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Lutero e o pavor do pecado 26474j

No haver justia em ns se antes nossa justia prpria no sucumbir e perecer (Martinho Lutero)


Reprter Atribuem ao doutor este desabafo: Que Deus terrvel! Oxal no existisse!. O doutor teria mesmo dito tal coisa?1

Lutero No me lembro quando, no me lembro onde, mas provvel que tenha falado algo assim em uma das minhas crises de pavor, provocada pela noo da santidade absoluta de Deus e pela noo da minha prpria pecaminosidade.

Reprter Seria mais confortvel para o doutor se no houvesse Deus?

Lutero Deus to necessrio que, se no existisse, teramos de inventar um.

Reprter Inventar um Deus menos santo do que o tal Deus terrvel do seu desabafo?

Lutero Um Deus semelhante a ns, atrado pelo pecado, sujeito ao pecado, conivente com o pecado, embaado pelo pecado, vencido pelo pecado e propagandista do pecado, no nos interessaria.

Reprter Parece-me que o doutor tem uma ideia fixa de pecado. S agora fez uso dessa palavra seis vezes...

Lutero No, eu no tenho nem tive mania de pecado. Exceto naquele tempo em que eu enxergava apenas o pecado e no a graa, considerava somente a severidade e no a bondade de Deus, como So Paulo escreve aos Romanos (11.22).

Reprter Esse pavor do pecado tem algo a ver com a educao recebida no lar?

Lutero Talvez. Apanhei muito em casa e na escola. Meus pais trataram-me com dureza, implantando em mim a timidez. Ambos acreditavam que faziam isso com acerto, mas no souberam colocar uma fruta gostosa ao lado da vara.2 Uma vez eu peguei uma simples noz que no era minha e apanhei de minha me at sangrar. Em outra ocasio meu pai me castigou fisicamente de maneira to rude, que fugi dele. Meus pais e meus professores seguiam ao p da letra o conselho de Salomo: Castiga o teu filho enquanto h esperana (Pv 19.18). Mas no equilibravam a pancadaria com o conselho de So Paulo: Pais, no irritem seus filhos, para que eles no desanimem (Cl 3.21). Apesar de tudo, desde cedo, eles geraram em mim o tal temor do Senhor, que o
princpio da sabedoria (Pv 9.10) e o instrumento pelo qual o homem evita o mal (Pv 16.6).

Reprter Pavor do pecado e temor do Senhor so a mesma coisa?

Lutero O temor do Senhor mais sadio e benfico do que o pavor do pecado.

Reprter O pavor do pecado diminuiu no convento agostiniano de Erfurt?

Lutero Aumentou, e muito! A comear pelo ambiente religioso da cidade. Entre igrejas, conventos, hospitais e outras obras do gnero, havia mais de cem edifcios religiosos. Erfurt era chamada de a pequena Roma. Antes de eu me mudar para l, houve uma reforma nos conventos da Saxnia, liderada por um tal de Andr Prols, que no cheguei a conhecer. Nem todos aceitaram a nova disciplina, bem mais severa. Os eremitas observantes eram mais comprometidos do que os conventuais, mais soltos e numerosos. Meu convento pertencia ao primeiro grupo e tinha como vigrio geral o professor Joo von Staupitz, sucessor de Prols.

Reprter O doutor se submeteu austera disciplina dos observantes?

Lutero Se jamais houve frade que entrasse no cu por seu esprito fradesco, eu de certo, seria um deles.3

Reprter Sempre a custo do pavor do pecado?

Lutero Nem sempre. Depois de muitas lutas, oraes, lgrimas, buscas e repetidas leituras da Sagrada Escritura, especialmente das Epstolas de So Paulo, o temor do Senhor desalojou o pavor do pecado, ocupando seu lugar.

Reprter Deve ter sido uma experincia maravilhosa!

Lutero Foi sublime demais para descrever. Todo o pavor, o poder, a culpa e a feiura do pecado saram de sobre os meus ombros e caram sobre o nosso amado Senhor e Salvador Jesus Cristo.

Reprter Como assim?

Lutero Talvez voc no consiga compreender eu mesmo gastei muito tempo para entender , mas as boas-novas do evangelho (perdoe-me a redundncia, pois evangelho significa boas-novas em grego) dizem que Jesus tomou o nosso lugar para que ns pudssemos tomar o lugar dele. Em outras palavras, ele, o justo, tornou-se pecador, e ns, os pecadores, tornamo-nos justos. Ele morreu, ns vivemos.

Reprter O doutor est afirmando que Jesus pecador? Parece-me uma blasfmia!

Lutero Eu no falei que ele . Afirmei que Cristo tornou-se o supremo e nico pecador; ele que era e ainda a eterna e inexcedvel justia. Todo o pecado do mundo se abateu, com toda a ira e virulncia, contra a sua justia. Foi, literalmente, uma luta de vida ou morte. O pecado lanou-se contra a justia, a maldio contra a bno, a morte contra a vida. Tudo caiu sobre Jesus. Nosso amado Senhor e Salvador tornou-se simultaneamente maldito e bendito, vivo e morto, padecente e exultante.4 Jesus ocupou o lugar daqueles tiranos e carcereiros que me atormentavam: o pavor do Deus santo, da lei, do pecado, da morte, do inferno. Antes, eu s enxergava o pecado e a severidade de Deus; hoje eu enxergo a graa e a bondade de Deus. Antes, fixava os meus olhos s no alto e sublime trono (Is 6.1); agora fixo os meus olhos na rude cruz e no tmulo vazio. Antes, olhava para dentro de mim e encontrava um homem encurvado ou encarquilhado sobre si mesmo; agora, olho para os cus e vejo o Filho do Homem em p, direita de Deus (At 7.56).

