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02 de outubro de 2020
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Meu nome Anne, com um e no final, por favor 582k25
Por Gladir Cabral
[Atualizao feita em 06/10/20 s 12:36]
*Verso ampliada de artigo publicado originalmente na edio 385da revista Ultimato.

[Atualizao feita em 06/10/20 s 12:36]
*Verso ampliada de artigo publicado originalmente na edio 385da revista Ultimato.

O pblico brasileiro foi surpreendido por uma srie de televiso que traz as aventuras de uma menina simptica, brilhante e muito esperta chamada Anne Shirley. Anne com e, por favor, como ela mesma insiste em ser chamada. A personagem encantadora mistura um grande senso de otimismo, superao das dificuldades e desafios da vida, ingenuidade, honestidade total e sinceridade inegocivel.
A personagem parece ao mesmo tempo refletir e contrastar a vida de sua autora, Lucy Maud Montgomery (1874-1942), que tambm foi rf, criada pelos avs, era introspectiva, refugiando-se no mundo na leitura e na escrita, e que acabou se casando com o pastor presbiteriano Ewen Macdonald, que detestava literatura e vivia enredado a uma crise crnica depresso que foi se agravando ao longo da vida. Mesmo assim, a obra foi um sucesso e teve num total de nove volumes, o ltimo publicado em 2009, bem depois da morte da sua autora.
Entre a srie de TV e o romance original, publicado em 1908, h importantes diferenas, como a insero das temticas identitrias e raciais, cenas e personagens que no aparecem na obra originais e que dizem muito mais sobre nosso tempo do que sobre o da obra original. Contudo, h um tema avanado para a sua poca e presente no romance de Montgomery: o feminismo.
Entre as prolas que o romance de Lucy Montgomery traz, podemos destacar a importncia da amizade na vida das pessoas, o lugar da imaginao como recurso de aprendizado e crescimento pessoal, o exerccio da leitura como alimento para a mente e o corao, o lugar da famlia como rede de afetos tecida no cotidiano e no necessariamente por laos sanguneos, a espiritualidade arejada, honesta, integral e a crtica religiosidade convencional e repressora. Finalmente, a autonomia da mulher na sociedade, a necessidade de seu reconhecimento.
Ao sair do orfanato em que vivia uma vida solitria e oprimida, Anne encontra na figura da menina Diana, sua alma gmea, sua grande amiga. Em meio a juramentos romnticos e promessas de amizade eterna, elas se tornam parceiras de leituras, caminhadas, aventuras, aprendizado, enfim, da vida. Anne descobre em Diana a melhor revelao do que definiria Eugene Peterson: "E ento algum entra em nossa vida, algum que no est procurando um outro para usar, paciente o bastante para descobrir o que est de fato acontecendo conosco, seguro o bastante para no explorar nossas fraquezas ou atacar nossas fortalezas, reconhece nossa vida interior e entende a dificuldade de viver nossas convices, confirma o que h de mais profundo em ns. Um amigo".
Uma das primeiras caractersticas de Anne sua fascinao pelo uso ir da imaginao, coisa que ela aprendeu com sua me, que a ensinou a ler e a gostar dos livros, mas que tambm desenvolveu no orfanato, onde teve de se defender do ambiente hostil, do tdio e da solido. Por isso, por todo o percurso da narrativa ela mede os lugares por onde a segundo o critrio de oferecer ou no mais espao para a imaginao. Sabe, eram boas... as pessoas do orfanato. Mas h to pouco espao para a imaginao num orfanato... somente nos outros rfos. Era muito interessante imaginar coisas a respeito deles: imaginar que talvez a menina a meu lado fosse, na verdade, a filha de um conde distinto, arrebatada dos pais na infncia pela ama malvada que morreu antes de se confessar. Eu costumava ficar na cama noite, acordada, imaginando coisas assim, porque durante o dia no me sobrava tempo. Creio que por isso que sou to magra... E sou pavorosamente magra, no acha? Sou pele e osso. Adoro me imaginar rolia e atraente, com covinhas nos cotovelos. [a imaginao, para Anne, no era uma fuga da realidade, como temia Marilla, mas uma forma de lidar de modo inteligente e criativo com a prpria realidade em sua beleza e em suas ameaas]
Os livros acabaram se tornando grandes amigos da caminhada de Anne, sobretudo os poetas e romancistas do perodo romntico. Ela inundada e guiada por um contato constante e decisivo com a beleza, a beleza da natureza, das flores, das rvores, dos riachos, do mar, mas principalmente a beleza das palavras. Anne fala muito, desde o comeo at o fim da histria. E fala pelo prazer de ver brotar as palavras de sua boca, do som que elas produzem, do efeito encantatrio nas pessoas e nela mesma, embora algumas vezes traga certa irritao a Marilla, sua me adotiva. A torrente de falas de Anne contrasta com o silncio s vezes constrangido e s vezes divertido de Matthew, por exemplo.
O livro tambm oferece uma reflexo interessante sobre espiritualidade e prtica religiosa. Logo que decide adotar a menina, Marilla toma para si a atarefa de educ-la religiosamente, surpresa pelo fato de a rf no ter aprendido a orar surpresa, no, na verdade Marilla vicou horrorizada. Anne mostra-se disposta a aprender, mas expressa francamente sua noo de que o lugar da orao o campo aberto da pessoa junto natureza. Ela revela saber o catecismo de cor: Deus um esprito infinito, eterno e imutvel em Sua existncia, sabedoria, poder, santidade, justia, bondade e verdade... Mas a questo no essa. Do catecismo, Anne gostava mais de certas palavras ressonantes, como infinito, eterno, imitvel porque soavam mais poticas. Sempre a dimenso da beleza. E confessa: Se quisesse de fato orar, eis o que eu faria: iria at um campo muito, muito grande, sozinha, ou ento entraria numa floresta muito, muito profunda, e olharia para o cu... bem, bem, bem alto... para aquele cu to adorvel e azul que parece no ter fim. E ento eu simplesmente sentiria uma prece. Bem, estou pronta. O que devo dizer">Na varanda com o autor | Gladir Cabral
pastor, msico e professor de letras na Universidade doExtremo Sul Catarinense (Unesc). autor, em parceria com Joo Leonel, do e-book O Menino e o Reino: meditaes dirias para o Natal. Acompanhe o seu blog pessoal.
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Site: http://ultimato.com.br/sites/gladircabral/
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