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20 de fevereiro de 2015
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Igrejas e pastores num mundo que no existe mais 25h3f

Um glossrio sobre os modelos mais frequentes, para uma sntese de uma pluralidade inumervel de tendncias eclesisticas nos dias atuais, pode ser til. No Brasil de hoje os valores da religio se confundem com os da sociedade capitalista tradicional. Ocorre, o mesmo, com as igrejas, e com os profissionais dos plpitos? O ponto mais agudo e tenso aquele que, para se cumprirem as clusulas do contrato social com a religio, ite-se uma forma comportamental domada, encilhada e submissa. No h justificativa teolgica que sustente a incapacidade de se ver os sinais dos tempos. Vejamos alguns aspectos ou tendncias nas igrejas e pastores de hoje:
O apologismo reflete a crise de identidade das igrejas. Sem entender a fora da modernidade, a nova moral, as democracias recentes, a tbua de salvao procurada no calvinismo e luteranismo conservadores, principalmente. Faltam referenciais seguros, sociologicamente visveis. O triunfalismo eclesistico pretendido, ingnuo, abstrato, encastela-se nas igrejas mais ricas, enquanto a reao vem das igrejas pobres, entregues em total vulnerabilidade s teologias do movimento pentecostal contemporneo. O pentecostalismo no se ocupa do apologismo, vai direto ao assunto: religio carismtica. Em maioria esmagadora, cuida das razes populares dominantes no Brasil.
Talvez o apologismo seja um modo de atenuar o impacto de uma espcie de outro mundo demarcando a topografia espiritual dos fieis. Igrejas, capelas, oratrios, santurios, templos, centros espritas, terreiros, cemitrios, fazem parte da fronteira em que vivemos, entre um mundo real, concreto, e outro espiritual e abstrato. O apologismo visualiza mundos e culturas ados, enquanto acredita, anacronicamente, combater o cristianismo medieval antes da Reforma. Combate, mas reproduz seus valores conservadores.
O secularismo, porm, pretende que no estejamos mais diante de um universo religioso simblico tomado por foras ocultas, medo e terror atribudos ao sobrenatural. Assim, procura-se oferecer cura da alma e prazer garantidos, sem mistrios na natureza real do problema da vida religiosa em comum. Comunho, coletividade eclesistica e igualitarismo am a ser assuntos proibidos ou desinteressantes. As igrejas comunitrias am a ser lugar de encontros divertidos, ao invs de espao de comunho e reflexo.
Nesse setor, as pessoas desejam ser felizes no amanh, mas hoje, agora, e talvez desde ontem. Para estas, algumas vezes, a sada da religio pela materialidade da vida, exige-se, para satisfaz-las, uma religio e um deus ex machina disponveis para atender prontamente a seus desejos. Pastores secularizados se sentem obrigados a manter um cardpio a la carte para tornar vel a vida do crente secularizado no mundo moderno. Nesse momento, contendo solues prontas para os problemas do cotidiano, nada mais confortante que o consumo do luxo, sem esquecer a sade, ou as clnicas estticas a alto preo, para satisfaz-las.
O cardpio, nesse ponto, se amplia. Adeptos da secularizao eclesistica tambm gostam de falar de moral, embora entupidos pelas drogas farmacolgicas lcitas, e alguma inclinao pela tolerncia das ilcitas. Depois, vm assuntos como cincia, religio, poltica, corrupo; esportes, amor, filhos, sade, dietas, alimentao saudvel, esteira rolante, prstata, eletrocardiograma, mamografia, ultrassom, colonoscopia, medicina de ponta... e mesmo assim chega o dia inevitvel em que se vai depender dos caros planos de sade, sequestrados pela carssima medicina seletiva e privada. Poucas atividades so to transparentes nas injustias e desigualdades na sociedade moderna quanto ao escapismo secularista que toma igrejas e crentes.
O libertarismo jamais pretenderia a sntese das tendncias anteriormente apontadas. Critica, tambm, o vazio das tendncias secularistas, exigentes de pastores psicanalistas e de recursos de autoajuda alimentados nas fraseologias pseudoteolgicas de todos os dias. Como indivduos, o libertarismo se dirige aos considerados descartveis, suprfluos, tidos como no merecedores da repartio dos bens culturais, econmicos e sociais.
Ao mesmo tempo, no pretende perder de vista a converso individual, paradoxalmente coletiva. O libertarismo vai alm, denuncia as estruturas e seus pecados, na sociedade, na poltica, na economia. Indigna-se e aponta as desigualdades. Projetos que aterrem no ambiente coletivo degradado, sob propostas concretas, malgrado as perplexidades do momento, interessam-lhe sobremaneira. Pois identificam e tramitam num caminho onde se apresentam as diferentes imposies das mortes espiritual, social, econmica e cultural.
Como identificava o telogo Agenor Brighenti, sob olhar analtico, podemos observar os vrios estilos e modelos pastorais. Um nmero significativo de padres, pastores e igrejas, adota o modelo dominante, apologtico ou secularizado. Alguns esto comprometidos com vcios burocrticos e assembleias que no decidem sobre as urgncias. Constituem combustvel queimado inutilmente, sem que a organizao eclesistica saia da inrcia. Outros, libertrios, tendem a desprezar a cultura religiosa popular, esquecendo a maioria e acentuando uma teologia radical para a vida em comunho.
Igrejas e pastores encontram-se fechados para a vida moderna, cegos, surdos e mudos aos sinais dos tempos e s prprias interpelaes do Esprito, no mais das vezes. A sociedade humana reclama salvao, no desenvolvimento de aes que revertam em ateno a crianas, aos jovens, aos maduros e aos idosos, cujas vidas esto sob risco permanente de morte: desproteo poltica, violao de direitos humanos, cidadania seletiva ou privilegiada; trabalho, sade, escola e previdncia, negados; violncia contra a mulher, a criana e o idoso.
Hoje, para muitos, pastores e igrejas, todo o multifacetado projeto de modernizao aparece como um equvoco desastroso que seleciona privilgios de pessoas, grupos, sociedades. Ato de arrogncia e maldade csmicas. E, novas figuras surgem agora em novo papel simblico, ocupando espaos de alto luxo, altos salrios, onde as fortunas se representam, cultivando o estmulo inveja e ganncia. Sob presses econmicas do mundo moderno, o impulso de desenvolvimento eclesistico tende a caminhar no sentido de um perptuo crescimento estatstico -- sob parmetros do IBGE, em todos os seus equvocos de mensurao -- sem evangelizao autntica e humanizao da mensagem crist.
O que testemunham? No sentindo que, se no pararem para refletir sobre suas vocaes, aceitando ser o que so na maioria, sem representao, sem relevncia, seremos diminudos quanto ao desafio de seu papel original, transformador da sociedade. Ningum nos perguntar mais, pastores e igrejas, sobre os cristos nos tempos iniciais da igreja: quem so estes que tm transtornado o mundo? Chegaram tambm aqui">A Espiritualidade, o Evangelho e a Igreja
pastor emrito da Igreja Presbiteriana Unida do Brasil e autor de livros como Pedagogia da Ganncia" (2013) e "O Drago que Habita em Ns (2010).
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