Apoie com um cafezinho
Ol&aacute visitante!
Entrar Cadastre-se

Esqueci minha senha 14113k

  • sacola de compras

    sacola de compras 142f1e

    Sua sacola de compras est vazia.
Seja bem-vindo Visitante!
  • sacola de compras

    sacola de compras 142f1e

    Sua sacola de compras est vazia.

Opinio 3pp3w

Quem so e o que fazem os "evangelicais"? 5w1g2n

Por Bertil Ekstrm

Para comear

O objetivo deste artigo* descrever e analisar o desenvolvimento daquilo que podemos chamar de movimento evangelical durante as ltimas dcadas, sem a pretenso de ser completo ou mesmo imparcial. Fao parte deste movimento e estou por 25 anos diretamente envolvido na Aliana Evanglica Mundial nos ltimos 11 anos como diretor executivo da Comisso de Misses da WEA.

Minha preocupao no defender uma certa compreenso do que significa ser Evangelical, mas colaborar num dilogo franco e aberto sobre os diferentes aspectos deste movimento, positivos e negativos, dando uma perspectiva a partir daquilo que tenho visto ao longo dos anos.

Quem so os evangelicais

Definir evangelical problemtico em si. Uma das confuses que geralmente fazemos que no ingls existe apenas a palavra evangelical que tanto pode ser traduzido como evanglico como tambm usando o anglicismo evangelical, pensando mais na teologia e na ideologia de determinada ala de evanglicos.
Por isso quando ouvimos algo sobre os evangelicals por exemplo nos Estados Unidos, rapidamente identificamos estes grupos com outros evangelicais, enquanto o termo est se referindo a um grupo especfico de evanglicos. Parece que o mais comum que estes evangelicals so assim denominados com um tom de desaprovao, principalmente quando so de uma linha fundamentalista.

Luiz Longuini Neto, em seu livro O Novo Rosto da Misso, com razo fala da dificuldade em determinar de forma clara quem so os evangelicais. O problemtico que muitas vezes as definies so feitas pelos de fora do movimento, frequentemente de forma crtica e tambm pelo fato de que a auto-compreenso do movimento tem sofrido mudanas significativas ao longo da histria recente.

Outro aspecto que complica a identificao do que ser evangelical a heterogeneidade do movimento ao redor do mundo. Enquanto ns no Brasil e na Amrica Latina podemos ter uma compreenso do movimento a partir de nossa percepo da confisso e da prtica demonstrada por igrejas e agncias missionrias, em outros continentes e contextos, a utilizao do termo identifica movimentos similares, mas no exatamente iguais. Inclusive, o melhor quem sabe, seria justamente falar de movimentos evangelicais no plural, pela diversidade com a qual se apresentam globalmente. Existem aspectos em comum? Sim, com certeza, mas em certas reas, inclusive nas que muitas vezes criticamos internamente ou externamente o movimento, h muita variedade.

Paul Freston, por exemplo, se autodenomina um evangelical crtico, numa tentativa de mostrar que no possvel generalizar quem so os evangelicais a partir de uma postura fundamentalista, meramente conservadora ou mesmo retrgrada. Por outro lado existem fundamentos doutrinrios que mesmo os evangelicais atpicos, se assim desejar, defendem e que certamente definem de forma geral o que significa ser evangelical.
No dicionrio Evanglico de Misses Mundiais, Scott Moreau faz o seguinte comentrio sobre o Movimento Evangelical: Evangelicalismo moderno engloba hoje uma quase infinita diversidade de Cristos, todos leais mensagem do Evangelho, mas com variadas orientaes teolgicas e espirituais. Grupos maioritrios de Luteranos, Presbiterianos, Anglicanos, Pentecostais, Batistas, Wesleyanos, Menonitas, Irmos, Igrejas de Cristo, e outros do movimento da restaurao. A esses pode ser acrescentados os Judeus Messinicos, Cristos no denominacionais e os constituintes de agncias para-eclesisticas.

Na verdade, no uma questo de linhas denominacionais, mas de hermenutica e de teologia. Na Aliana Evanglica Mundial todas as igrejas acima mencionadas so membros ou na Aliana Mundial ou nas Alianas Nacionais. Existe, naturalmente, uma grande sobreposio com o Conclio Mundial de Igrejas, sendo que parte dessas Igrejas pertencem aos dois.


