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24 de abril de 2012
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Girassis 4c50m

Por Silvana Pinheiro

Detenho-me no quadro Os girassis, o mais famoso da srie de Van Gogh. So doze girassis postados em um nico vaso. Algum chamaria de natureza morta. Penso que imagem de vida.

Van Gogh sentia-se atrado pelo Japo e sua cultura. Mudou-se para uma regio ao sul da Frana que mantinha certa semelhana com as paisagens hipnicas, onde pintou esse quadro. A cor amarela, que para os japoneses traz a conotao de amizade e coragem, a que prevalece na tela toda: nfase na luz.

Viajo nessa nesga de interpretao e miro cada um daqueles girassis. Uns eretos; outros pendendo a um lado, a outro. Em uns, as nuances de amarelo beiram ao alaranjado; em outros, o ouro traz os realces, em diferentes tonalidades ureo-iluminadas.

A imaginao vagueia, e aquelas flores diferentes entre si associadas ao nmero doze me reportam a um caso feliz de amizade corajosa: a do Mestre por seus amigos. Feliz porque bem sucedida, medida que foi uma convivncia com diferentes, cada um deles dando a tnica da riqueza de um grupo, que superou as foras da morte e cujas histrias de vida abalaram o mundo conhecido de ento e at o de hoje.

Entre eles, havia os mais achegados, os que partilharam momentos especiais, detalhes de intimidade; e os que o acompanhavam em todas as circunstncias corriqueiras. Uns traziam temperamentos tempestuosos, capazes de rompantes inesperados, at quase hericos; um reclinava-se sobre seu peito e foi chamado de amado; outro comia com ele mesa, mas o traiu com um beijo. Alguns se articulavam a questes polticas, revolucionrias, vislumbrando mudanas sociais grandiosas; outros ainda eram acostumados lida simples e diria de pescadores enredados por barcos e peixes. Mas quase todos desfrutaram e souberam corresponder grandeza de sua amizade. Por isso, impactaram o mundo com uma mensagem incomparvel e permanente.

A imagem do quadro ainda ecoa aos olhos da humanidade. As tentativas de reproduo so inmeras, muitas vezes cpias mal feitas, que no conseguem nem de leve carregar o peso da tinta que o original evidencia. Reprodues so sempre muito aqum da obra, embora tentem se ar por ela.

Na ausncia do original, prefiro as releituras, recriaes tambm originais em um tempo e lugar especfico, mas que carregam a essncia de uma imagem primeira. No reproduzem: apontam, indicam, sugerem, trazem mente de quem aprecia o modelo que as ensejou. Quase no tm sentido prprio: dependem de que os apreciadores se reportem radicalidade de uma arte primordial. So efeitos de uma causa outra.

Reler obras grandiosas assim um desafio, mas que se multipliquem os girassis que remetem imagem produzida pelo grande artista. O mundo precisa manter viva, de muitas formas, a arte de duradoura relevncia.

Imagem: Vincent van Gogh (1888), Doze Girassis numa Jarra | Domnio pblico

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Silvana Pinheiro

Silvana Pinheiro educadora e escritora. Autora do nico livro infantil que a Editora Ultimato j publicou (De Bichos Pequenos e Grandes), e que est esgotado h alguns anos. Escreveu tambm o livro de poemas "Femear", com foco no retrato feminino.

Textos publicados: 7 [ver]

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