Pscoa e aprendizado 725p72

O Portal Ultimato aproveita a importante data de celebrao da Pscoa crist para compartilhar com todos os leitores o artigo do nosso colunista Rubem Amorese publicado em Ponto Final da revista Ultimato de maro-abril, com o ttulo Pscoa e aprendizado. Leia-o a seguir.

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Pscoa e aprendizado

Talvez, por sua dramaticidade, a Pscoa seja o momento mais visvel da ao reconciliadora de Deus. Sim, naqueles dias de paixo e morte, possvel perceber que Deus estava, em Cristo, reconciliando consigo mesmo o mundo (2Co 5.19).

Entretanto, quando penso na Pscoa, no consigo evitar a ideia de que naquelas conversas no monte da transfigurao, no Cenculo ou nos acontecimentos do Getsmani, Jesus estava sendo aperfeioado.

Porque convinha que aquele, por cuja causa e por quem todas as coisas existem, conduzindo muitos filhos glria, aperfeioasse, por meio de sofrimentos, o Autor da salvao deles (Hb 2.10).

Ousando um paralelismo de linguagem, eu diria que Deus estava, em Cristo, aprendendo sobre o sofrimento humano (Hb 5.7-10). Embora sendo Filho, aprendeu a obedincia pelas coisas que sofreu (v. 8).

Imagino o desconforto que acabo de causar. Deus aprendendo?! -- dir voc.

Esse mesmo incmodo devem ter sentido os primeiros cristos, ao lerem o trecho da Carta aos Hebreus citado acima. Jesus sendo aperfeioado?! -- devem ter pensado. -- Jesus aprendendo sobre obedincia? Isso possvel? E essa ressalva: Embora sendo Filho, o que quer dizer?

Meu pensamento que Deus, em Cristo, estava amando o mundo de uma maneira plena e difcil de compreender (Jo 3.16). No apenas um amor imenso; nem mesmo apenas um amor que v o necessitado, se compadece dele e toma providncias sacrificiais (esse o significado da palavra caridade). Mais que isso, meu corao discerne, na Pscoa, um Deus que deseja ser amigo, que quer estar to prximo que se oferece ao aperfeioamento e aprendizagem que provm da convivncia conosco, em nosso dia a dia. Oferece-se a uma aliana do tipo tudo o que meu teu.

Ele j no se contenta em ser apenas o Altssimo; quer mais, quer ser pai amoroso, abba; quer ser o primognito entre muitos irmos; quer ser o servo da casa e tambm fiel sumo sacerdote, quando tiver aprendido, por meio de sofrimentos, a compadecer-se das nossas dores e mazelas. Agora, pelas coisas que sofreu entre ns, por ns e nossa semelhana, se tornaria capaz de uma intercesso plena, misericordiosa e perfeita.

Deus estava, em Cristo -- penso --, aprendendo sobre nossas dores, do mesmo modo que um pediatra doutor em obstetrcia aspiraria conhecer a maternidade: engravidando. Impossvel, se for um homem; h um limite para esse conhecimento, pois no lhe dada a parte mais rica desse conhecimento: a experincia. Entretanto, se ele fosse Deus, escolheria, como trabalho de campo para sua tese de doutorado, fazer-se mulher e ter um filho. Ento ele saberia.

A Pscoa nos diz que o projeto de habitar entre ns no foi cancelado quando as dificuldades surgiram. A exemplo daquela vspera de angstia, os clices preparados pelo Pai no deveriam ser evitados.

O exemplo ficou. Ao contemplarmos a sua glria, quisemos fazer-nos suas testemunhas. sua semelhana, permitiramos que o Pai transformasse nossas dores em aperfeioamento. Aprenderamos a lavar ps e a andar a segunda milha com alegria. E os eventos tristes de nossas vidas nunca mais seriam desnecessrios e sem sentido. Doravante, aprenderamos com eles sobre a misericrdia, em nossa personalssima formao sacerdotal.

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