Joel Edwards, que presidiu a Aliana Evanglica da Inglaterra por muitos anos, uma das alianas mais representativas e diversificadas, escreve em seu livro An Agenda for Change, sobre esta questo de como definir ou identificar o que Evangelical. Ele diz: Evangelicais perfazem hoje uma grande, estendida famlia na qual legtima membresia tem ultraado fronteiras de culturas, estilos eclesisticos e nfases doutrinais. Evangelicais so abertos, progressistas, histricos, esquerda e direita, post ou radical, conservadores ou fundamentalistas. Eles podem ser carismticos, pentecostais ou reformados. Podem tambm cruzar os alinhamentos polticos. Ele conclui que a identidade Evangelical sempre foi difcil de resumir.

Alguns fundamentos

Falando de alguma forma em nome da Aliana Evanglica Mundial, Edwards sugere a seguinte forma de aproximarmos do tema, inclusive com uma clara atitude de autocrtica:
1. Reconhecer que sempre foi difcil estabelecer a identidade evangelical. Inclusive porque tem sido Eurocntrico mas agora a igreja global que define
2. Nenhuma subcultura evanglica tem o direito de decidir por si prprio o que evangelical.
3. Os evangelicais nunca devem usar sua noo de verdade para excluir a outros. Um evangelical com uma mentalidade de reino deve partir de uma relao espiritual inclusiva.
4. Quando os evangelicais se colocam como rbitros da verdade, eles esto num terreno muito perigoso.
5. Evangelicais devem ser reconhecidos em seu compromisso com a Bblia como autoridade em todas as questes de doutrina e tica. Mas nenhuma interpretao cultural especfica deve ser permitida a dominar.
6. A f evanglica mal representada se reduzida a uma estreita e limitada agenda moral.
7. Evangelicais no podem ser identificados com uma linha poltica especfica, por exemplo com Republicanos nos Estados Unidos.

De forma geral, h um consenso que os fundamentos descritos por David Bebbington em seu livro Evangelicalism in Modern Britain: A History from the 1730s to the 1980s e confirmados por John Stott em Evangelical Truth, resumem os principais conceitos dos Evangelicais :
1. A autoridade das Escrituras
2. A obra redentora em Cristo Jesus como o centro da f crist
3. A necessidade de uma converso pessoal
4. Uma vida em santidade que se mostra no testemunho por palavras e obras (evangelizao e envolvimento social)

John Stott acrescentaria que o Evangelicalismo tem como centro a Trindade Divina.

Fases do evangelicalismo

A Reforma naturalmente muito importante para o surgimento do Evangelicalismo, inclusive com estes conceitos mencionados como centro da reforma de Lutero, Calvino e Zwinglio. Este ano estamos comemorando os 500 anos da Reforma.

Mas principalmente no Pietismo na Alemanha e no Puritanismo na Inglaterra que vamos encontrar a origem mais direta do que poderamos chamar de Evangelicalismo. A influncia de movimentos como a Misso de Halle na Dinamarca, os Morvios na Alemanha e o Metodismo atravs dos irmos Charles e John Wesley na Inglaterra, deu origem a novos grupos de cristos que foram aos poucos unindo-se em Igrejas e denominaes. O termo Evangelical primeiramente usado nestes despertamentos e avivamentos do sculo XVIII na Europa e nos Estados Unidos.

Este movimento Evangelical determinou grandemente a forma como a expanso missionria se deu a partir do fim do sculo XVIII, por exemplo com a formao das sociedades missionrias, como a Batista na Inglaterra que enviou William Carey ndia em 1792.

O chamado novo Evangelicalismo considerado a partir de Evangelicais como Billy Graham e Carl F. Henry , e posteriormente John Stott. David Bosch diz sobre Carl Henry que ele foi o catalisador da mudana do Evangelicalismo atravs de seu livro The Uneasy Conscience of Modern Fundamentalism (A conscincia pesada do fundamentalismo moderno), propondo uma abertura para as questessociais e um dilogo com a sociedade, deixando de lado o sectarismo estreito e intolerante. Henry diz que no h espao para um evangelho que seja indiferente s necessidades do homem integral ou do homem global.

