Precisamos de uma reforma protestante? 5j454j

Por Robinson Cavalcanti

Falo essa noite a uma plateia de protestantes, e falo como protestante. Falo em um Pas onde as estatsticas referentes ao nmero de fiis de igrejas que pretendem algum vnculo com o Protestantismo no para de crescer, Censo aps Censo, quando comeamos praticamente de zero, ao nos tornar uma nao independente em 1822. Um dos grandes debates entre socilogos da religio e estatsticos quando iremos parar de crescer, ou se iremos parar de crescer. O Protestantismo um dado relevante no somente no Brasil, mas em toda a Amrica Latina.

Por sua vez, o Congresso Lausanne III, realizado na Cidade do Cabo, frica do Sul, em outubro do ano ado, reunindo clrigos e leigos da mais ampla diversidade denominacional, foi uma demonstrao evidente de que o Cristianismo uma religio que, finalmente, se tornou um fenmeno global, mas de que o Protestantismo , em grande parte, o responsvel para que o Evangelho esteja sendo pregado a quase todas as naes. O mpeto missionrio protestante no tem diminudo, mas se diversificado.

Dentro de seis anos, exatamente, em 31 de outubro de 2017, estaremos, em todo o mundo, comemorando os 500 anos da Reforma Protestante do Sculo XVI. 500 Anos, cinco sculos, meio milnio, um bocado de tempo. Algumas organizaes eclesisticas e intereclesisticas internacionais j esto elaborando uma vasta programao, de celebrao, de avaliao e de projeo. Essa Semana Teolgica gua da Vida, de fato, vive um momento de pioneirismo, como que dando o pontap inicial. E o fazemos na Baa da Guanabara, onde, ainda no sculo XVI, aportaram os pioneiros huguenotes, onde foi celebrada a primeira Santa Ceia protestante nas Amricas, e onde foi elaborado o primeiro documento doutrinrio reformado nesse Novo Mundo, a Confisso de F Fluminense.

Tornei-me, pessoalmente, um protestante, por convico e opo, trs anos aps a minha converso, ao professar a minha f em uma Igreja Luterana, no Culto alusivo Reforma, como um dos momentos culminantes de uma jornada espiritual, que continua at hoje. Escrevi, certa vez, em um jornal secular de grande circulao, considerar o 31 de outubro de 1517 a data mais importante da Igreja depois do Dia de Pentecostes. E continuo considerando.

Movida por Deus, mas realizada por homens, nas palavras de Martinho Lutero, simultaneamente justificados e pecadores (simul justus et pecator) a Reforma foi responsvel por grandes feitos e por grandes erros. A ns, hoje, em um constante processo de atualizao, nos cabe a honra de reproduzir os grandes feitos, e corrigir e no repetir os grandes erros, nessa Reforma que est permanentemente se reformando, no em seu contedo, mas, exatamente, em suas formas, seus mtodos, suas abordagens, suas nfases, suas contextualizaes, suas linguagens, suas polmicas e suas apologticas.

Repudio, com o mximo de veemncia, os que a acham ultraada, vencida, uma pgina da Histria que est a ter as suas pginas viradas para sempre. Lamento aqueles inclusive em nosso Pas que dela am a se envergonhar e a negar, quando, muitos desses, um dia vibraram com o seu legado e se orgulharam da sua identidade.

Precisamos da Reforma Protestante hoje, uma afirmativa que estou fazendo. No precisamos de uma nova reforma, mas de nos apropriarmos, com sinceridade, com determinao, com convico, com discernimento, com coragem, com atualizao, da sua herana, tornando-a no somente autntica, mas renovada, atual e relevante.