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07 de julho de 2020
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Enfrentando gigantes: o dia a dia do ministrio de capelania hospitalar 4c7217

PorEleny Vasso

Capelania hospitalar um ministrio ao mesmo tempo desafiador e edificante. Ao adentrar um quarto no hospital, voc no sabe quem a pessoa que est ali deitada em seu leito, no sabe sua histria, sua enfermidade ou a maneira como a est vivenciando. Mais ainda: no sabe seus valores ou sua f, se esta est alicerada sobre a areia ou sobre a Rocha. Voc tambm no sabe como ela o receber, nem a progresso que ter sua doena. Voc s sabe que, a partir de sua deciso de entrar neste quarto, voc tambm estar se comprometendo a, diariamente, cuidar espiritual, emocional e socialmente desta pessoa e de seu familiar, durante todo o seu tempo de internao e de todas as intercorrncias que possam haver, at sua alta ou at sua morte.

Contrrio a todas as exigncias de no-envolvimento feitas na formao acadmica de certas reas para os profissionais da sade, na capelania voc ter que entrar de cabea, deixando que toda a sua sensibilidade aflore, tornando-o mais emptico e receptivo, fazendo deste enfermo e de sua famlia parte da sua famlia maior, ajudando-os a encontrar, num novo relacionamento com Deus, a esperana, a pacincia, a segurana e a paz que s podem ser dadas por uma pessoa: Jesus.

A cada dia, samos dos hospitais exaustos emocionalmente, mas ao mesmo tempo com o corao cheio de gratido por termos sido usamos pelo Senhor para levar o cuidado que somente a Sua Pessoa nos capacita a dar, ao nos encher do Seu amor e nos oferecer palavras para responder s necessidades que surgem em meio dor.

Vincius um de nossos capeles hospitalares, trabalha no Grupo em Defesa da Criana com Cncer (GRENDACC), em Jundia, SP, e vai nos contar a histria de como fez um de seus atendimentos pela Capelania Evanglica da ACS-Associao de Capelania na Sade.

Enfrentado gigantes
Relato de caso de Vincius Oliveira da Costa

Era uma manh de quinta-feira quando, no ambulatrio de especialidades peditricas, me deparei com uma me cujo olhar revelava profunda preocupao. Ao seu lado estava M., um garotinho de seis anos que parecia no saber bem o que estava acontecendo. Aproximei-me num acolhimento inicial e perguntei se poderia ajud-la em alguma coisa. Ela confessou-me estar se sentindo perdida.

Ela e o filho tinham chegado naquela manh, vindos de outra cidade buscando socorro mdico para a criana, pois ele havia cado de bicicleta e, aps exames, diagnosticado com uma grande massa na regio do mediastino (sub-regio do trax). O mdico do hospital em que estavam solicitou a transferncia para o nosso hospital, com vistas realizao de uma cirurgia de emergncia, visto que o tumor estava oferecendo grave risco sade da criana.

Eles chegaram de ambulncia. Nesse interim, o pai de M. se perdera no caminho, pois havia confundido o hospital para onde deveria ir.

Aps o acolhimento da capelania, a mdica logo os chamou para a consulta. Preocupada, a mdica confessou-nos que iria preparar a internao de M., pois as imagens dos exames eram muito graves. Assim que eles se acomodaram no quarto, fui visit-los, levar-lhes materiais ldicos e uma revista de histrias bblicas para colorir. Encorajei-os a confiar em Deus. Coloquei-me disposio e me despedi.

No dia seguinte, logo cedo, fui enfermaria para saber como eles haviam ado a noite. Deparei-me com uma equipe de enfermagem bastante apreensiva. Falaram-me da complexidade da cirurgia, que aconteceria em alguns minutos, bem como a chegada de um dos principais cirurgies oncopeditricos do estado de So Paulo para a realizao do procedimento , dada a exigncia da resseco de um tumor que apresentava-se bastante vascularizado e prximo ao corao. O risco era de uma parada cardaca logo no incio do procedimento. Solicitaram-nos o preparo de M. e seus pais, pois a me dizia que estava com um mau pressentimento. Enquanto colhia informaes com a enfermagem, os cirurgies chegaram para conversar com a famlia sobre a cirurgia. Aproveitei esse tempo para preparar-me para entrar no quarto em seguida.

No quarto, apresentei-me novamente e me aproximei de M., que parecia no se dar conta do que estava prestes a vivenciar. Introduzi uma das histrias bblicas que mais costumo contar s crianas que se encontram no pr-operatrio: Davi e Golias. A princpio, ele no se interessou muito, uma vez que estava fazendo algo interessante em seu celular, mas fui lhe instigando a curiosidade a respeito da cena do livro e, quando percebi, tanto ele quanto seus pais estavam fixos na imagem do pequeno Davi enfrentando o grande Golias, interessados em saber mais. Falei-lhes que naquele dia eles tinham um grande desafio a ser enfrentado e, que assim como Deus havia dado foras para Davi enfrentar o gigante, Ele tambm se fazia presente naquela situao e poderia lhes dar a fora necessria para o momento. Juntos, oramos por M., oramos por seus pais, oramos por toda a equipe que participaria do procedimento e entregamos os resultados ao Senhor.

No final do dia, tive a notcia de que a cirurgia havia sido um sucesso e sem nenhuma intercorrncia. Louvamos ao Senhor pela Sua maravilhosa graa e providncia, assim como pelo fortalecimento da f de M. e de seus pais no cuidado de Deus, que nos ajuda a enfrentar at mesmo os gigantes mais assustadores.

Voc tambm pode se preparar para este ministrio em sua regio, atravs do nosso Curso de Capelania Hospitalar Nvel 1 em EAD, a ser lanado em breve. Veja mais informaes aqui.

Eleny Vasso de Paula Aitken capel hospitalar h 38 anos, diretora geral da Associao de Capelania na Sade (ACS), capel-missionria pelo Supremo Conclio da Igreja Presbiteriana do Brasil; especializada em Cuidados Paliativos, mestre em Aconselhamento Bblico e autora de 33 livros.

>> Conhea o livro Capelania Hospitalar e tica do Cuidado, de Maria Luiza Rckert

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