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Poltica pblica indgena -- um testemunho j5la

Leonzia Firmo

A poltica pblica indgena nada mais do que um reflexo da poltica pblica nacional, com projetos que deram certo, outros que deram errado, e outros ainda em avaliao. Quero comentar sobre a situao nas reas de educao e sade na regio em que vivo: So Gabriel da Cachoeira, noroeste do Amazonas -- o municpio mais indgena do Brasil, e que aglomera cerca de vinte etnias.

Por muito tempo, ns, indgenas, sofremos com o desprezo das autoridades, e aos poucos ganhamos voz e lutamos para que nos enxergassem como pessoas. A mesma necessidade que um no-indgena tem, ns tambm experimentamos. Temos o mesmo direito como pessoa, como ser humano.

H alguns anos, era vergonhoso para ns falar a nossa lngua nas escolas. ramos discriminados porque tnhamos outra lngua e no dominvamos bem o portugus. O indgena que vinha estudar na cidade (porque em sua aldeia no havia escola), era discriminado por falar de forma diferente e com um forte sotaque. Depois de muitos anos, a cidade tem como lnguas oficiais, alm do portugus, trs lnguas indgenas: Nheengatu, Tukano e Baniwa, que foram aprovadas pela lei municipal 145/2002, de 22 de novembro de 2002. So lnguas tradicionais faladas pela maioria dos habitantes, dos quais 95% so indgenas. So Gabriel da Cachoeira se tornou o nico municpio do Brasil que tem trs lnguas oficiais indgenas, sendo obrigatrio o estudo de pelo menos uma delas nas escolas da cidade.

Ao participar das conferncias que so realizadas na cidade, quem no fala pelo menos uma das lnguas indgenas no entende muita coisa, porque agora fazemos questo de usar nossa lngua para discutirmos as necessidades na rea da educao. As principais reivindicaes tm sido por uma educao diferenciada para os povos indgenas. Lutamos por um currculo que seja contextualizado s nossas necessidades e no queremos seguir o mesmo currculo do branco. J temos tido grandes vitrias, como um curso superior para professores indgenas. Hoje, grande parte deles possui o curso superior. Alguns j possuem mestrado e alguns at doutorado. Com isso queremos mostrar que temos a mesma capacidade e inteligncia do homem branco. Porm, infelizmente, isso apenas uma pequena parte de uma sociedade que tem crescido, mas que no tem tido muito espao.

Os indgenas so professores em suas prprias aldeias e ensinam na lngua materna, bem mais compreensvel para os alunos. As conquistas esto vindo aos poucos; sou consciente de que na maioria das tribos indgenas brasileiras essa realidade ainda bem distante.

Hoje temos enfrentado os mesmos problemas que a sociedade brasileira em geral enfrenta, como a falta de merenda e material escolar, a dificuldade de o s escolas ou mesmo a corrupo dos governantes.

Apoio o ProUni, a bolsa do Governo Federal que tem dado aos indgenas a oportunidade de ingressarem na faculdade por meio das cotas, mas louvvel quando algum consegue entrar na faculdade por sua prpria capacidade. Em minha famlia, tenho exemplos dos dois casos: uma sobrinha cursou a faculdade de nutrio graas ao ProUni, e outra conseguiu entrar na Universidade Estadual do Amazonas, no curso de medicina, sem precisar da ajuda do ProUni, mas com muito estudo e dedicao, competindo no mesmo nvel que pessoas no-indgenas. No temos de esperar que o governo faa tudo por ns; se dependermos dele para tudo, nunca conseguiremos andar com as prprias pernas.

Nesse mesmo patamar de discusso, a rea da sade indgena pode ser comentada. A sade indgena enfrenta as mesmas deficincias que a sade pblica no Brasil e a falta de profissionais da medicina tem sido algo mais gritante em nossa regio -- por ser uma rea distante e isolada, so poucos os profissionais que querem vir para c.

A cidade tem apenas um hospital, que militar, e todos os profissionais so militares. No posso deixar de elogiar o esforo do governo, que tem buscado parceria com esses profissionais militares para ter postos de sade em todos os bairros da cidade. H um bom acompanhamento de agentes de sade e tcnicos em enfermagem, e foi criada a Casa do ndio (CASAI), um alojamento para indgenas das aldeias distantes que necessitam de atendimento mdico, recebendo tambm alimentao adequada.

Os rgos responsveis pela sade tm um timo projeto de levar atendimento ao indgena em sua prpria aldeia. Porm, esse projeto tem encontrado dificuldade com a burocracia, a falta de profissionais e de recursos para as viagens. Na cidade, em frente ao rgo de sade, vemos botes amontoados sem utilizao por falta de recursos, enquanto ndios esto morrendo sem atendimento.

Apesar das deficincias nessa rea, seria injusto no elogiar o esforo das organizaes que trabalham em favor do ndio.

Como povo minoritrio, s vezes somos tratados como crianas que no pensam e no conseguem caminhar sozinhas. Precisamos mostrar a todos que somos gente e que temos o direito de receber os mesmos benefcios do homem branco, porm, de maneira diferenciada, pois temos costumes e culturas diferentes.

Esse o novo desafio das nossas comunidades indgenas -- queremos ser protagonistas do nosso prprio futuro. Ao reconhecermos as diferenas e ao lutarmos por nossos direitos, ns, os ndios, fortaleceremos a noo de um Brasil como nao democrtica, que respeita as diferenas, sem privilgios. A poltica do protagonismo tira os ndios da invisibilidade diante do restante da sociedade brasileira, para que eles sejam os donos de seus prprios destinos.


Leonzia Firmo, 30 anos, missionria do Projeto Amanaj, na Amaznia.

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