Quando as alianas evanglicas so reestruturadas nas dcadas de 1950 e 1960, esta nova nfase holstica est comeando a aparecer em seus estatutos e objetivos, mesmo no conseguindo completamente se livrar de um dogmatismo denominacional. Poderamos afirmar que at o fim da dcada de 1960 a nfase das igrejas evanglicas era justamente a relao vertical com Deus, a reconciliao do ser humano com seu Criador, a converso pessoal e o evangelismo para ganhar almas. Mas a partir deste desenvolvimento do Evangelicalismo da dcada de 1970 em diante que uma teologia e uma missiologia mais integral e holstica ganha fora.

O evangelicalismo a partir de 1910

1910 um ano importante para o Cristianismo Evanglico. Vrios movimentos de avivamento haviam deixado suas marcas no meio dos cristos, criando novas linhas teolgicas e eclesisticas. O pentecostalismo havia surgido com fora, e mesmo que o movimento do Azuza Street em 1906 no era a primeira expresso pentecostal, os seus efeitos eram nitidamente vistos tanto na Amrica do Norte como na Europa. Posteriormente tambm aqui no Brasil.

A polarizao entre fundamentalistas e outros grupos cristos foi acentuada, entre outros coisas, pelo lanamento da Bblia de Referncia de Scofield seguido de uma srie de escritos por autores conservadores. Tratados contra o Pentecostalismo foram publicados por exemplo na Alemanha, marginalizando os pentecostais do Evangelicalismo. Efeitos disso vemos ainda hoje em alguns grupos Evangelicais.

Ao mesmo tempo, surge no fim do sculo XIX movimentos estudantis e de reflexo teolgica entre os Evangelicais que questionam a rigidez dogmtica e a refutao da cincia como algo contrrio s Escrituras. John Mott personifica esta mudana do fim do sculo XIX e comeo do sculo XX. Presidindo a Conferncia de Edimburgo em 1910, ele transmitiu o esprito de otimismo e confiana que caracterizou os crculos missionrios ocidentais, especialmente os norte-americanos.

O nimo em Edimburgo, diz Bosch, era futurista e no escatolgico. O pensamento era de evangelizao na gerao presente, sendo que o futuro iniciava naquele momento. Era possvel conquistar o que ainda faltava de ser alcanado em termos de evangelizao. Com frequncia usava-se termos militares, como exrcito, cruzada, conselhos de guerra, conquista, avano, recursos e ordens de marcha.

A Conferncia de Edimburgo marcou o incio do ecumenismo (que no vou tratar aqui em detalhes), mas tambm faz parte da srie de eventos que formam o Evangelicalismo de nossos dias. A conferncia reuniu 1355 delegados. Eram lderes de agncias missionrias da Amrica do Norte e da Europa com alguns representantes asiticos escolhidos pelas agncias do norte. Alguns dizem que um africano e um latino-americano participaram como observadores. Uma das concluses polmicas da conferncia foi a de que os pases onde dominava uma igreja catlica ou luterana no seriam considerados campos de misso e portanto no havia necessidade de evangelizao estrangeira nestes pases.

Robert Steer, que fazia parte da comisso organizadora do evento no concordou e juntamente com alguns outros e com o consentimento de John Mott, formou uma comisso que mais tarde liderou as conferncias do Panam em 1916 e em Montevideo em 1925.

Samuel Escobar faz a pergunta se o movimento evangelical, principalmente o latino-americano, tem algo a comemorar em relao conferncia de 1910. Ele diz:
Vale a pena fazer-se a pergunta se corresponde aos evanglicos latino-americanos celebrar Edimburgo. Proponho primeiro uma resposta positiva e logo uma resposta crtica. Sendo que Edimburgo representou uma avaliao do sculo e meio de misses protestantes no mundo, devemos dar graas a Deus pelas misses e celebra-las. Alm disso a correo evanglica a Edimburgo representada por Panam 1916 deu seu fruto na realidade do vigoroso protestantismo latino-americano do sculo XXI. Temos que agradecer a Deus por sua misteriosa providencia que corrigiu e superou a sabedoria missionria dos protestantes europeus de 1910. E por ltimo reconhecer que as notveis mudanas do catolicismo latino-americano se devem justamente pela presena protestante. Por outro lado a celebrao da misso protestante no pode deixar de ser crtica. As misses protestantes presentes em Edimburgo mostravam as conexes entre o expansionismo imperial britnico e o dos Estados Unidos.

