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15 de agosto de 2013
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O vazio de Isabela Boscov 1e1864

Porm, algo pode ser colocado contra comentrios como a de Isabela Boscov. Este tipo de anlise esttica a certo estilo de filme parece ser direcionada apenas para a superfcie dos mesmos, sendo injusta com o contedo e a forma esttica prpria apresentada pelo diretor. A trama deste estilo de filmes - pois o estilo de Malick segue uma tradio de cinema existencial que inclui nomes como Robert Bresson e Andrei Tarkovsky - , de fato, em sua superfcie, muito simples, at simplria em termos de acontecimentos e narrativa. Tm pouco para nos entreter. Mas o que crticas similares simplesmente ignoram que Malick faz uma leitura extremamente complexa e profundamente existencial do amor em suas diversas dimenses por meio de uma abordagem distinta de cinema. Nesta, ele lana mo do uso consciente de imagens e sons em detrimento de enredos e ao excessiva. No caso de Amor Pleno o que trabalhado de forma magistral nada menos que as difceis veredas na busca da capacidade de amar verdadeiramente o outro e a si mesmo. Esta busca se torna possvel apenas pela capacidade de amar a Deus e de descobri-lo na vida, finalmente reconciliando o homem das rupturas que a falta do amor introduz realidade.
Visto por este ngulo existencial, o filme riqussimo. E se entendemos que encontrar o amor a grande sacada da vida, todos os segundos do filme se preenchem de sentido, pois conduzem a uma vagarosa reflexo sobre o buscar e o encontrar deste amor. Aqui, Boscov poderia conhecer e aplicar algo da anlise de Paul Schrader sobre o estilo transcendental no cinema. Pois o caminho de crtica deste tipo de obra se d por esta rica linha de anlise. Assim como Bresson, Ozu e Dreyer, Malick tenta claramente induzir um engajamento e a converso existencial por meio da prpria psicologia e ritmos do filme. E os longos perodos entre as viradas do filme so intencionais neste sentido, pois no pice desta angstia induzida por no ver o amor sendo realizado na figura do personagem de Ben Affleck em seus relacionamentos, e a incapacidade do padre (protagonizado por Javier Bardem) de realizar o amor em sua prpria vocao de servio ao prximo, que o filme tem seu momento de inflexo psicolgica, introduzindo os momentos finais. nestes, e somente nestes, que finalmente a tenso aliviada e a graa apresentada de forma escandalosa.
A fonte do amor que a tudo envolve finalmente reconcilia o homem, entrando em cena como a nica fora capaz de conduzir ao amor pleno. Aqui h claramente uma redeno para o prprio espectador da difcil tenso das horas anteriores. como se o corao estivesse a todo momento sendo consciente e pacientemente arado pelo prprio diretor, estando finalmente pronto nos minutos finais para receber as sementes da graa. A este engajamento existencial de tenso e ruptura, alvio e reconciliao, Schrader denomina "mtodo transcendental". Ele prprio o introduziu em um clssico do cinema norte-americano, juntamente com Martin Scorsese, no filme Taxi Driver, brilhantemente protagonizado por Robert De Niro.
Em outro ponto, contradizendo a meu ver a crtica de Boscov, Malick conduz as cenas que ela chama de "carto postal" com uma clara inteno de reencanto e de busca pela "glria" presente na criao, aprofundando a experincia da subjetividade do espectador em trabalhar os temas do filme. Uma espcie de elevao intencional da alma para perceber a profundidade da temtica tratada. A incapacidade do amor humano sempre relacionada com a existncia ou no de Deus, principalmente na figura do personagem de Ben Affleck, que no conseguia crer, e possua uma personalidade cindida e incompleta, e do padre, sem a alegria e o gozo que o servio ao prximo aparentemente traria.
No geral, em relao crtica de Boscov s tenho a lamentar a prpria viso da mesma e sua leitura equivocada do filme. Ela parece ter lido e analisado uma obra da riqueza de Crime e Castigo, de Dostoivski, com o olhar de uma adolescente acostumada com Cinquenta Tons de Cinza, de E.L. James. Ou seja, no gostei porque demorado, complexo e chato. Se gastar 2 horas e 30 minutos imerso na trama do elemento mais vital vida de uma forma provocadora e confrontante ser chato, no precisamos abandonar Malick, mas sim nossa crtica de cinema. E quando os mistrios do amor e da prpria existncia am desapercebidos por uma crtica que diz no ter o filme nada a dizer, s posso entender que pessoas como Boscov olham o mundo e seus mistrios e s enxergam o vazio e a si prprias, o que d no mesmo. Pois para quem no tem as perguntas, fteis so as mais profundas respostas. E as respostas que Malick nos oferece em Amor Pleno tocam as regies mais profundas da alma e da existncia humana, pois encontrar o amor divino em seu convite de graa a chave que abre os enigmas centrais da vida de qualquer que anela por mais do que mero o entretenimento no cinema. E isto Malick oferece a quem tem ouvidos para ouvir. Para estes, o filme Amor Pleno tem tudo a dizer.
- Rodolfo Amorim, mineiro, presbtero da Igreja Presbiteriana do Buritis, em Belo Horizonte (MG), obreiro do L'Abri Brasil,especializado em gesto do Terceiro Setor e mestre em Sociologia. um dos organizadores do livro F Crist e Cultura Contempornea, da Editora Ultimato.
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