Reprter Essa mudana radical aconteceu de uma hora para outra?

Lutero Foi um processo ora consciente, ora inconsciente. Fui subindo os degraus, um por um, at chegar ao topo, de f em f.

Reprter H mais degraus para subir?

Lutero Quanto ao alvio que a redeno produz, quanto certeza da salvao, quanto ao pavor do pecado e da morte, no h mais degraus para subir. Mas, quanto santidade interior e exterior, quanto mortificao do pecado, quanto s trs virtudes teologais (f, esperana e amor), h muitos degraus pela frente. Neste corpo e neste mundo nunca chegarei ao topo do mais alto monte. Fui justificado e estou sendo santificado, porm ainda no fui glorificado. S com a ressurreio do corpo chegarei ao cume do mais alto monte, e no sozinho, mas na companhia de todos aqueles de cujos ombros Deus tirou, em Cristo, o peso do pecado.

Reprter Se foi um processo, ento o doutor no tem como localizar e datar a experincia redentora...

Lutero Um dos meus alunos da Universidade de Wittenberg, que participava de nossas refeies e conversas mesa, divulgou a informao de que eu teria descoberto a justificao pela f no banheiro, isto , in cloaca. Chegou a fantasiar dizendo que, enquanto eu aliviava o ventre, estaria aliviando tambm a conscincia do pavor do pecado. Usei aqui a expresso in cloaca no sentido folclrico, no jargo dos monastrios, que quer dizer na pior. A verdade que a descoberta da obra vicria de Cristo em sua profundidade ocorreu quando eu estava triste e deprimido.5 Outros tm dito por a que a experincia aconteceu na torre do mosteiro agostiniano em Erfurt. Devemos encerrar de uma vez por todas as diferentes conjecturas. Nada disso importante. Pouco a pouco, na minha cela, na torre do mosteiro, na minha sala de aula em Wittenberg, no meu quarto, na sacristia da Igreja do Castelo ou em minhas andanas de um lugar a outro, a luz do evangelho luziu em meu corao e Cristo foi gerado em mim. Portanto, impossvel datar a bem-aventura da agem do esforo prprio para o esforo do meu graciosssimo Deus, que deu o seu Filho unignito para minha salvao.

Reprter Algum o ajudou a caminhar at o topo?

Lutero Por volta dos meus 22 anos, quando eu era monge em Erfurt, morria de medo de ter esquecido de confessar algum pecado mortal. Ento, algum me recomendou a leitura de um manual escrito pelo telogo francs Joo Grson, morto em 1429. Ali, encontrei que no se deve considerar cada falta da vida monstica como um pecado mortal. Esse e outros livros me fizeram muito bem. Entre os autores que li, cito Agostinho, So Bernardo e Joo Tauler. O j citado vigrio geral da ordem, Joo von Staupitz, mais tarde meu colega em Wittenberg, me ajudou bastante. Ele me aconselhou a no me preocupar com a predestinao, mas a me apegar s feridas de Cristo e colocar Jesus diante dos meus olhos. A facada final da graa, no entanto, aconteceu quando eu li na Epstola aos Romanos que Deus nos aceita pela f, porque, como est escrito, o justo viver por f (Hc 2.4 ; Rm 1.17). Entendi que no haver justia em ns se antes nossa justia prpria no sucumbir e perecer. Cheguei concluso de que no ressurgiremos se antes no morrermos. Para mim ficou claro que quanto mais algum se condenar profundamente e engrandecer seus pecados, tanto mais estar apto para a misericrdia e a graa de Deus.6

Reprter Como o doutor define a justificao pela f?

Lutero Quando Deus nos imputa a justia de Cristo, esta age como um guarda-sol contra o calor da ira divina. A justificao , antes de tudo, o decreto de absolvio que Deus pronuncia sobre ns, declarando--nos justificados, a despeito de nossa pecaminosidade. Digo mais, a justificao no a resposta de Deus nossa justia, mas a amorosa e perdoadora declarao de Deus de que ns, a despeito do nosso pecado, somos agora absolvidos quer dizer, declarados justos.7

_________
Trecho retirado do livro Conversas com Lutero. Trata-se de uma srie de trinta conversas fictcias com o reformador alemo Martinho Lutero (1483-1546). Embora fictcio, todo o texto rigorosamente baseado em fatos histricos.


Notas
1. GREINER, Albert. Lutero. So Leopoldo: Sinodal, 1983. p. 29.
2 LESSA, Vicente Themudo. Lutero. 4 ed. So Paulo: Casa Editora Presbiteriana, 1960. p. 9. 3. Id. Ibid. p. 32.
4. ALTMANN, Walter. Lutero e libertao. So Paulo: tica, 1994. p. 68-69.
5. KITTELSON, James M. The breakthrough. Christian History, Minneapolis, MN,
Estados Unidos, v. XI, n. 2, p. 15, 1992.
6. LIENHARD, Marc. Martin Lutero tempo, vida e mensagem. So Leopoldo: Sinodal,
1998. p. 45-46.
7. GONZALEZ, Justo L. Uma histria do pensamento cristo. So Paulo: Cultura Crist,
2004. v. 3. p. 57.

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