Um dos brasileiros que se envolveu na continuidade ao congresso em Edimburgo foi o metodista e estadista Erasmo Braga. Alderi Souza de Matos, historiador presbiteriano, diz sobre Erasmo Braga:
Desde o incio do seu ministrio, Erasmo Braga vinha observando com interesse alguns movimentos do protestantismo anglo-saxo voltados para misses e cooperao intereclesistica. Em 1910, quando a Conferncia Missionria Mundial se reuniu em Edimburgo, na Esccia, as misses na Amrica Latina no foram contempladas por se entender que esse continente j era cristo. Em reao a isto, foi criado trs anos mais tarde o Comit de Cooperao na Amrica Latina (CCAL), que promoveu em 1916 o clebre Congresso da Obra Crist na Amrica Latina, na Cidade do Panam. Essa foi a primeira vez que os protestantes ibero-americanos se reuniram para discutir o seu trabalho. Erasmo Braga participou desse encontro e foi profundamente impactado pelo mesmo. Regressando ao Brasil, ele abraou de modo crescente as propostas resultantes do Congresso do Panam: cooperao evanglica, envolvimento social, testemunho cristo na sociedade, educao teolgica de alto nvel, evangelizao das elites.

H muito o que dizer sobre a Conferncia de Edimburgo 1910. Certo que surge o movimento ecumnico com trs iniciativas principais:
1. O Comit de Continuidade de Edimburgo que mais tarde deu lugar para o Conselho Missionrio Internacional, organizado em 1921. Este conselho teve forte influencia evangelical e reconheceu o trabalho missionrio de parte dos protestantes na Amrica
2. Em segundo lugar, deu incio comisso de F e Ordem com a finalidade de estudar os temas relativos a doutrina e ministrio entre as diferentes igrejas protestantes.
3. Em terceiro lugar, a Comisso de Vida e Obra que se dedicou aos assuntos prticos relacionados como a ao social e a busca pela paz.

Interessante foi o que aconteceu em 2010 quando houve quatro conferncias que todas se diziam celebrar Edimburgo 1910 e que representavam o legado de 1910. Duas delas organizadas por Evangelicais e duas convocadas por Ecumnicos.

A primeira foi realizada em Tquio em maio e foi convocada pela Associao Missionrio do Terceiro Mundo (Third World Missionary Association TWMA) com o apoio ir do US Center for World Mission e do missilogo Ralph Winter. O tema da conferencia foi parecida com a de 1910 enfocando o trmino da tarefa missionria: To fulfill the task. A nfase estava num pragmatismo empresarial, fazendo-se clculos de quando a tarefa poderia ser terminada.
A evangelizao dos no-alcanados era a grande preocupao ao mesmo tempo que a re-evangelizao da Europa ganhou destaque. A composio do evento era bastante parecida com 1910 sendo que foram lderes de agncias missionrias e no necessariamente de igrejas ou denominaes que foram convidados. Cerca de 1500 pessoas participaram, inclusive alguns brasileiros.

A segunda foi a de Edimburgo 2010, convocada pela Igreja Presbiteriana da Esccia, reunindo cerca de 350 lderes de todas as tradies crists. Fui um dos 30 representantes da Aliana Evanglica Mundial mas havia tambm alguns outros evangelicais. A conferncia foi dividida em 9 reas de reflexo que correspondiam a temas levantados em 1910. Dirigi juntamente com o Arcebispo Catlico da Esccia, o grupo de reflexo sobre Espiritualidade Missionria e Discipulado Autntico. O resultado da conferncia foi uma comemorao da unidade da Igreja e da possibilidade de dilogo entre as diferentes tradies crists. Havia algum enfoque evangelstico e missionrio mas pouco enfatizado. Sendo realizada no mesmo local que a conferncia de 1910 e com um intuito de reforar a aproximao das igrejas crists, foi sim algo parecido com 1910. Agora, no entanto com representao tambm do hemisfrio sul. Creio que ramos uns 20 latino-americanos.

