Henri Nouwen 3h1n1b

Jorge Camargo


Meu primeiro contato com a obra de Henri Nouwen foi atravs de seu livro "A Volta do Filho Prdigo". Diante da proposta do livro -- tecer uma teia entre o famoso texto do Evangelho de Lucas e a pintura magistral de Rembrandt inspirada no tema --, no foi difcil concluir que se tratava de algum especial, no tanto por suas conquistas acadmicas (holands de origem, experincia nos Estados Unidos como professor em Yale e Harvard), mas por sua profundidade espiritual e viso sensvel e honesta da trajetria humana.

Com Nouwen, entre muitas lies, tenho aprendido a conviver com minhas fraquezas e fragilidades, com meus medos e incapacidades, com minha imensa sede de Deus, semelhante quela descrita por Agostinho na orao que abre a sua autobiografia (alis, a primeira autobiografia de que se tem notcia na histria da literatura mundial), Confisses: "O nosso corao no encontra descanso at que descanse em ti".

O descanso divino para Nouwen no veio por meio de suas conquistas profissionais. Ele terminou seus dias trabalhando em um lar para pessoas com deficincias fsicas e mentais extremas. Vivendo nessa comunidade pequena e frgil, aprendeu a encontrar sentido e propsito para a sua existncia.

Seus muitos livros atestam que ele encontrou o caminho rumo ao que procurava. Revelam sensibilidade, honestidade, profundidade, espiritualidade, valores que nos so to caros e ao mesmo tempo se mostram cada dia mais raros.

Mas parece ser esse mesmo o caminho: para baixo.

"Seja a atitude de vocs a mesma de Cristo Jesus, que, embora sendo Deus, no considerou que o ser igual a Deus era algo a que devia apegar-se; mas esvaziou-se a si mesmo, vindo a ser servo, tornando-se semelhante aos homens. E, sendo encontrado em forma humana, humilhou-se a si mesmo e foi obediente at a morte, e morte de cruz!" (Fp 2.5-8).

Na sociedade da conquista e da escalada social, na rota para cima, o discurso de Nouwen parece se perder no vazio. A fora de sua autenticidade, no entanto, faz com que sua mensagem se torne cada dia mais necessria e relevante.

Impossvel no lembrar o termo cunhado por Eugene Peterson que define o caminho da sanidade nos crculos religiosos cristos, ultimamente to adoentados -- "espiritualidade subversiva".

S algo que seja concebido nas catacumbas romanas de nossa sociedade extremamente consumista e desesperada, e que de maneira sutil brota com indescritvel fora interior, paradoxalmente demonstrada por meio da fraqueza, ser capaz de, como clama Caetano Veloso em sua cano "Podres Poderes", "nos salvar destas trevas e nada mais".


Jorge Camargo, mestre em cincias da religio, intrprete, compositor, msico, poeta e tradutor. www.jorgecamargo.com.br