O prazer perdido de ler uma carta 3d61u

No mundo das comunicaes digitais quase instantneas falar do valor e relevncia da comunicao por cartas certamente soa anacrnico. Porm, as cartas j foram meios eficientes de comunicao e de construo de relacionamentos com as pessoas; eram instrumentos para aproximar as pessoas, obter notcias umas das outras, tratar de questes formais ou negcios, enviar recomendaes e instrues a pessoas que amamos. A carta tem tanto um carter formal quanto casual. E impressionante como elas podem moldar a nossa histria.

curioso pensar que provavelmente o cerne de nossa teologia crist e prtica eclesistica est formado a partir de cartas, as cartas principalmente de Paulo s igrejas e a indivduos, as de Pedro e as de Joo. Em grande medida essas cartas moldaram e continuam moldando-nos como povo cristo.

Dentre as cartas, h algumas mais extensas (1-2Co, Rm, Hb) outras bem breves (Tt, Fm, 2Jo, 3Jo, Jd). Algumas tratam de assuntos teolgicos profundos (Rm, Gl, Ef, 1Jo), outras de problemas de relacionamentos e conduta na igreja (1-2Co, Fp), ainda outras procuram corrigir distores e falsos ensinamentos (Gl, Cl, 1Tm, Tt, 2Jo). Algumas so mais gerais (Hb, Tg) outras bastante pessoais e particulares (Fp, Fm, 1-2Tm, Tt). Seja como for, interessante que apesar de no termos as respostas e impresses dos destinatrios das cartas, elas provavelmente nos revelam muito mais a respeito dos destinatrios do que dos seus autores. Revelam alguns dos anseios, necessidades, dificuldades e desafios dos destinatrios.

Dentre as diversas cartas que Paulo escreveu, trs delas (1-2Tm, Tt), provavelmente as ltimas cartas que o apstolo escreveu, aps ser liberado da priso em Roma (At 28), so destinadas a dois jovens colaboradores e pastores a quem Paulo instrui e faz recomendaes sobre pelo menos trs reas: vida pessoal, questes istrativas e organizacionais da igreja, e combate a falsos ensinamentos.

John Stott (Lendo Timteo e Tito com John Stott) diz que a preocupao primordial de Paulo nessas trs cartas com a verdade e como ela deve ser fielmente guardada e transmitida. Mas interessante que Paulo nunca defende a verdade como uma proposio, ideia ou conceito afastada da vida pessoal e comunitria. Ento, nessas cartas a defesa da verdade se expressa e materializa nas recomendaes sobre a vida pessoal, organizacional e o combate aos falsos ensinamentos. E Paulo usa uma linguagem muito afetuosa e paternal com esses jovens, chamando-os de filho como um discpulo.

Aprecio muito a leitura e estudo dessas cartas justamente por essas caractersticas. Vejo que elas podem continuar a nos ensinar a: 1) Cuidar de ns mesmos; 2) Cuidar uns dos outros; 3) Cuidar do evangelho/verdade. Mas esses temas esto muito entrelaados. A tratar da defesa da verdade e do combate aos falsos ensinamentos e prticas Paulo se preocupa com a pessoa de Timteo e Tito (p.ex., 1Tm 6.11-12, 20-21; Tt 3.8-11) e faz recomendaes que cuidem de si mesmos (1Tm 4.16; 5.23).

Temos muito a aprender com essas cartas porque tambm os meios modernos de comunicao apesar de eficazes, se tornam impessoais e no aproximam as pessoas, pelo contrrio, muitas vezes nos distanciam. Pessoas so geis em defender uma verdade ou ideal, e disseminam o seu pensamento rapidamente, porm, no constroem relaes e comunidades. Seus seguidores ou iradores logo os abandonaro com um clique.

Precisamos voltar a essas cartas.

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>> Conhea os lanamentos Lendo Timteo e Tito com John Stott e Lendo Glatas com John Stott.

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