A terceira conferncia foi a da Cidade do Cabo, frica do Sul, Cape Town 2010, em outubro. Foi organizada pelo Movimento de Lausanne em cooperao com a Aliana Evanglica Mundial. Cerca de 4.200 participantes de 198 pases. Tivemos uma boa delegao brasileira participando. O congresso tinha como objetivo o seguinte:
1. Afirmao sobre a verdade em Jesus Cristo;
2. Apresentar um clara afirmao sobre o testemunho cristo entre os povos de outras religies;
3. Re-enfocar o evangelismo e a misso integral da Igreja;
4. Fazer uma chamada para erradicar a pobreza do conhecimento Bblico;
5. Chamar a igreja de volta humildade, integridade e simplicidade; e
6. Desafiar a novas iniciativas de colaborao e parcerias respondendo s questes importantes que a igreja e o mundo enfrentam hoje

O resultado foi o chamado Compromisso da Cidade do Cabo. A primeira parte j tinha sido escrito por um comit de redao coordenado por Chris Wright, da qual fiz parte, e a segunda parte, mais prtica surgiu a partir dos temas do encontro. Possivelmente Cape Town 2010 foi a conferncia que melhor representou os 100 anos de misso desde 1910.

A quarta conferncia foi convocada pelo movimento ecumnico estudantil em Boston em dezembro. Havia poucos participantes que abordou os assuntos de 1910 a partir de uma anlise mais acadmica, enfatizando o discipulado e voltada sociedade de hoje. Temos poucas notcias deste encontro que foi parecido com o de 1910 por ser um movimento estudantil e de linha mais ecumnica mas como pouco envolvimento de pessoas de outros pases.

O desenvolvimento do evangelicalismo nas ltimas dcadas

No h dvida de que os quatro pilares da teologia evangelical continuam sendo a autoridade da Bblia, a centralidade de Jesus Cristo, a converso pessoal e a ao prtica na evangelizao e na ao social. Algumas conferncias regionais foram realizadas ao longo dos anos que se seguiram aps 1910, mas as duas guerras mundiais quebraram em grande parte aquele entusiasmo e otimismo que tinham caracterizado a conferncia de Edimburgo.

em 1966 que Billy Graham toma a iniciativa de reunir lderes evanglicos para uma conferncia em Berlim e comear a discutir a situao da evangelizao mundial. Esta reunio resultou no Congresso de Lausanne em 1974, que creio que todos conhecemos. O tema de toda a igreja levando todo o evangelho ao ser humano como um todo em todo o mundo tornou-se o slogan do Movimento de Lausanne que surgiu a partir da conferncia.

O Pacto de Lausanne, documento redigido por John Stott, acabou tambm sendo o principal documento de misso para os Evangelicais. A influncia de telogos latino-americanos em Lausanne foi importante. Tanto Ren Padilla do Equador quanto Samuel Escobar do Peru tiveram importante papel na formulao de uma Misso Integral com base numa teologia acerca do Reino de Deus. Um reino que dever ser visvel e concreto na sociedade de hoje assim como uma antecipao do reino eterno.

Quem sabe como um parntese, importante dizer, devido s discusses mais recentes sobre o termo misso integral, que o que Lausanne prope, assim como a Fraternidade Teolgica Latino-americana originalmente fez, no deve ser confundido com um teologia liberal ou uma teologia de cunho meramente social.

Vrios lderes brasileiros participaram de Lausanne 74 e o congresso da ABU em Curitiba em 1976 foi um dos eventos que introduziu os conceitos do Pacto de Lausanne ao nosso contexto brasileiro. Em 1983 a ABU em conjunto com a Viso Mundial comeou a lanar os livretos de Lausanne.

Em Manila, nas Filipinas, em 1989 foi o Segundo Congresso de Lausanne. O manifesto de Manila reforou alguns dos temas do pacto de 74 incluindo mais claramente a questo dos povos no alcanados e da necessidade de um ao holstica na evangelizao. Vrios brasileiros estiveram presentes l tambm, e uma das intervenes mais aplaudidas foi a de Valdir Steuernagel sobre a necessidade do movimento estar atento ao desenvolvimento e voz das igrejas no hemisfrio sul.

No mesmo ano de 1989 surge outro movimento evangelical, o Movimento AD 2000. Alguns lderes dentro do Movimento de Lausanne e da Aliana Evanglica Mundial no se sentiam satisfeitos com a reflexo missiolgica, a produo de documentos e as consultas realizadas e queriam promover a ao evangelizadora de forma mais concreta.

