Era uma vez em Atenas... No so a verdade e a justia que esto em jogo 3e3g3m

Estamos em Atenas, na segunda metade do sculo 5 a.C. A cidade-estado ainda uma jovem democracia. Depois de uma srie de reformas polticas e istrativas de Clstenes, entre 508 e 506 a.C., incluindo um sistema democrtico de governo, Atenas amadurece com Pricles a sua democracia, em que o cidado nascido, ou de pai nascido em Atenas (excluindo-se mulheres, escravos e estrangeiros), participa das decises da cidade.

Alm de sua organizao istrativa, Atenas est ficando conhecida e ser lembrada pelos intelectuais nascidos aqui e que esto despontando como grandes pensadores. Um dos principais Scrates (469-399 a.C.). Plato nasce no ltimo quarto do sculo (427-347 a.C.). Aristteles, no sculo seguinte (384-322 a.C.). Alguns dos principais pensadores desta poca vivem ou am por aqui. Pensadores que esto trazendo profunda transformao na sociedade e que, acredito, impactaro o mundo com suas ideias.

Alm desses pensadores, esto chegando a Atenas e a outras cidades gregas alguns autodenominados mestres que buscam ensinar jovens da nobreza mediante pagamento de uma taxa, coisa nunca vista antes ensinar em troca de dinheiro! Absurdo! So itinerantes, mas esto ficando famosos e enriquecidos. Chamamos eles de sofistas. Apesar, da derivao e semelhana com a palavra sofia (= sabedoria, conhecimento) e filosofia (= amigo/amante do conhecimento), o que ensinam e como ensinam bem diferente dos outros pensadores. Na realidade, s vezes se confundem com eles, porm, h diferenas significativas.

Alguns cidados, naturalmente, so simpticos aos sofistas. Afinal, em uma democracia, todos tm o direito de opinar, e para isso precisam de conhecimento. Outros, porm, abominam as suas prticas e os consideram uns intelectualides, que no oferecem verdadeiro conhecimento.

Realmente, os sofistas no esto interessados nas questes ltimas da vida, no conhecimento em si, nem mesmo na busca da verdade. Esto interessados em ajudar os jovens a obterem sucesso em uma carreira poltica ensinando, principalmente, a arte da oratria e da retrica. Defendem que a verdade no existe absolutamente, mas um ponto de vista particular que deve ser propagado e, pela persuaso, convencer os outros a aceit-lo como real. No s isso, mas esto interessados apenas naquilo que tem alguma utilidade ou proveito prtico. Nada de grandes reflexes metafsicas. O importante so os resultados que se quer obter.

Eles so to hbeis que conseguem colocar em dvida as convices mais slidas das pessoas levando-as a acreditar nas ideias superficiais, e duvidosas, deles. Espalham argumentos falsos, mas o fazem de forma to convincente que as pessoas am a acreditar no que dizem.

Recentemente entrou em cartaz a pea teatral de Aristfanes, As Nuvens. A trama retrata bem o que est acontecendo. Nela, certo cidado, Estrepsades, proprietrio abastado, se afunda em dvidas e, sem conseguir pag-las, descobre que h um novo jeito de levar os credores na conversa pela persuaso e retrica dos sofistas. Resolve matricular o seu filho na escola de um desses mestres sofistas. Seu filho se nega. Ento, ele mesmo se matricula, mas no consegue acompanhar os estudos, lhe faltam competncias intelectuais. Volta a insistir com o filho, que finalmente consente. L, o filho, Fidpedes, encontra o Argumento Superior debatendo com o Argumento Inferior sobre quem poderia oferecer melhor educao. O Argumento Superior est do lado da Justia e dos deuses, enquanto o Argumento Inferior nega a Justia e oferece uma formao fcil que ensina o indivduo principalmente a se livrar dos problemas pela persuaso. O Argumento Inferior prevalece e se torna o mestre de Fidpedes. Logo ele descobre e se entusiasma com o fato de que os melhores alunos do Argumento Inferior eram os que tinham alcanado as posies de maior poder na poltica de Atenas.

Concludos os estudos, Fidpedes retorna para casa de seu pai. Estrepsades, inicialmente, consegue pela retrica e persuaso ludibriar alguns de seus credores. Porm, se v vtima dessa nova maneira de ser quando surrado pelo prprio filho que se justifica com a mais hbil argumentao do Argumento Inferior de que no fez nada errado.

A prtica e viso desses sofistas esto mudando muitas coisas na sociedade. Alguns esto convencidos que assim que a democracia ateniense ir se manter e se perpetuar. Outros acham que isso est corroendo a democracia. A verdade e a justia esto sendo vencidas pelo Argumento Inferior. Scrates, por exemplo, ser condenado morte em 399 a.C. porque os seus acusadores conseguiro persuadir os tribunais com uma bela retrica sofista de que ele corrompe a juventude e no acredita nos deuses. Afinal, no a verdade ou a justia que esto em jogo. O importante persuadir seus interlocutores que voc pessoa verdadeira e justa e far o melhor em defesa da democracia e dos seus direitos. Desse modo, estamos nos destacamos como excelentes alunos do mestre Inferior.

"Serenidade definida como o estado da pessoa serena, que age de maneira calma e tranquila. Pode ser entendida tambm como a paz da mente, o equilbrio emocional, o estado no perturbado, o domnio de si mesmo. Fria, preocupao, inquietude e agitao so alguns de seus antnimos.

disso que trata a matria de capa da edio de 395 da revista Ultimato. Para , clique aqui.

Cincia e Religio: So Compatveis?, deAlvin Plantinga e Daniel Dennett
O Evangelho Em Uma Sociedade Pluralista, deLesslie Newbigin
A Cincia de Deus, de ALISTER McGRATH
A filosofia afasta as pessoas de Deus? Perguntas e respostas fundamentais sobre filosofia parte 2
O que a filosofia pode oferecer Igreja?