freud dizia que ns, seres humanos, inventamos a religio para, entre outras coisas, aplacar o medo das foras intempestivas da natureza. O medo da morte, o desamparo diante da vida e a fragilidade diante das foras da natureza seriam os vetores na base da gnese da religio. Isso ele disse em 1927 no livro O Futuro de uma Iluso. No concordo! Se num ado remoto a religio foi a forma de enfrentamento do medo das foras da natureza, hoje no mais.

Desde Francis Bacon isto , muito antes de 1927 a natureza foi por ns dessacralizada. Desde Bacon ela deixou de ser me de mil seios fartos, para ser um espao a ser dominado pela racionalidade e pela tcnica. Isso em funo do conforto das elites, no esqueamos! O medo da natureza foi substitudo por uma arrogncia que se ancorava na possibilidade de desvelamento dos seus segredos mais ntimos. Conhecer para dominar. a Bacon que devemos o adgio saber poder. verdade que se trata de um sonho fracassado. Nunca dominamos a natureza. Mas aprendemos a conviver com ela. A tirar proveito dela. A se adaptar aos seus ciclos indomveis. Pelo menos para os ricos isso verdade!

O pior que aprendemos a usar a natureza ideologicamente. Fazemos isso de duas formas:

1. Para segregar os pequenos, os pobres, os imundos, a escria. So eles que habitam os morros e encostas. So eles que habitam as margens dos rios e os lugares mais insalubres de nossas cidades. Michel Foucault, em Em Defesa da Sociedade, nos falava da nefasta atitude poltica do deixar morrer, como forma alternativa com que o Estado Moderno trata as classes mais baixas. Como o genocdio tornou-se politicamente incorreto, a forma de purificao ou de acossamento dos impuros o deixar morrer. So justamente os pobres aqueles que menos tm o inteligncia que melhor adqua homem e natureza. A inteligncia e racionalidade que produz projetos urbansticos que poupam as populaes das intempries da natureza privilgio dos ricos. Os pobres que se virem para enfrentar a natureza e seu poder maior.

2. Para ocultar a responsabilidade poltica do Estado frente s populaes carentes. Num vis histrico-dialtico, chamaramos isso de discurso ideolgico. O que me causa espanto que pouca gente questiona o discurso de culpabilizao da natureza. Se a culpa da natureza, por que somente os pobres que so vitimados? Teria a natureza alguma coisa contra os pobres? Se vontade de Deus, por que Deus no despeja sua ira contra aqueles que confinam o povo na misria? Haveria pecado maior que maltratar aqueles a quem Deus chamou de minha imagem e semelhana?

Mas a caminhada nas ruas de Branquinha e Murici no produziu somente torpor e impotncia. A catstrofe tambm ajuda a ratificar a ambiguidade humana, o que acaba por produzir indignao. Nas ruas h gente que ajuda a limpar a cidade, e h gente que joga domin e assiste a tudo. H gente atolada no barro atrs de um pertence, e h gente querendo vender cartela do jogo do bicho a no sei quem. H muita gente pobre que doa do seu pouco feijo, e h gente abastada que vende um pacote de velas por cinco reais. H gente solidria com a dor de amigos e parentes, e h gente preocupada somente com o jogo entre Brasil e Portugal. H gente de igreja que pragueja diante da situao, e h gente sem igreja que conta piada ao visitante de outra cidade.

Amanh visitaremos outros amigos pastores em cidades no rastro das enchentes: Unio dos Palmares, So Jos da Laje e Santana do Munda. Nunca demais lembrar a todos sobre as doaes de donativos. O que o contato direto com as comunidades atingidas mostra que alimentos e produtos de higiene so a prioridade agora. Procure um posto de doao em sua comunidade: igreja, escola etc. Para os amigos e amigas de outros estados, as doaes em dinheiro, feitas a pessoas e instituies de confiana, so muito bem vindas.

Forte abrao, e no deixem de orar por todos os atingidos.


Paulo dos Santos Nascimento, casado com Patrcia Nascimento, pastor batista em Macei, AL, h 4 anos e professor de Teologia Sistemtica.

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