Liderado por Luiz Bush e Thomas Wang, o AD 2000 tinha como objetivo reunir esforos de todos os evanglicos para terminar a tarefa de evangelizao at o final do milnio. Expresses pedaggicas como a Janela 10/40 e adoo de povos no alcanados foram lanadas e serviram para recrutar muitos adeptos ao movimento. Aqui no Brasil formamos uma comisso de AD 2000 e participamos de algumas das iniciativas, como adoo de povos e intercesso. Delegaes brasileiras participaram dos dois principais eventos realizados por AD 2000, o congresso na Coria do Sul em 1995 e o da frica do Sul em 1997.

O plano era ter uma grande conferncia em Jerusalm na virada do milnio, nos feriados do ano novo de 2001. Muitos haviam se inscrito, comprado agens e reservado hotis, mas o governo Israelense cancelou todos os vistos de turistas e a conferncia no aconteceu. Em abril de 2001 o movimento fechou com uma pequena reunio de lderes em Jerusalm.

Evangelicalismo hoje

Algo que tem preocupado uma boa parte dos Evangelicais, quem sabe aqueles que como Paul Freston se denominam evangelicais crticos, a continuidade da hegemonia do Norte e do Ocidente na determinao da agenda evangelical ao redor do mundo. Escobar, com outros telogos e missiolgicos do hemisfrio sul, tem lanado o termo da auto-teologizao, enfatizando a necessidade de se fazer uma teologia contextualizada a partir de princpios bblicos num dilogo com a realidade de cada contexto. Certamente esta no uma preocupao apenas dos evangelicais mas tambm de outras tradies crists.

Michael Goheen cita alguns dos importantes e principais temas de uma teologia evangelical de nossos dias em seu livro Introducing Christian Mission Today: Scripture, History and Issues, destacando os 5 seguintes temas:
 Misso holstica um testemunho de vida, palavra e ao
 Contextualizao
 Encontro com outras religies mundiais
 Misses urbanas
 Evangelizao onde no h testemunho cristo

Michael Goheen fala tambm de uma mudana de paradigma, inclusive apoiando-se em David Bosch. Goheen descreve este novo paradigma que creio muitos evangelicais hoje apoiam:

 Misso de todos para todos os seis continentes, em contraste a uma misso de mo nica
 Missiologia acerca da cultura no ocidente, como resposta misso transcultural unilateral
 Eclesiologia missional, como a resposta separao entre misso e igreja creio que ele ir falar sobre a igreja missional no CBM
 Contextualizao, como resposta ao evangelho exclusivamente ocidental
 Missio Dei, como resposta misso antropocntrica
 Libertao, como resposta desenvolvimento
 Misso na fraqueza e no sofrimento, como resposta misso a partir da fora e do poder
 Misso como parceria, como reposta misso como uma tarefa da igreja no ocidente
 Uma perspectiva integral da salvao, como resposta uma salvao espiritualizada e humanista
 Unidade. como resposta s divises denominacionais e s tradies eclesisticas
 Teologia da religio, como resposta dominao e atitude de superioridade do Cristianismo Ocidental
 Misso urbana global, ao invs de misso na zona rural do terceiro mundo
 Misso pentecostal, como complemento s misses Catlico- Romanas e Protestantes

Para ser sincero no vejo tudo isto acontecendo no meio evangelical, mas certamente existe uma ambio e um esforo de promover estas mudanas de paradigma. Em alguns contextos, no entanto, e quem sabe especialmente de parte de organizaes e redes internacionais este processo est mais avanado. No caso de Igrejas e Denominaes, a variao pode ser bem maior, principalmente se a identidade da igreja e da denominao est fortemente vinculada ao ser antiecumnico, anticatlico e fundamentalista.

Concluso

interessante comparar alguns dos documentos que saram nos ltimos anos, tentando principalmente definir linhas de atuao da igreja em relao ao avano da f crist. H muita similaridade entre o Compromisso da Cidade do Cabo e o documento ecumnico do Conclio Mundial de Igrejas sobre a Misso, denominado Together Towards Life (juntos pela vida). Inclusive importante ressaltar que ambos os documentos tiveram participao tanto de evangelicais como de ecumnicos.

Foram tambm produzidos documentos em conjunto incluindo tambm o Vaticano. Um deles o Common Word (Uma palavra em conjunto), num dilogo das trs entidades crists com lideranas muulmanas. O documento pode ser achado no Yale University.

