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Discurso Divino - Resenha m5x4g

Por Davi Bastos

Resenha: Discurso Divino - Reflexes filosficas sobre a tese de que Deus fala

Com imensa alegria recebi a incumbncia de resenhar os livros da srie Filosofia e F Crist, da Associao Brasileira de Cristos na Cincia (ABC) e da Editora Ultimato. Devo alert-lo(a), contudo, que, como editor da srie, sou em grande parte responsvel pela seleo dos ttulos, e um tanto imparcial na atribuio de valor a essas obras. Alm disso, j estamos disponibilizando vdeo-resenhas, minicursos, podcasts, lives e guias de estudo sobre os livros. O que eu teria a acrescentar? Optei, portanto, por trazer nessas resenhas um pouco da minha viso como editor da srie e do que eu acho que h de mais valor nesses livros, mas sem deixar de pontuar os problemas de cada um. Digo isso no por um preciosismo de adicionar uma crtica resenha porque sim, mas porque tenho opinies bem informadas sobre o valor de cada livro, assim como sobre o desvalor de certos pontos especficos em cada um.

Como ponto de partida, optei no pelo primeiro livro publicado em portugus, mas por resenhar o livro da srie que mais me impactou at agora: Discurso divino reflexes filosficas sobre a tese de que Deus fala, de Nicholas Wolterstorff. Esse livro renovou a minha percepo da fala de Deus, tendo Deus aberto meus ouvidos para a sua voz por meio das reflexes de Wolterstorff. Coincidentemente, o livro mais antigo da srie na edio anglfona, publicado originalmente em 5 de outubro de 1995, dois meses e uma semana antes do meu nascimento.

A longa espera por uma edio brasileira (quase 28 anos!) se deu no por ser um livro de pouco impacto ou equivocado, mas pelo tamanho da obra (o que encarece muito o projeto de traduo e publicao) e pela relativa complexidade do assunto (que afeta a vendabilidade). Mas no exagero de minha parte afirmar que todo pastor brasileiro deveria ler esse livro (um que leu, inclusive, me relatou ter sido profundamente movido pelo livro). Certamente devemos incluir telogos e filsofos cristos nessa lista e, por que no, grande parte dos professores de escola bblica e missionrios. Mesmo o cristo nefito pode se beneficiar muito da leitura. O que Wolterstorff faz nesse livro impressionante e belssimo.

A questo principal: como Deus, que no tem boca ou corpo (ou, ao menos, no tinha corpo durante grande parte da histria do universo), pode falar? A questo derivada: o que falar? Para responder questo principal apropriadamente, Wolterstorff se volta primeiramente para a questo derivada. Afinal, o que falar? O que so discursos?

A filosofia anglfona foi fortemente marcada no sculo 20 por uma virada lingustica, isto , pela investigao do que a linguagem. E, dentre as diversas teorias da fala que surgiram nesse perodo, Wolterstorff destaca a teoria dos atos de fala, do filsofo de Oxford John Langshaw Austin. Para essa teoria, falar pode ser diversas coisas. A ao de falar , na verdade, uma multiplicidade de aes humanas. Dentre elas esto: asserir, perguntar, responder, ordenar, prometer, nomear, desculpar-se, pedir, reclamar, alertar, convidar, parabenizar e recusar-se citando apenas alguns exemplos. Austin se prope a entender o que so essas aes de fala (aes ilocucionrias) e se elas podem ser organizadas em grupos ou categorias quanto s suas caractersticas constitutivas. Ele tambm criou a nomenclatura de fora ilocucionria para designar a inteno do falante ao falar. Por exemplo, posso dizer vou me casar com a inteno de prometer algo, ou de informar algum, ou com a inteno pura e simplesmente de expressar uma expectativa sobre o futuro, ou de reprovar algum que esteja me provocando dizendo que no irei me casar, de interpretar um personagem em uma pea de teatro etc. Minha inteno (a fora ilocucionria do meu proferimento) muitas vezes determina o tipo de ao que realizo: uma promessa, uma assero etc.



A teoria de Austin defende ento que h um forte elo entre a inteno do autor e o contedo do discurso. Mas isso leva a um problema sobre interpretao. Para saber se algum est prometendo algo, precisaramos, portanto, saber qual a inteno daquela pessoa ao falar. Todavia, intenes so inescrutveis: no temos como ter plena certeza da inteno de algum. Seria, ento, a interpretao de uma sentena impossvel de ser feita corretamente? Ou, ainda, deveramos abrir mo do critrio de conhecer a inteno do autor para compreender seu discurso?

