A carta aos Romanos para os fracos. Agostinho e Lutero comprovam 82t6o

PorWilliam Lane

Algum poderia dizer que a carta de Paulo aos Romanos no para os fracos, isto , para os que no tm a maturidade ainda para entender a profundidade da sua mensagem e a densidade de sua doutrina. Talvez at imaginemos que a Romanos que o apstolo Pedro se refere quando diz como nas cartas de Paulo h muitas coisas difceis de entender as quais os ignorantes e instveis torcem (2Pe 3.15-16, NVI).

Mas apesar de a carta aos Romanos ser no s a mais longa como tambm a mais teologicamente densa carta de Paulo, ela , sim, para os fracos! Alis, talvez essa seja a principal mensagem que podemos tirar de Romanos. Ela nos confronta com o pecado humano, a inutilidade de se chegar a Deus mediante nossa auto imposta justia, e nos oferece a transbordante graa de Deus onde dominava o pecado (Rm 5.20-21). No, no h mais condenao para quem est em Cristo. A lei do Esprito de vida me libertou do pecado e da morte (8.2). A carta no para quem se vangloria (3.27), mas para quem carece, foi destitudo de glria (3.23), para os fracos que no conseguem alcanar a justia de Deus e assim o item.

por isso que praticamente todo influente telogo cristo teve sua experincia com Romanos ou escreveu um comentrio. De Romanos 5, Agostinho extraiu seu ensino sobre o pecado original. Lutero compreendeu a justificao pela f a partir de Romanos 3 e 4. Sobre Romanos 9 a 11, Calvino fundamentou o ensino da predestinao. Wesley encontra em Romanos 6 e 8 os argumentos sobre sua nfase na santificao. E Karl Barth expe a importncia sobre a retido de Deus com base em Romanos 1 e 2.

Mas Romanos no foi apenas objeto de estudo e de fundamento teolgico desses importantes pensadores. A carta foi tambm instrumental na converso e caminhada pessoal de muitos deles. Foi lendo Romanos 13.13 que Agostinho se converteu. Como professor de retrica e filsofo, Agostinho se afligia com o problema do mal. At que um dia em visita ao seu amigo Alpio, em Milo, estava to angustiado que teve que se retirar ao jardim e, sentado debaixo de uma figueira, ouviu uma criana do vizinho cantarolando Pega e l, pega e l (Confisses 8.12).

Agostinho imediatamente foi buscar o volume do apstolo e leu a primeira agem que encontrou ao abri-lo: Comportemo-nos com decncia, como quem age luz do dia, no em orgias e bebedeiras, no em imoralidade sexual e depravao, no em desavena e inveja (NVI). Sendo uma pessoa muito devassa e dada bebedeira e prostituio, Agostinho logo entendeu o problema da origem do mal e se converteu. Tornou-se um dos principais telogos da cristandade.

Romanos teve tambm significativa influncia na vida de Martinho Lutero. Ele tambm era um indivduo extremamente perturbado pela culpa do pecado. Como monge agostiniano e professor de teologia em Wittenberg, foi pela leitura de Romanos que entendeu o sentido da justificao pela f, e foi responsvel por desencadear uma das principais reformas religiosas da era crist.

No sculo 20, o conhecido expositor bblico britnico, Martin Lloyd-Jones, pregou durante 13 anos, todas as sextas-feiras, a carta aos Romanos, cujos sermes hoje esto reunidos em 14 volumes.

No decorrer da histria, diferentes aspectos de Romanos foram destacados como tema e mensagem centrais. A Reforma protestante destacou o ensino sobre a justificao pela f (Rm 14). No incio do sculo 20, alguns valorizaram ensinamentos sobre a graa (Rm 58). Aps a Segunda Guerra, o holocausto e a criao do estado de Israel, muitos se interessaram pela relao entre igreja e Israel (Rm 911). Por fim, com a nfase social e o evangelho integral, alguns aram a dar importncia aos aspectos prticos e ticos da vida crist (Rm 1216). Mas tomada em seu conjunto, possvel dizer que em Romanos Paulo busca mostrar o plano de Deus para estender o seu senhorio a todos os povos por meio de Cristo. Jesus e seu senhorio gracioso so temas centrais de Romanos.

Realmente uma primeira leitura de Romanos pode provocar certo desafio especialmente pela forma de raciocnio de Paulo com diversas perguntas retricas e argumentos. Mas medida que se l, aprendemos a apreciar no s o raciocnio e lgica de Paulo, mas, sobretudo, o seu contedo. Alm do mais, Paulo nos convida a nos fixar na essncia e simplicidade do evangelho, e a acolher o que fraco na f, sem discutir assuntos controvertidos (14.1).

Para saber mais, conhea Lendo Romanos com John Stott, volume 1 e volume 2.