O mais recente foi sobre proselitismo. Aps cinco anos de reflexes conjuntas, a Aliana Evanglica Mundial, o Conclio para o Dilogo Inter-religioso do Vaticano e o Conselho Mundial de Igrejas divulgaram em Genebra, na Sua, um documento para orientar missionrios sobre a tica da evangelizao. Com o ttulo Testemunho Cristo em um mundo multi-religioso, o texto relaciona recomendaes de conduta para o dia a dia da misso crist.

No resta dvida de que os Evangelicais tem feito uma caminhada ao longo destes anos desde Edimburgo 1910. E, tanto no dilogo, como tambm em controvrsias com outras linhas doutrinarias e tradies crists, o Evangelicalismo tem se tornado mais diverso, de forma geral menos dogmtico e mais aberto para o dilogo e a cooperao.

Mas a diversidade continua incluindo os de extrema direita de linha claramente fundamentalista, ando por todas as nuances possveis, aos grupos mais progressistas. Mesmo um John Stott no unanimidade entre todos os Evangelicais e quem sabe muito menos o Chris Wright, mesmo que eu os considere excelentes representantes do que o Evangelicalismo quer ser hoje.

*Artigo adaptado da palestra apresentada no evento Dilogos na Misso, promovido pela Faculdade Teolgica Batista de So Paulo, em abril de 2017.

Bertil Ekstrom diretor executivo da Comisso de Misses da Aliana Evanglica Mundial.

1. Evangelical Movement in Evangelical Dictionary of World Missions, ed. Scott Moreau. Grand Rapids: Baker, 2000:338
2. Edwards, Joel. An Agenda for Change. Grand Rapids: Zondervan, 2008:57,58
3. Bebbington, David. Evangelicalism in Modern Britain: A History from the 1730s to the 1980s. Grande Rapids: Baker, 1992. Stott, John. Evangelical Truth. Downers Grove: Intervarsity Press, 2005.
4. Zurlo, Gina, Demographics of Global Evangelicalism in Stiller, Brian (ed.) et al., Evangelicals around the Globe. WEA, 2015:34
5. Carl Ferdinand Howard Henry (1913-2003) foi um telogo evangelical Americano, editor chefe da revista Christianity Today, que foi estabelecido para ser o porta-voz teolgico do Cristianismo Evangelical
6. Bosch, David. Misso Transformadora Mudanas de Paradigmas na Teologia da Misso. So Leopoldo: Sinodal, 4.a edio, 2014:483,484
7. John Raleigh Mott (1865-1955) foi lder da Associao Crist de Moos (YMCA) por muitos anos e da Federao de Estudantes Cristos (WSCF). Ele recebeu o prmio Nobel da Paz em 1946 por estabelecer e fortalecer as organizaes estudantis que promoviam a paz. Esteve intimamente envolvido na formao do Conclio Mundial das Igrejas em 1948. Seu livro, The Evangelization of the World in this Generation, tornou-se um slogan missionrio do sculo XX.
8. Bosch 2014:408
9. Texto de Samuel Escobar para a Consulta da Comisso de Misses da WEA no Panam em 2016
10. Artigo na Ultimato, novembro-dezembro 2006
11. Extrado do texto de Samuel Escobar citado acima
12. Goheen, Michael, Introducing Christian Mission Today: Scripture, History and Issues Downers Grove, IL: InterVarsity Press, 2014

QUE BOM QUE VOC CHEGOU AT AQUI. 223i1k

Ultimato quer falar com voc.

A cada dia, mais de dez mil usurios navegam pelo Portal Ultimato. Leem e compartilham gratuitamente dezenas de blogs e hotsites, alm do acervo digital da revista Ultimato, centenas de estudos bblicos, devocionais dirias de autores como John Stott, Eugene Peterson, C. S. Lewis, entre outros, alm de artigos, notcias e servios que so atualizados diariamente nas diferentes plataformas e redes sociais.

PARA CONTINUAR, precisamos do seu apoio. Compartilhe conosco um cafezinho.


Leia mais em Opinio 2l1v6s

Opinio do leitor 1t5dh

Para comentar necessrio estar logado no site. Clique aqui para fazer o ou o seu cadastro.
Ainda no h comentrios sobre este texto. Seja o primeiro a comentar!
Escreva um artigo em resposta

Ainda no h artigos publicados na seo "Palavra do leitor" em resposta a este texto.