Algumas escolas de pensamento ps-modernas defendem que sim, devemos partir de outros critrios para que algo conte como uma interpretao de um discurso, porque as intenes so inveis a ns. Wolterstorff discorda dessa posio e a critica duramente no livro. Para ele, o que devemos abandonar o requisito de certeza plena da inteno do autor, e no toda busca pela inteno autoral. Ainda que eu no tenha certeza absoluta de que a inteno do meu chefe ao dizer imprima o relatrio com tal tom de voz e em tal contexto era a de ordenar que eu imprimisse o relatrio, tenho um grau de confiabilidade e de certeza altssimo de que essa era a inteno dele ao proferir aquelas palavras. E isso mais do que suficiente na maior parte dos casos para que possamos interpretar a inteno autoral de um discurso.

Para Wolterstorff, ento, falar fazer uma ao ilocucionria, dotada de certa fora ilocucionria. Mas somente a inteno do autor no determina todo tipo de fala. Existem atos de fala especficos que apenas algumas pessoas esto autorizadas a realizar. Por exemplo, apenas uma autoridade legal pode declarar que duas pessoas, a partir de determinado momento, am a ser marido e mulher. Apenas uma autoridade pode determinar qual ser o nome de um navio (o seu dono) ou de uma pessoa (os pais diante do tabelio). Falar, portanto, uma ao que se insere em um contexto de direitos e deveres. Somente quem foi lesado pode perdoar, e somente quem est em plenas condies mentais pode prometer. H, inerente ao discurso, uma normatividade: algo que se deve ou se pode fazer, dada a sua posio normativa no contexto (normalmente contexto social) em que se insere.

Wolterstorff vai alm de Austin e afirma que isso aquilo que define o falar. Falar assumir uma posio normativa, valendo-se de certos direitos e imputando certos deveres. Quem promete possui o direito de faz-lo e atribui a si mesmo o dever de cumprir a promessa, assim como imputa direitos de cobrar o comportamento prometido queles a quem promete. Quem pergunta imputa o dever queles a quem pergunta de que respondam pergunta. Quem assere imputa aos outros o direito de cobrar dele a verdade do que asseriu. E assim por diante. Essa a teoria normativa do discurso de Wolterstorff.

Tal compreenso do discurso abre, portanto, possibilidades de que algum fale em nome de outro. Ao conferir a algum a autoridade e o direito de falar em meu nome, de ser meu embaixador, representante ou procurador, o que aquela pessoa falar em meu nome pode e deve ser atribudo a mim. O meu discurso pode ser enunciado por outras pessoas.

Podemos falar por meio de proferimentos de outros tambm por apropriao. Podemos nos apropriar de textos ou palavras de outras pessoas de modo que o discurso de outra pessoa se torna o nosso discurso. Posso, por exemplo, adicionar uma frase de Agostinho em uma carta de minha autoria como se eu estivesse falando aquela frase naquele momento.

Mas o discurso tambm pode ocorrer sem palavras. Um aceno de mo pode ser um veculo de discurso, assim como um desenho detalhado de uma ave em um manual de ornitologia. Smbolos, gestos, sinais, cdigos existem muitas formas de falar.

E, diante dessa compreenso de discurso, podemos nos deparar com um Deus que fala. Deus pode asserir, perguntar, prometer, e pode fazer isso de diversas maneiras. Por meio de uma sara ardente, de sonhos, vises e aparies, doenas, guerras, desastres naturais assim como por meio de mensageiros, anjos e profetas, incumbidos de falar algo que Deus disse ou delegados para falar em nome de Deus. Certamente Deus tambm pode produzir sons e palavras mesmo sem ter um corpo mas essa no a nica forma pela qual ele pode falar.

Deus tambm pode se apropriar de discursos de outrem. Wolterstorff defende a inspirao do Esprito Santo na escrita da Bblia Sagrada, mas tambm defende que Deus pode se apropriar de discursos de outras pessoas para falar. Assim, o discurso do salmista pode ser tanto inspirado por Deus para revelar certas verdades, como apropriado por Deus para expressar outras verdades.

Alm disso, Deus pode se apropriar de seu prprio discurso algo que ocorre no caso paradigmtico analisado por Wolterstorff, em que Agostinho l um trecho das Escrituras e entende que Deus est falando aquelas palavras com ele naquele momento. No apenas Deus disse aquelas palavras por intermdio do autor bblico no ado, mas, muito tempo depois, Deus se apropria do mesmo discurso para falar com Agostinho.

E, para mim, essa a maior riqueza deste livro. No a apologia da inteno autoral contra o ps-modernismo (que excelente). No o mapa conceitual de tipos de revelao e tipos de discurso (fantstico!). No sua teoria da interpretao em duas hermenuticas (muito sagaz). A maior riqueza do livro est em defender que Deus fala ainda hoje, de diversas maneiras. Por meio da natureza, da beleza e do prazer, Deus fala. Por meio da dor, Deus fala. Por meio de canes e histrias, Deus fala. Por meio de conselhos e oestaes, Deus fala. Por meio de sonhos e convices, Deus fala. Por meio de sua Palavra, Deus fala (e no apenas falou, mas continua falando). Deus um Deus presente hoje, em nosso dia a dia, e que fala conosco hoje. Essa simples convico parece ser corroda pelo naturalismo contemporneo, ou pelo medo de confundir a voz de Deus com vozes humanas ou demonacas, ou mesmo pelo pecado que nubla nossa mente. Mas Wolterstorff nos mostra que podemos e devemos, enquanto cristos, ter convico de que Deus fala hoje e de que precisamos estar atentos sua voz.

Talvez voc no tenha essa dificuldade. Talvez, ao ler sua Bblia em seu momento devocional, voc esteja convicto(a) de que Deus est falando com voc naquele instante. Mas muitos de ns, especialmente de crculos teolgicos mais temerosos de heresias, temos lido a Bblia buscando apenas entender o que Deus disse no ado por meio dela ou o que os autores humanos estavam pensando quando escreveram tais textos. E, por mais que sejam atividades importantssimas, Satans se regozija quando deixamos de procurar ouvir a voz de Deus hoje, em nosso dia a dia.

Mas aqui cabe a crtica. Na verdade, uma observao acompanhada de um leve alerta. conhecimento comum de que, j idoso, Wolterstorff manifestou-se publicamente em favor da viso heterodoxa de que a prtica homoafetiva no uma desordem da queda, mas parte da criao original de Deus, uma manifestao pura e legtima de amor que a igreja deve permitir, inclusive realizando casamentos entre pessoas do mesmo sexo biolgico. E, ao ler Discurso Divino, no difcil ver como a sua hermenutica poderia abrir espao para isso. Talvez isso seja suficiente, para muitos, para que sua viso sobre a fala divina e a interpretao bblica sejam desconsideradas e acusadas de hereges ou ao menos de perigosas. Uma reao forte, mas, at certo ponto, natural. Eu (e muitos outros), contudo, continuo recomendando fortemente a sua obra. Por mais que se possa argumentar em favor de interpretaes no ortodoxas a partir da hermenutica de Discurso Divino, isso no de forma alguma uma implicao ou um pressuposto da hermenutica ali apresentada. E digo mais: as riquezas expostas nesse livro no podem (do ponto de vista argumentativo) e no devem (do ponto de vista pragmtico guiado pela preocupao com a edificao da Igreja) ser desconsideradas simplesmente por uma postura polmica tardia de seu autor. Ainda assim, cabe ao leitor ateno e cuidado, para que, ao buscar ouvir a voz de Deus, no se deixe confundir por outras vozes. As muitas maneiras do discurso divino no eliminam e no podem contradizer as maneiras convencionais a interpretao ortodoxa das Escrituras permanece fundamental para ouvir a voz de Deus.

No tenho espao para expor todas as riquezas do livro de Wolterstorff e reitero que todos se beneficiaro de l-lo , mas espero ter contribudo para que possamos procurar ativamente o discurso divino em nosso viver. Que o Santo Esprito nos habilite para ouvirmos a Sua voz, e que Seu discurso, mesmo quando sem palavras (Sl 19.3-4), nos transforme semelhana de Cristo, nosso Senhor.
REVISTA ULTIMATO | OS DESAFIOS TICOS DAS NOVAS TECNOLOGIAS
O avano da tecnologia nas ltimas dcadas maior do que em qualquer outra poca da histria. Tal aumento se d em muitas frentes e, mais significativo, confere um carter tecnolgico vida contempornea.

Quais so os desafios trazidos por esse avano? A tica crist suficiente para responder aos aspectos relacionados s novas tecnologias? Como a igreja pode atuar nesse cenrio to desafiador?

disso que trata a matria de capa da
edio 407da revista Ultimato. Para , cliqueaqui.

Saiba mais:
O discurso divino e a voz da igreja, por Nicholas Wolterstorff
Deus realmente fala com o seu povo?, por Aleff Oliveira
Davi Bastos casado com Samara e pai de Moiss, Anastcia (in memoriam) e Irene. editor da srie de livros Filosofia e F Crist (Editora Ultimato) e doutorando em filosofia na Unicamp.
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